O título do filme em português é vago e inexpressivo. Em inglês, Personal Effects se refere aos efeitos devastadores, de tragédias que se abateram sobre muitas famílias, em uma cidade norte-americana. Em vista disso os envolvidos se encontram reunidos em grupos de apoio, enquanto aguardam os julgamentos dos casos que envolvem os crimes contra seus parentes.
As famílias aguardam respostas em salas de espera. O filme fala do tempo que se passa esperando parentes que não voltam mais. De repente, a espera pelo desfecho de um julgamento poderá parecer excessiva e insuficiente. Os familiares poderão se transformar em elementos ativos, que participarão da história. A vida nesse compasso de espera pode ser tão insuportável quanto entrar num avião errado e parar num país errado. Esse é o mote do diretor David Hollander, que usa o ator Spencer Hudson (Clay) como o elo que une os diversos momentos do filme.
Clay é um adolescente surdo e mudo, filho de Linda (Michelle Pfeiffer). O jovem parece ser autista. Seu pai foi assassinado, e Clay transformou-se em um jovem rebelde. Ashton Kutsher é Walter, o jovem de vinte e quatro anos que vem de Iowa, após a morte de sua irmã, para dar apoio à mãe (Kate Bates) e à sobrinha, uma menina de cinco anos.
A cena em que Linda conversa com Clay através do balcão envidraçado da prisão, une os elementos do filme. O jovem escreve que é como os peixinhos dourados que vivem em um aquário, e somente podem ser vistos através do vidro. Clay não ouve e não consegue se comunicar com os outros. Fala somente com a mãe.
O jovem Walter é problemático. Em sua sala de musculação escreveu para não esquecer: sem arrependimento, sem remorso e sem piedade. Assim ele caracteriza o assassino de sua irmã Anie, encontrada nua, boiando à beira do rio.
Em Iowa, pelo menos, Walter tinha objetivos na vida, treinava para o campeonato de luta livre. Agora tinha perdido seus sonhos, não sabia o que fazer de si. Como ele mesmo dizia, era um frango amarelo, alto e magro. Um frango que não conseguia esconder sua tristeza. Walter fazia propaganda de uma loja que vendia hamburgers de frango.
Linda e Walter se encontram no grupo de apoio. Cada um deve falar das coisas mais difíceis e doloridas. Walter está sempre muito tenso e em silêncio. Sempre que um deles consegue dizer alguma coisa o animador do grupo fala good stuff. E argumenta que independente do resultado do julgamento eles poderão continuar achando que não foi feita justiça.
Linda e Walter se envolvem, assim muito devagar e com muita sutileza. A relação dos dois é delicada. Michele Pfeiffer é uma mulher belíssima. Não importa a idade. Para caracterizar o personagem, sua roupa e seus sapatos de plataforma são tristes. Bem como seu cabelo, que é comprido e murcho. Mas o olhar dela é vivo e perspicaz. A cena que mostra os amassos entre o casal é a mais bonita do filme. Sempre achei muito atraente a estética e o encontro do masculino e do feminino, do homem e da mulher. Tipo assim, feitos um para o outro, com encaixes perfeitos. A mão dele, muito grande, abraça, cobre a cintura e parte do seio de Linda. Walter passa a mão por baixo, levanta o vestido fininho da atriz e ela se pendura nele. Linda é leve, graciosa e pequena, enquanto ele é um homem grandão e másculo.
Quando os dois se amam, o depois, a felicidade do personagem é mostrada o por David Hollander em um close, que parte do enorme olho castanho de Walter. Ele era um cara tenso, que não baixava a guarda, nem na festa de casamento a que fora convidado. Queria dançar com Linda, mas não conseguia. Se via dançando, mas ficava parado, imóvel.
Mas esse acerto na cama não reduzia os problemas do personagem, que não superava sua raiva, nem os de Clay. Walter vivia de cara amarrada, com uma cara de susto com os absurdos, que via e não queria acreditar. Como por exemplo, se o assassino de sua irmã você julgado inocente.
Em cenas silenciosas, a vida continua, o tempo passa e o espectador houve o fundo musical de Clay. Walter observa o jovem ser atacado por um grupo de vândalos. Clay descontrolado aponta com uma arma para seus inimigos. Não será a primeira vez.
Walter funciona como um pai substituto. Leva Clay para o treinamento de luta livre. Assim a raiva do menino irá se aplacar um pouco. Como se sabe muito exercício relaxa, e melhora a auto-estima. E é disso que precisamos, com certeza.
A cena em que os dois treinam é como uma dança. Walter tal qual um professor de dança, ensina seus passos e seus segredos a Clay. Eles dançam uma espécie de balé, ensaiando os ganchos da luta. O menino tem dificuldades, não se entrega de todo. Isso tem seus significados.
E, é Clay que tudo vê quando Walter faz suas besteiras. O menino o idolatra, apesar de Walter não conseguir entender quando Clay diz que o ama como a um pai. Esses desencontros, frutos da falta de confiança em si próprios e nos outros fazem com que os dois personagens se percam.
Glória a mãe de Anie e Walter, apesar de todo o sofrimento supera seus problemas, ri e chora ao mesmo tempo, livre do ódio. Walter e Clay ainda deverão crescer para superar seus medos e seus temores.
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