domingo, 24 de março de 2013

Depois de Lúcia

Você alguma vez refletiu sobre a violência? Continua achando que filmes de ação com Schwarzenegger, Van Damme ou Sylvester Stallone,  ou ainda policiais americanos são filmes violentos que não merecem ser vistos? Ou você continua achando que Bastardos Inglórios ou Django de Quentin Tarantino são muito violentos? Você não viu nada. Existe outro tipo de violência que nos deixa no limite. Há alguns dias eu pensava que essa violência era muito bem representada por Amour. Hoje assisti ao filme Depois de Lúcia e me apavorei, quase me levantei da poltrona, tal a violência.
O diretor conta a história de pai e filha. Após a morte da mãe, em violento acidente de carro, eles tentam recomeçar a vida na Cidade do México. Na nova experiência, os dias  passam mortos e cinzentos. O pai, tomado pela tristeza, cada vez mais se isola da filha.  Quando não está trabalhando, dorme para não enfrentar o dia a dia. A relação entre os dois é pacífica, de pouca conversa, como acontece com pais tímidos. As filhas não sabem porque não conseguem conversar com o pai. Ambos se amam, são amigos, mas a relação não decola. De fato, a menina de 15 anos, Alejandra,  está sozinha, enfrentando um mundo novo, onde não consegue o apoio do pai.
As coisas se deterioram na nova escola, quando vaza um vídeo de Alejandra fazendo sexo com um colega de aula. Se de início parece uma menina forte que não permite abusos, logo em seguida não reage, aceita humilhações impostas pelos colegas. Porque as vítimas de bullying não reagem? Não gritam bem forte? Não pedem ajuda?
Alejandra sofre abusos, violência física, humilhações inimagináveis. Permanece calada e  desaparece.
Todos são criminosos. Colegas de aula, meninos e meninas, ninguém escapa. Nem professores, os mais ausentes e criminosos. Nem o pai, mergulhado em sua infelicidade consegue perceber o que se passa.
Você espectador é capaz de sentir saudades daquele tempo não vivido, daquelas priscas eras, quando sua tia contava que professores davam castigo para  alunos fazendo-os se ajoelharem sobre grãos de milho, ou que professores batiam de palmatória em seus  alunos! A pedagogia, Paulo Freire e tantos educadores clamaram! E hoje em dia quem faz alguma coisa?
Quando você fica sabendo da tragédia que vitimou 241 em Santa Maria - na mesma hora em que seus alunos festejavam a formatura - , você conclui que as razões que permitiram  essas tragédias são as mesmas: descaso pela vida de quem somos responsáveis. Quando você assiste na TV a um professor, ajoelhado, apanhando de um aluno, se pergunta: Que mundo é este em que estou vivendo?  
Finalmente o espectador sente o tempo estendido, assiste àquela cena interminável, de câmera parada, o pai rema sem parar, no bote, nuvens pressagas e mar violento, após ter feito a única coisa que achava que era possível fazer: justiça com as próprias mãos, a pior das escolhas.
Ao espectador não é dada a menor possibilidade de catarse, como quando Dustin Hoffman bota pra quebrar e devolve a violência para todos os que o humilharam em Sob O Domínio do Medo, de Sam Peckimpack.
Depois de Lúcia é um filme para muita reflexão.
 


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