segunda-feira, 20 de abril de 2009

FROST NIXON

Frost Nixon é um filme que vale a pena assistir. Em primeiro lugar, o jogo de cena é magnífico. Os atores são excelentes. O filme retrata o embate entre o ex-presidente Nixon (Frank Langella) e o apresentador de televisão David Frost (Michael Sheen), nas célebres entrevistas que concedeu a ele, três anos após sua renúncia à presidência dos Estados Unidos. O ator Michael Sheen já tinha mostrado toda a sua habilidade e excelente performance, ao encarnar personagens carismáticos, como o Primeiro Ministro Tony Blair, em A Rainha. Está em cartaz, em Porto Alegre o filme Anjos da Noite: A Rebelião, onde Sheen interpreta um terrível vampiro (ainda não assisti ao filme).

O entrevistador não era uma pessoa considerada ideal para representar um papel tão delicado diante das câmeras. Os dois jornalistas que Frost consegue cooptar para seu staff, não o consideram capaz de enfrentar Nixon. James Reston (Sam Rockell Jr.) é o mais reticente. Reston lembra um daqueles esquerdistas dos anos 70, bastante radical, que no meio jornalístico teria o apelido de xiita. O outro jornalista que acompanha Frost é Bob Zelnick, interpretado por Oliver Platt. O ator é um cara tão bom, que parece que estamos assistindo a um documentário, com o “making off”, detrás das câmeras. Zelnick faz piadinhas, no gênero que mostra um clima de redação de jornal. Faz com que pareça que estamos assistindo aos fatos verdadeiros. Uma das mais sutis é dita, quando Reston afirma que não apertará a mão de Nixon. Ele até que tenta, mas este era um político esperto e tarimbado, que vai apertando a mão de todo mundo. Reston se rende e aperta a mão do ex-presidente. O outro lhe sussurra ao ouvido, dizendo que Nixon não se recuperaria do golpe, se ele tivesse lhe negado o aperto de mão.

O filme procura caracterizar os dois personagens. Mostra David Frost, tentando conquistar o maior número de patrocinadores e Nixon, em diversas situações, quando é hospitalizado com flebite e no convívio com a mulher e assessores. Jack Brennan, interpretado magnificamente por Kavin Bacon é seu assessor. É fiel como um cão. Atitudes éticas, honestas e sérias não estão no seu vocabulário. O negócio dele era proteger o patrão. Nunca quis enxergar as canalhices e safadezas do “boss”.

Rebecca Hall faz a namorada de David. Ela é linda. É a jovem que conseguiu deixar Scarlett Johansson em segundo plano em Vicky Cristina Barcelona. Também participou do filme O grande truque. No filme é o porto seguro de David, quando este precisa de alguém que o ouça e apóie.

O clímax e a chave de tudo acontecem na última entrevista. Nas primeiras, Nixon desbanca o entrevistador, contando sua vida, suas experiências e não dá vez a Frost. Nixon é o político esperto que não se abala. Podemos ver nossas inseguranças estampadas na cara do jornalista. Como qualquer um de nós, que conseguiu vencer seus desafios, ou pelo menos venceu os primeiros obstáculos, ficou de frente com o mais difícil e titubeou. David arregala os olhos e morde os dedos. Lembra os safenados e mamariados que resolvem colocar seu coração à prova e vão para as maratonas. Conseguem correr e levam um susto! E agora se eu morro? (eles se perguntam). E respondem para si mesmos; bem... fi-lo porque qui-lo, como dizia o presidente Jânio Quadros.

Cabe destacar que Nixon precisava revelar seus segredos para alguém, até para suportar viver consigo mesmo.

O telefonema do ex-presidente para Frost é revelador. Não sabemos se é verdade ou ficção, não importa. Depois de algumas doses de uísque, ele confessa seus sentimentos de inferioridade ao jornalista. Durante a universidade, não era valorizado pelos colegas, por mais que fizesse. Os estudantes eram uns esnobes, da alta sociedade americana. Nixon afirma amargamente que, na vida, sempre foi olhado de cima para baixo. Era como se todas as suas conquistas não valessem nada. Sempre era considerado um menor, um João Ninguém.

Esses sentimentos de inferioridade não são apanágio do ex- presidente, muitos de nós somos perseguidos por eles, e muitas vezes temos uma visão distorcida e depreciativa de nós mesmos. Assim como nós, Nixon precisaria rever seus valores e renascer para ele próprio. Mas como? No caso de Nixon, não sei... Faltava-lhe fundamentalmente a capacidade de amar a si e aos outros.

Mas David consegue um trunfo. Traz para a entrevista um fato que comprovava que Nixon sabia do escândalo Watergate, antes da data em que teria dito publicamente, ter tomado conhecimento do caso. Frost enfrenta o opositor, que vai se entregando. Nixon chega a dizer que quando um presidente erra e se coloca acima da lei, pode fazê-lo porque é presidente. Pede desculpas, mas afirma que não se jogará de joelhos para pedir perdão.
Parecendo mais velho ainda, ele vai desmoronando. Fala que cometeu erros e que traiu o povo americano. Nas entrevistas, a imagem mais poderosa é o close de Nixon, no final. É um homem derrotado, que assume seus crimes e sua desonestidade publicamente, como dizem os jornalistas, eufóricos. É o poder da televisão. Embora a TV simplifique muito as coisas, uma imagem poderosa vale mais que mil palavras. O close de Nixon, de cabeça baixa, amargurado revelou tudo o que os americanos e o mundo precisavam saber.
Frost vai à casa de Nixon para despedir-se, e o presenteia com o par de sapatos italianos, que o ex-presidente gostava, mas temia usar. Poderiam pensar que ele era afeminado. O próprio Nixon confessa que o que mais admirava no jornalista era sua capacidade de amar e ser amado. Isto sim, para ele era impossível, a capacidade de amar...

Assim, perdoado pelo presidente Ford, Richard Milhous Nixon morreu, em 1994. Faz-me lembrar Cristóvão Colombo, que depois de toda glória, morreu pobre e esquecido em Valladolid, em 1505 (guardei esta frase do tempo do colégio). Não sei se cabe a comparação, pois afinal Colombo foi herói e descobriu a América. Nixon envergonhou a América, morreu esquecido, não sei se pobre.

Um comentário:

  1. Concordo inteiramente! Ao mesmo tempo que gosto de ir ao cinema sozinha, adoro discutir filmes (e também livros) com amigos(as):

    " E bom é ir ao cinema sozinho, para poder chorar e rir à vontade, sem dar satisfações para o companheiro ou companheira do lado. Mas também é tão bom discutir o filme com as amigas!"

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