O trabalho de mulheres na direção de filmes tem se destacado nos últimos meses nos cinemas de Porto Alegre, veja-se o também belíssimo Caramelo.
O pano de fundo é o desejo introjetado nas mulheres de fazer um casamento sólido, que assegure o futuro de cada uma. Vai e vem e aparecem duas meninas que brincam de noiva, entoando o Chant des Mariées, a Canção das Noivas, cuja letra canta, que único que falta é o noivo.
Karin Albou mostra o eterno feminino, a vida de duas jovens, Nour (Olympe Borval) e Myriam. Nour é muçulmana, Myriam é a jovem judia que mora com a mãe. As duas vivem em harmonia na mesma casa. As mulheres, principalmente Nour tem uma vida reprimida. O espaço da casa mostra a absoluta falta de conforto para as mulheres, que vivem reclusas. Nas casas islâmicas, os dormitórios são pequenos nichos abertos, de forma retangular no pavimento superior, que abrem para o espaço de pé direito duplo, o pátio interno que contém a fonte de água. As mulheres são vistas ou nesses dormitórios que se debruçam para o pátio com seus peitoris de balaústres, ou nos locais dos banhos públicos femininos, onde permanecem com a cabeça coberta. O olhar masculino e repressor invariavelmente está cuidando de Nour, quando não é o pai é o namorado.
Khaleb, o primo pobre em todos os sentidos, cuja pobreza de espírito não tem limite, alia-se aos nazistas para pretender ser noivo de Nour. A alienação de Khaleb recai a sobre a família de Myriam, a quem odeia por tê-la flagrado espionando seu ato de amor com Nour.
As duas amigas têm a maior curiosidade uma pela vida da outra. Nour não entende as razões pelas quais sua amiga Myriam pode aprender a ler e sair à rua, com a cabeça descoberta. Myriam, prometida pela mãe em um casamento arranjado, tem a maior curiosidade pelo relacionamento amoroso entre Nour e seu primo Khaleb. Myriam por sua vez nega-se a casar com o bem sucedido médico Raoul (Simon Abkarian). O médico termina assumindo sua condição de judeu e tem um gesto de generosidade e grandiosidade que nos impressiona.
Nessa conjuntura de guerra e repressão vivem a muçulmana e a judia com os olhares sempre angustiados e temerosos. A opinião de amigos e familiares revela a confusão das pessoas, que não sabem o que é pior, viver sob o domínio dos franceses ou dos nazistas. E pior, o bombardeio dos aliados termina destruindo o povoado.
Impressiona no filme o olhar triste de Myriam com seus olhos claros como o azul do mar em dia de sol luminoso. E o contraste com a beleza rude de Nour, ambas em plena juventude. Nessa conjuntura de guerra e opressão sobrevive a amizade entre Myriam e Nour, que conhecem a fundo sim o significado das palavras amizade e fidelidade femininas, sim!
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