sábado, 31 de março de 2012

Habemus Papam

"Habemus Papam" é um filme insólito. Tem tudo o que não se espera. E tem Michel Piccoli em um de seus melhores papéis. E "Habemus Papam" faz um retrato muito verdadeiro e engraçado dos bastidores do Vaticano. O Papa é eleito pelo Conselho de Cardeais. Mas o pobre não suporta a idéia de ser Papa, uma verdadeira estrela da Igreja Católica. "Habemus Papam" mostra os bastidores do Vaticano com uma certa benevolência. Os Cardeias parecem ingênuos e encantados com a figura do Papa. Em torno do Vaticano, como na vida real circulam freirinhas e padres fascinados pela Catedral de São Pedro, que é mesmo uma obra genial do barroco, de Bernini e tantos famosos como Michelangelo. Mas pasmem, ao lado de tanta genialidade arquitetônica, prosaica mesmo é a chaminé pequena e insignificante por onde sai a fumaça preta ou branca, não é mesmo?

Quando a operação eleição do Papa não dá certo, seu braço direito precisa sequestrar o psiquiatra, guardas e cardeais enquanto a situação não for resolvida. E essas cenas insólitas fazem rir. O psiquiatra não pode falar em sexo, problemas familiares, ou sonhos com seu paciente problemático. O Papa não consegue ser Papa. Analista e paciente não ficam sozinhos, uma platéia assiste à sessão de terapia! Pode? O guarda, de guarda se transforma em substituto do Papa e muda-se para o quarto do Pontífice, mas fica preso. Deve abrir e fechar as cortinas. Deve mostrar apenas o vulto, mas comer, empanturrar-se com doces e ver TV, isso é permitido!

E o Papa, em pânico, foge. Sua vida nunca teve nada de emocionante. Como dizem os personagens no meio da história: "Não vai ser depois dos sessenta que o Papa vai se soltar". Ele, o Papa, Michel Piccoli, com uma carinha de anjo gordo se delicia no teatro, tudo o sempre amou. Sabe decor e salteado as falas da peça de Tchecov. Se oferece para participar da peça, mas os atores não lhe dão atenção. É assim, o Papa continua em pânico. Como diz a professora de francês: "Il a paniqué!".

O psiquiatra fala em déficit de atenção, sua ex-mulher - psiquiatra que nem ele, e na atualidade namorando um psiquiatra - tem fixação em Déficit de Atenção. Seria um acontecimento traumático, acontecido na infância e não resolvido que causaria o DDA. O Papa lembra que não foi aprovado no teste para ser ator, mas que sua irmã sim, foi aprovada. Sua mãe teria se ocupado de alguma outra coisa, ou de um irmão ou irmã em detrimento do Menino Papa? Coisa semelhante teria acontecido com você?

O psiquiatra não consegue tratar o pânico do Papa, resolve tratar da cabeça problemática de seus cardeais. Organiza um torneio, uma espécie de Copa do Vaticano. Quando tudo parece que vai dar certo, os solitários Cardeais fogem.
O Papa volta. "Habemus Papam?

Mas o Papa é um ser mortal, um simples homem. Erra sim, não é infalível e a Igreja Católica pode desmoronar a qualquer momento sem ele. Então é preciso conseguir um Papa a qualquer custo! A pergunta "Habemus Papam"? Não pode ficar no ar!

He! he! he! Quanta fragilidade para uma igreja! E a igreja de Pedro não era de pedra?

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