domingo, 15 de novembro de 2009

UM NAMORADO PARA MINHA ESPOSA

Um namorado para minha esposa é um delicioso filme argentino muito divertido. Nada como já ter passado pelas vicissitudes da vida a dois para depois rir muito daquilo tudo. Ou ainda quem sabe, estar vivenciando o problema, e rir de si mesmo. É bom e nos deixa mais leves. Olhe que não é fácil a vida a dois. Meu Deus pode ser um problemão. O filme argentino é uma comédia séria sobre o tema, o humor é sutil e inteligente. Juan Taratuto revela-se um diretor perspicaz e criativo.

Os atores estão impecáveis. Tenso (Adrián Suar) e Tana (Valeria Bertuccelli) formam a dupla em plena crise conjugal. Tana não procura um sentido para sua vida. Ela literalmente não faz nada, além de reclamar de tudo. Nada está bem ou está bom para ela. Tana também não coloca metas em sua vida e muito menos enfrenta o menor desafio. Existem muitas pessoas como Tana. Elas têm depressão, só que não sabem e não admitem. Por isso mesmo são tão mal humoradas. Tenso era a parede que recebia todas as boladas do jogo de Tana e ele, Tenso vivia mesmo na maior tensão. Não agüentava mais.

Um namorado para minha esposa revela a face machista dos argentinos e poderia muito bem ser a dos brasileiros. Os homens sempre se encontram para o joguinho de fim de semana, acho que era futebol de salão. Para mim não tem coisa mais idiota e machista que esses joguinhos de fim de semana. Os caras com aquelas enormes barrigas de chope, tentando correr atrás da bola. Ridículo! E as meninas de fora! Ali impera a velha solidariedade masculina. Segredos, aventuras e desventuras são reveladas. Tudo sob o olhar complacente dos amigos. As mulheres – na acepção do grupinho – sempre ou são as culpadas ou as vadias. Foi num desses encontros no “Clube do Bolinha” que os amigos de Tenso sugeriram que ele procurasse um namorado para sua esposa, para forçá-la a acabar com o casamento. O personagem de Cuervo Flores (Gabriel Goity) surge como a solução para todos os problemas de Tenso.

A história, tudo é muito engraçado e contado com um humor de fina qualidade, apesar dos personagens estarem a toda hora falando os maiores impropérios e palavrões em “espanhol”, claro! Por recato e bom senso não vou escrever o primeiro que lembrei. Assistam ao filme! He! He! He!

Tana, apesar de todo o seu mau humor é a personagem forte. No programa de rádio, ela – que reclamava da vida, dos amigos, do governo, dos vizinhos – faz o que sempre foi capaz de fazer, em alto e bom som, criticar tudo e todos. E pior, a visão de Tana era a mais honesta e verdadeira, apesar de corrosiva. Só que ela tinha a coragem de dizer e falar o que pensava. E nisso, tornava-se grosseira e mal educada. Para viver em sociedade precisamos adotar determinados papéis, e nem sempre é o mais adequado dizer tudo o que pensamos... É certo que as pessoas precisam saber o que nós pensamos. Mas é preciso ser educado em primeiro lugar, e não deixar a raiva à solta. O ódio e a frustração de Tana estavam à flor da pele. Ela não se controlava e agia como uma patrola. Tana nem se tocava, agia como um trator perante os amigos do marido.

E Tenso, oh! Tenso era exatamente o contrário daquilo que alguém pode pensar como “o marido corajoso”. Não tinha coragem sequer para falar cara a cara com sua mulher. Não conseguia enfrentá-la e olhar dentro de seus olhos. Os amigos aconselhavam: fala de costas. Não olha para ela! Imagine só! Se muitos pais não têm coragem de falar com seus filhos sem uma parede entre ambos. Imagine! O que pode fazer um marido fraco? Tenso consegue revelar o pior de si mesmo quando paga o salário da mulher (sem ela saber), para que ela seja aceita em um programa de rádio. E ainda contrata o sedutor Cuervo Flores, um velho galanteador, que estava no bagaço mesmo, um lixo na melhor acepção da palavra, para conquistar sua mulher. E por isso o filme fica tão divertido.

Um namorado para minha esposa esquenta quando Cuervo Flores entra em cena. Não conseguimos mais controlar o riso e o espanto! Cuervo se comporta como um verdadeiro especialista em matéria de sedução e conquista. É tão idiota e trapalhão quanto Vitorio Gassman, em “O incrível exército de Brancaleone”, de Mário Monicelli. Gassman estava impagável e Gabriel Goity é tão divertido quanto ele! Graças a Cuervo, Tenso faz a grande descoberta de sua vida!

Assim, Tana dá a volta por cima, revela o seu feminismo e seu verdadeiro eu, quando o casal faz uma sessão de terapia com a psicóloga. A separação está decidida, os dois precisam aguardar duas horas para o juiz efetivar o divórcio. Vão fazer um lanche em uma mesa de bar. Tana divide o sanduíche em duas partes, estende a mão, e oferece metade a Tenso.

O que você acha que poderá acontecer? Não deixe de divertir-se com esta sátira sobre os relacionamentos conjugais.

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