segunda-feira, 25 de maio de 2009

SIMPLESMENTE FELIZ

Sally Hawkins ganhou o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim 2008 por sua atuação em Simplesmente Feliz. O diretor Mike Leigh é responsável por filmes como Segredos e Mentiras e Vera Drake.

Simplesmente Feliz conta a história de Poppy, uma professora que está “sempre feliz”, sempre rindo e encarando tudo pelo lado positivo. Será? Recebeu uma indicação ao Oscar. Poppy (Sally Hawkins) é a professora que trabalha em uma escola primária em Londres. O espectador se pergunta as razões que levaram o diretor a contar a história da professorinha. Para mostrar que existem pessoas que usam o otimismo como forma de viver, para viver melhor? Para enfrentar melhor os problemas do dia a dia?

Pensando bem, acho que não. Poppy tinha 30 anos, por sua maneira de agir parecia ter bem menos. A professora há 10 anos dividia o apartamento com sua amiga Zoe (Mike Alexis Zegerman). Dez anos é muito tempo para alguém viver uma primeira fase de sua vida. Entre os 20-30 as jovens em geral terminam seus estudos de graduação, procuram uma colocação no mercado trabalho, conseguem o famoso emprego e tentam resolver suas vidas. Quando dividem o apartamento com amigas vivem uma situação provisória, não ficam 10 anos na mesma situação. Acho que isso dá um indicativo da personalidade da professora, que não conseguia esconder os seus problemas.

O visual de Poppy, de sua irmã e da amiga era engraçado. A explicação talvez esteja no fato de serem londrinas. O gosto, a moda, a maneira de falar - carregando no sotaque afetado do inglês londrino - era compreensível, mas não era simpático. A moda de Poppy era exótica. Não era bonita, ficava engraçadinha, com as botas de cano alto, as meias de arrastão, com bordados e os vestidinhos cafonas. Nada combinava com nada, ela misturava flores verdes com vermelho, estampado com estampado, vestidinhos esvoaçantes com casacões largos, bermudas com blusões enormes e listrados.

Em determinado momento Poppy usa um vestidinho branco com pequenas flores estampadas, e debruns vermelhos. Muito feio mesmo, lembrava um “chambre”, ou um “robe de chambre”, logo eu que nunca gostei de “chambres”. “’Chambre” é uma francesice que minha mãe usava, queria dizer roupão.

Mike Leigh deveria querer caracterizar a personagem. Acho que tem tudo a ver com cultura e moda na Inglaterra. Outro detalhe que chama muito a atenção são os closes. O filme é feito de closes. A pele, a boca, o sorriso dos personagens, o cabelo, tudo é mostrado de uma forma tão próxima e natural como um cinema verdade. A explicação pode estar no baixo orçamento que o diretor dispunha. É possível ver em detalhe, o brilho, a cor dos olhos do namorado de Poppy, um azul esverdeado e brilhante. Parece que ninguém usava maquilagem. Se a gengiva da personagem poderia subir um pouco no futuro, se seus dentes eram desalinhados tudo estava escancarado para a platéia. A pele de Poppy era muito branca, ela era magrinha e desajeitada, mas conseguiu a simpatia do público.

Poppy está sempre rindo e fazendo piadinhas. Eu não diria que ela é uma otimista incorrigível. Era muito solta e leve, ninguém é assim! A maneira de relacionar-se com todos se baseava na brincadeira e na aparente falta de modos. Ela sempre estava rindo de si mesma e dos outros. A mim pareceu que esse tipo de comportamento era uma forma de se defender, de não revelar quem ela era verdadeiramente. E de conseguir levar a vida adiante.

Mas uma coisa deve ser dita, em sua profissão ela era séria e competente. Poppy amava seus alunos e os protegia. E isso é muito na vida de uma pessoa. De resto não conseguia expressar-se, nem demonstrar aos outros seu verdadeiro eu. Não sabia o que queria da vida.

O espectador sente que Poppy não está satisfeita, quer aventura e se arrisca. Porque Poppy sai a caminhar sozinha pelas ruas de Londres? Porque se mete em becos escuros? Porque fica dando confiança para um morador de rua bastante desmiolado e louquinho? Seria esquizofrenia o que ele tinha? Ela fica paradinha, fica muito perto do homem mal encarado. Um invade a área de privacidade do outro. Mas o mendigo não era seu namorado. Isso não deveria acontecer. Poppy sentia-se atraída por ele? Ou era que nem a Viridiana do Buñuel, que se sentia tão inferior, que para ela somente sobravam os mendigos? A interpretação é livre para cada um de nós.

O relacionamento com o professor Scott (Eddie Marsan) da autoescola chegou a ser hilário. Mike Leigh continua nos closets, e vemos o professor de cabelo muito cortado, com um brinquinho que depunha contra ele (será preconceito meu?) e os dentes! Alguém observou os dentes? No início não acreditei, um professor, em um país de primeiro mundo, com os dentes da frente cariados? Bem, nem tanto, os dentes eram muito manchados e ficavam para trás. A cor era entre amarelo e marron. Ele era muito descontrolado e babava de fúria. Scott dizia impropérios, e Poppy agüentava, aceitava e tentava tirar alguma coisa para rir daquela loucura. Poppy era destratada pelo professor. Mas não devemos aceitar que ninguém nos trate mal. Ninguém tem o direto de fazer isso. Muito menos um desequilibrado professor de autoescola! Porque Poppy aceitava a situação? Ela queria ser maltratada?

Finalmente constatamos que Scott não entendeu nada. Em sua cabecinha perturbada apaixonou-se por Poppy. Pensou que ela zombava dele, que se insinuava com sensualidade e que depois ía encontrar o namorado! Finalmente Poppy toma uma decisão louvável e acaba com aquelas aulas de autoescola.
E assim continua a vida de nossa heroína.

Na vida de Poppy vemos um episódio feliz, ela transa com o sociólogo grandão e de olhos muito claros (Samuel Roukin). É um bom sinal, encontrar o amor e um final feliz é maravilhoso. Poppy brinca ao tirar a camisa do moço. Os dois se escondem sob a camisa, é divertido. Será que esse relacionamento vingará? Tudo é uma incógnita na vida de Poppy e continuará sendo....

Um comentário:

  1. Doris, vi este filme e também fiquei pensando na escolha de Poppy, de encarar a vida sempre pelo lado positivo. Ela não era boba, apenas reagia às coisas do jeito dela. Mesmo assim era meio desconcertante.

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