domingo, 18 de abril de 2010

Vidas que se cruzam (The Burning Plain)

Guillermo Arriaga, o diretor, é mexicano e fez "Babel", "21 Gramas" e "Amores Brutos" em parceria com Alexandro González -Iñárritu. Existem semelhanças entre "Vidas que se cruzam" e "Babel". O tom dourado da fotografia, por exemplo, o sofrimento e a desgraça que se abatem sobre os personagens. Se o filme foi realizado na fronteira entre o México e os Estados Unidos, deveria ter muita luz, o México é um país iluminado. Ao contrário, para simbolizar as vidas sofridas que se cruzam, iluminação solar é a última coisa em que o diretor deve ter pensado. A fotografia destaca os personagens, iluminados contra um fundo de cores escuras e carregada. A iluminação crepuscular doura o rosto de jovens e adultos.

Arriaga mostra vidas que se cruzam, a mãe, Gina, interpretada por Kim Bassinger, a filha, Mariana; a menina Maria, cujo pai aviador sofre um acidente e Sylvia, interpretada por Charlize Theron. Como em "Babel" nada dá certo, as fatalidades vão acontecendo, somadas ao ódio que toma conta de alguns personagens.

A narrativa de Arriaga não é linear. As cenas são montadas em sequência, mostrando os personagens em tempos diferentes. O presente é apresentado, enquanto as cenas do passado aos poucos são inseridas, explicando e surpreendendo o espectador.

Gina (Kim Bassinger) é uma mulher madura, com marido e filhos adolescentes. Apaixona-se por outro homem (Joaquim de Almeida). Como o tempo passou e não notamos? Lembro de Kim Bassinger, estonteante, jovem e bonita. Está uma senhora, muito magra, com vestido comprido e um grosso casaco de lã, que a envelhece. O casal vive um amor proibido em um trailer abandonado, na estrada entre uma cidade e outra. A traição da mãe é descoberta pela filha. Assim a trama se desenrola nos diferentes tempos, para o espectador unir os fios no final.
Em paralelo vemos Sylvia (Charlize Theron) , uma chef de cozinha - que teria tudo para ser feliz - mas ao contrarário é uma mulher tensa, extremamente infeliz e incapaz de suportar a vida em qualquer tempo. Irremediavelmente está no limite do caos interior. O que uniria todos os personagens?

Em paralelo vemos a jovem Mariana após o terrível acidente que explode o trailer, queimando vivos, mãe e amante. A cena do incêndio foi inspirada por um acontecimento semelhante, na vida do diretor. Mariana é procurada por Santiago, filho do amante de sua mãe. Porque Arriaga mostra os dois jovens divertindo-se e matando pássaros com um bogoque? Seria a antecipação e a simbolização da capacidade de vincular-se ao mal?

Maria, a menina - filha do aviador - é a personagem pura e forte. Vê o avião de seu pai espatifar-se na plantação. A pureza e o encanto de Maria são o que existe de mais belo no filme. Charlize Theron, como sempre emociona, consumida pela dor e angústia. Maria busca a mãe que a abandonou. Mariana, no passado ao descobrir a traição da mãe, pretende puní-la. O título do filme antecipa o plano.

Assim o diretor apresenta a trama ao espectador. No final não existe redenção, haverá perdão? Existe a menor possibilidade de reconstruir uma vida em cima do crime e do abandono? Assista a esse misterioso filme e retire suas conclusões. Para mim não existe. Os criminosos são como Judas, não terão paz, jamais. Alguém os perdoará?


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