domingo, 11 de março de 2012

A Música Segundo Tom Jobim

A poesia de Rainer Maria Rilke tem tudo a ver com o filme de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim: "Ó nostalgia dos lugares que não foram bastante amados na hora passageira, quem me dera devolver-lhes o gesto esquecido, a ação suplementar". Acrescentando-se a palavra "seres", pode-se dizer: "Ó nostalgia dos seres e lugares que não foram bastante amados na hora passageira, quem me dera devolver-lhes o gesto esquecido, a ação suplementar".

Nelson Pereira dos Santos não usa exatamente o dom da palavra. O filme é formado por imagens e sons musicais. Palavra sim, mas cantada. Como os cheiros, os perfumes, o vento e a música evocam o passado, em segundos somos transportados para tempos irrecuperáveis.

A música de Tom Jobim e de todos os cantores e compositores que participam do filme, contribui para fortalecer a idéia de uma identidade brasileira, da qual o espectador sente fazer parte. Ao mesmo tempo, percebe que perdeu alguma coisa no passado. Esse sentimento de perda é doloroso.

Por isso Nelson é genial ao fazer um filme que diz tudo sem dizer palavra que não seja cantada. E se você não aguenta as lágrimas quando vê e ouve Maysa, o seu choro é por você mesmo, que talvez não tenha sabido viver, não tenha sabido amar e que tudo o que gostaria de poder fazer é devolver o gesto esquecido, a ação suplementar.

Por isso é doloroso ver o jovem Tom Jobim, belíssimo, alto, magro, com uma madeixa de cabelo caindo sobre a testa, puro talento, transformar-se no senhor idoso, gordo e fumante. Mas como? Não cuidou daquele corpinho que Deus lhe deu?

O desfile de cantores e músicas somente cristaliza o talento dos gênios da música brasileira. E você fica sem saber: de quem gostei mais?

Ha! o dueto entre Tom Jobim e Elis Regina, "Águas de Março", faz pensar que eles só podem ter parte com Deus, pois são perfeitos. E Agostinho dos Santos, que você tinha esquecido por completo! E o "Samba de uma nota só"? A lista de Nelson Pereira dos Santos é das melhores, Eliseth Cardoso, Agostinho dos Santos, Henri Salvador, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Gal Costa, Elis Regina, Caetano Veloso, Adriana Calcanhoto, Maísa, Frank Sinatra, Alaíde Costa, Sammy Davis Junior, Ella Fitzgerald, Miucha e outros que não tem perdão esquecer!

Assim, não se importante e faça como Emanuelle Riva que dizia com uma ponta de nostalgia : "Ha! comme j' étais jeune a jour à Nevers", no inesquecível "Hiroshima meu amor", de Alain Resnais.

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