terça-feira, 27 de abril de 2010

Mary & Max

Mary & Max infelizmente não atrai público. Todos correm para assistir "Alice no País das Maravilhas". Prefiro as salas de cinema mais vazias. Troco de lugar quando ouço o ruído de pipocas estalando nos dentes dos vizinhos de poltrona. Fazem mais barulho para comer do que minha cachorra Lana. Assim, para mim a sala vazia estava boa.

A animação de Adam Elliot é lenta, torna-se difícil de assistir, mesmo com as vozes de famosos como Philip Seymour Hoffman, Toni Collette e Eric Bana. A caracterização dos personagens é excelente, há uma grande criatividade no visual da mãe, de Max, de Damien, o vizinho grego ou na caracterização do espaço urbano da vizinhança. As cenas estáticas, no entanto exigem paciência do observador, habituado a outras formas de linguagem.

Mary Daisy Dinkle é uma menina de oito anos com muitos problemas. A mãe é alcoólatra e o pai vive na varanda empalhando animais. Mary descobre uma forma de comunicar-se com o mundo e tornar-se menos solitária. Como os semelhantes se aproximam, a menina encontra em Max Horovitz, um homem mais velho de 44 anos, o amigo ideal para trocar impressões sobre a vida. Os dois trocam cartas. Mary escolhe justamente uma das pessoas mais abandonadas deste mundo. Seu amigo é doente e autista, vive sozinho e não fala com ninguém. Assim, os problemas e a solidão de ambos não diminuem, só aumentam. Se Mary não pode contar com mãe e pai, muito menos com Max. Apesar de tudo, poder falar de suas coisas, ter um interlocutor é um grande começo, para Mary, é claro. A garota tem condições de crescer e amadurecer, ao contrário de Max.

Damien, o vizinho grego faz o coração da garota balançar. Cresce a paixão pelo garoto. Mary não consegue ver mais nada. Nas cartas, coloca suas dúvidas para Max. Escreve sobre tudo o que a perturba em relação ao sexo, sobre sua paixão e sobre suas dúvidas. Está quase deixando de acreditar que bebês nascem no fundo de copos de cerveja, colocados ali pelos pais. Max lê as dúvidas e anseios de Mary. Não suporta aquilo tudo! É demais! Tem uma crise de pânico. Logo ele que nunca na vida tinha pensado em sexo! A única maneira do pobre Max lidar com o problema é "comer". Empanturra-se de comida tentando acalmar-se. Logo o problemático Max que tem a Síndrome de Asperger...

Mary é uma menina cega, que não quer ver. Não percebe que escolheu um menino gay por marido. Afinal ninguém torna-se gay de uma hora para outra. Damien descobre seu verdadeiro amor e vai viver sua felicidade em uma fazenda na Austrália. O casamento tinha feito bem à Mary, sua auto estima estava em alta. Dedicou-se aos estudos e escreveu um livro sobre a doença de Max. Maldita a hora em que resolveu contar tudo ao amigo! Max não entendeu nada. Sua crise atingiu o limite do suportável. Teve que ser internado.

Como na vida nada é gratuito, tudo o que nos acontece tem alguma razão de ser. O sofrimento e a experiência contribuem para o amadurecimento da menina Mary. Com um bebê, produção independente ou não, a jovem mãe resolve visitar o amigo. Como acontece com todos nós, os amigos vão-se antes de tomarmos a iniciativa de visitá-los. Morrem e não nos dão tempo de falar com eles, sequer de nos despedirmos. Afinal, despedidas são odiosas e detestáveis. Seria melhor fingirmos que não precisamos delas.

Por isso tudo, precisamos nos conscientizar, precisamos mudar nosso comportamento, precisamos visitar nossos amigos em vida! Não devemos perder tempo, precisamos cultivar nosso amigos logo, principalmente os idosos... antes que seja tarde. Não esqueça, não deixe para amanhã. Pense, parentes não escolhemos, mas nossos amigos são escolhidos por nós. E o melhor, nunca é tarde para escolhermos novos amigos!


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