quinta-feira, 3 de setembro de 2009

AMANTES

James Gray, o diretor de Os Donos da Noite e de Fuga para Odessa sabe falar de relações familiares, dos conflitos, do aconchego, das exigências e de toda a complexidade desses laços. O filme Os amantes concorreu à Palma de Ouro, na seleção oficial de Cannes, em 2008, e perdeu para Entre os muros da escola, de Laurent Cantet.

James Grant é o diretor que promete ser um novo Scorsese, e é reconhecido como alguém que ama o cinema, o melodrama, o teatro, e ama acima de tudo Visconti e o neorrealismo italiano.
Leonard Kraditor é Joaquin Rafael Phoenix. O ator tem presença e carisma no filme, é quem segura o grande enredo. Mas a troco de quê ele foi dizer no programa de David Letterman que não queria mais fazer cinema? Custo a acreditar! Vai fazer o que então? Ser rap? Como disse o Clausewitz ( leia meu texto sobre o filme Em Tempos de Paz): a gente tem que fazer o que sabe fazer! E Joaquin Fenix sabe atuar.

Apesar desse gol contra, Joaquin Fenix, o Leonard é o personagem que se destaca e mexe conosco. Ele é a âncora e a força para o diretor poder falar do que quer falar, de família e de relações familiares. James Gray é de origem judaica, e ele fala dessa família. Gray vivencia o tema família, com toda a sua complexidade de relações. A família judaica tem características marcantes na forma afirmativa de apoio que fornece aos seus componentes. Essa solidariedade segue uma cadeia que passa de pais para filhos e parentes, numa intrincada ramificação que se cristaliza em relações de suporte e vínculos recíprocos. Essas idéias inconscientes inter relacionadas e ligadas a afetos, influenciam fortemente as atitudes e o comportamento do grupo familiar de Leonard. Existe um grande envolvimento e apoio entre os membros familiares. À sua maneira, James Gray conhece e explora com profundidade o tema. É diferente de Woody Allen, por exemplo, que o faz de forma leve e divertida.

Gray é dramático, até melodramático. Mostra que a família, ao mesmo tempo, ama e asfixia. Se os laços familiares são de apoio, podem se transformar em correntes que nos sufocam e reprimem. A família de Leonard - como a nossa - ama, sente ciúmes, desconfia, vigia, fofoca, domina, manipula e tenta ditar os destinos de seus membros. Se a família representa a felicidade também pode ser um tormento.

Leonard é bipolar. Mora com os pais. É alguém que teve experiências negativas, frustrantes e sente-se perdido no mundo. Mas é alguém muito amado e cuidado pela família. E aí foi dito tudo. Parece que o apoio da família pode nos levar longe, muito longe.

No início do filme Leonard tenta o suicídio, mas não que morrer. Sentimos que está distante. Fenix – Leonard – no filme aparenta até mais que os seus 35 anos, poderia perfeitamente ser um homem independente. Mas é um filho que precisa se encaminhar na vida e não consegue. Assim como não consegue se entusiasmar com o trabalho da família, uma lavanderia. Vive perdendo os ternos que deveria entregar aos clientes.

Como alguém perdido no mundo, se confunde entre duas mulheres, Michelle (Gwyneth Paltrow) e Sandra (Vinessa Shaw).

A mãe Ruth Kraditor – representada por Isabella Rossellini – não perde o filho de vista. Até por baixo da porta ela espia, de madrugada quando ele volta das festas. Cuida o horário dos remédios e sente no ar os problemas do filho.

A família tem planos para Leonard. Os pais pretendem casá-lo com Sandra a bela jovem, filha de uma boa família, cujo pai investirá nos negócios que poderão assegurar o futuro de ambos.

Mas não é bem isso que Leonard deseja. Michelle (Gwyneth Paltrow) surge em sua vida, tão confusa e desprotegida quanto ele. Por isso mesmo os dois – semelhantes – se aproximam. O jovem se apaixona, e se Leonard trai, é duplamente traído por Michelle, que tem por amante Ronald (Elias Koteas) um homem mais velho. Os dois querem fazer de Leonard o The go between, o mensageiro do filme de Josef Losey, de 1970. Não existe humilhação maior. O personagem possui algo de patético quando vai se envolvendo com Michelle e Ronald, como num melodrama do neorrealismo italiano.

Michelle é tão perdida quanto Leonard, mas não tem a família, com todas as mãos puxando-a para cima...

O inevitável acontece. James Gray faz um desfecho realista, mas depressivo. Leonard sem glória volta para a família, mas volta...

Um comentário:

  1. Doris, ótimo post. Você e o Merten me convenceram a ver o filme!

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