quinta-feira, 8 de abril de 2010

Chico Xavier

Chico Xavier não é um filme especificamente para espiritualistas. Você não sairá comprometido com o espiritismo ao assisti-lo. É isso que você teme? Daniel Filho faz um filme sobre o Brasil, Chico Xavier é a cara do Brasil. Os céticos dizem: -"Hah não! isso eu não vejo, não me interessa". Talvez não digam, mas pensam: - "É coisa menor, é coisa para crentes ou povão. Eu sou intelectual, não vou nessa".
Acho que esse preconceito limita as possibilidades de felicidade. As pessoas que pensam dessa maneira, não se permitem aprender coisas novas, ser tolerantes e muito menos felizes. É mais ou menos como ser arquiteto e achar que todo mundo tem obrigação de gostar do minimalismo e do "menos é mais" na arquitetura - só gostar daquilo que vemos em livros e revistas - esquecendo que somos mesmo brega e kitsch, e que esse brega e kitsch é a nossa verdadeira riqueza. Daniel Filho, em cenas pretensamente dramáticas, mostra a cafonice deste Brasil, meu, teu, seu e de todos nós. O diretor acerta quando mostra como "certos milagres" atraem filas e filas de crentes. A casa do medium passa a ser um mercado, vendedores, gritos, choros, rezas, e mulheres enlouquecidas gritando, incorporando algum espírito! Esse é o clima na vida de Chico Xavier. Onde ele anda, atraí multidões com suas crenças.
O olhar de Daniel Filho sobre o Brasil lembra o filme de Glauber Rocha, "Terra em transe". Melhor ainda, lembra o enterro do próprio Glauber, a gritaria, os desmaios a choradeira. Daniel Filho capta com perspicácia, a alma e o espírito do brasileiro, para não dizer do "povo brasileiro" (parece demagógico).
A mim impressiona uma coisa, Chico é uma pessoa do bem, concordemos ou não com suas idéias e com a forma como decide viver. Você conhece ou conheceu em sua vida alguém assim, que tem parte com Deus, meio santo? Pessoa boa mesmo, de verdade? A única que conheço, que possui esse dom, em vida - pelo menos- é a Enedina, amiga de minha mãe. Refiro-me à força interior, que nos torna mais forte e de espírito inabalável, embora o corpo vá se tornando fraquinho. Chico é assim.
O medium é inquebrantável em suas crenças religiosas. Não aceita provocações de forma alguma. É provocado pelo padre Julio Maria (Cassio Gabus Mendes), quando vai ao enterro de seu grande amigo, o padre que o abençoara e apoiara na infância. Chico diz apenas que foi ver seu grande amigo e despede-se do morto com um beijo. Essa e outras cenas são belíssimas e emocionantes.
Outras nos fazem rir, como quando ele diz ao amigo que bata nele, se incorporar, quando tenta apaziguar as mulheres ensandecidas, que se agarram umas às outras. No meio da reza, o amigo bate com o livro na cabeça de Chico Xavier. A cena é muito engraçada, me vi rindo sozinha no cinema.
O humor de Chico Xavier, capaz de rir de si mesmo, junto com seu mentor (um ser que só ele enxergava) é outra das cenas mais engraçadas. Chico está num voô, quando o avião começa a tremer. Todos gritam e choram, ele entra em pânico e grita muito. Sua visão lhe diz que muitas pessoas estão em perigo, que eles não os únicos, portanto, devem se conter e comportar-se. Mas Chico não lhe dá a mínima e continua a gritar e a chorar.
Outra cena divertida é a da peruca. Por alguma razão de vaidade, quem sabe? Chico resolve usar uma peruca, quando Cleide (Rosi Campos), a mulher que o acompanha, vai comentar alguma coisa sobre o penteado, quem sabe dizer como ficou horroroso! Ele afirma: - "Cale-se, não diga nada ", e sai rindo de si mesmo! E continua lépido e faceiro a usar a peruca tenebrosa!
Os atores  Ângelo Antonio, fazendo o jovem Chico Xavier e Nelson Xavier fazendo Chico, na maturidade,estão ótimos. Como sempre, parecem melhor que o próprio. No final, quando passam os créditos, o verdadeiro Chico Xavier conta suas histórias, parece bem mais feio e gay . Se era homossexual, esse aspecto não foi mencionado em seu filme biografia. A não ser a noite em que seu pai o levou ao bordel para perder a virgindade, Chico termina rezando com todas as prostitutas, hi, hi, hi.
Daniel Filho mostra os percalços do medium. Chico é acusado de mistificador, na revista na Manchete. Sua imagem é usada pelos meios de comunicação para atingir altos níveis de audiência. Se Chico é usado pela mídia, o feitiço termina virando contra o feiticeiro. No programa, o camera men, de incrédulo passa a envolver-se com o espitirismo. O diretor do programa (Tony Ramos ) afirma que é ateu, que não acredita em nada daquilo. Mas termina usando uma carta psicografada por Chico no julgamento do suposto assassino de seu filho. Ironias do destino, milagres de Chico Xavier, acredite se quiser...
Finalmente achei genial em Chico, no início do filme quando ele agradece a Deus e quando fala com seus espíritos. Muitos de nós também fazemos isso, também agradecemos a Deus quando conseguimos chegar à noite em casa, sãos e salvos. Ufa, graças a Deus, mais um dia! Ou ainda, quando agradecemos e invocamos nossos espíritos à nossa maneira, com o mantra que inventamos. Acho que estamos no caminho certo.

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