domingo, 29 de novembro de 2009

JULIE & JULIA

Se você gosta ou não de cozinhar, isso não importa. Importa sim se você vai gostar de saber sobre as vidas de Julia Child e Julie Powell. O filme é dirigido por Nora Ephron, especialista em comédias românticas. A diretora baseou-se nas autobiografias das autoras. O livro de Julia Child é My Life in France, o de Julie Powell é Julie & Julia.

Meryl Streep interpreta Julia Child e Amy Adams, Julie Powell. Confesso que preferi a beleza e a meiguice de Amy Adams ao talento de Meryl Streep vivendo a americana Julia Child. Se a diva do cinema interpretou com tanta perfeição o seu papel, que se transformou naquela americana grandona e sem graça, então, nas aparências, deveria estar tudo bem. Mas não está.

Não gostei da forma como Meryl Streep caracteriza sua personagem. Julia pronuncia as palavras com a boquinha pequena e quase fechada. Seu sotaque estridente torna-se insuportável , à medida que se repete. Fiquei triste. O que era aquilo? Após uma hora de filme sem grandes conflitos ou acontecimentos, quando Meryl Streep abria a boca para falar- boquinha pequena olhinhos enrugados - eu tentava ver as horas. Como a própria Julia Child foi apresentadora de TV, sua imagem com certeza deveria estar à disposição da produção do filme para Meryl informar-se sobre a personagem... Me pergunto se Julia teria realmente aquele sotaque e aquela dicção...

Julia Child era casada com o diplomata Paul Child (Stanley Ticci), que mais parecia o secretário de Julia que seu marido. Paul é enviado à França. Sem conhecer o idioma e sem ter o que fazer, Julia se interessa pela gastronomia francesa. Matricula-se no Cordon Bleu. Vence o preconceito dos colegas de aula e da proprietária da escola, que não acreditava em seu talento. Muito menos, que uma americana pudesse apreciar a cozinha francesa.

Quarenta anos depois, Julie Powell, uma americana que trabalhava dando assistência às vítimas de 11 de setembro, resolve sacudir o marasmo de sua vida, criando um blog, The Julie/Julia Project em que relata todas as receitas publicadas por Julia Child em seu livro. O objetivo de Julie é testar e escrever no prazo de 365 dias, todas as 534 receitas de Julia.

O desencontro é o tema do filme, que se alterna contando os tempos das duas, Julia e Julie. A vida de Julie muda. No início sua mãe acessa o blog. Aí não conta, mãe tiete não dá ibope. Mas aos poucos o blog se transforma em sucesso. Através de Julia, Julie encontra o seu caminho.

Julie que sonhava um dia encontrar Julia, para que ela provasse as próprias receitas, fica sabendo que a velha senhora - nascida em Pasadena- não gosta de seu trabalho. Logo ela, Julie, que tanto idolatrava Julia, e que chega até a deixar um pacote de manteiga como lembrança no museu Julia Child. As duas nunca se encontram. Porque a " chef de cuisine", nos seus noventa anos, não aceitava o sucesso da outra Julie, baseado em suas receitas?

O fato de Julia Child aprovar ou não o sucesso da jovem Powell não muda nada. 270.000 pessoas tinham acessado o blog de Julie até abril de 2009! Um espanto! De fato o filme é bom para quem consegue comer muita manteiga, muita carne gorda, muito patinha de porco, muitos frutos do mar sem imaginar que suas veias um dia - por esse motivo- poderão estar com estenose severa. Pelo visto as veias das duas, Julia & Julie nunca tiveram esse problema. Ainda bem!


sexta-feira, 27 de novembro de 2009

À Procura de Eric

Estreou hoje À Procura de Eric, o novo filme do diretor inglês Ken Loach. É de dar nó na garganta. Agradeço (a quem?) por ter ido sozinha. Quando termina, a emoção é como uma enxurrada de água que toma conta da gente. Leva tempo para passar. Aí fico sabendo, amei o filme!

Ken Loach tem 73 anos e está no auge da produção cinematográfica. Filho de operários, faz de seu cinema uma discussão sobre a vida da classe operária. À Procura de Eric não foge à regra. O filme mostra as condições de vida dos carteiros na Inglaterra. O amor pelo futebol, a truculência da classe operária, e a dedicação dos ingleses aos bares e bebidas alcoólicas.

Eric (Steve Evets) é salvo por Eric, o mito. O personagem é muito bem construído. Eric é um homem derrotado, um carteiro dedicado ao culto de seu herói, Eric Cantona, o grande astro do futebol francês. Passa a conversar e discutir suas amarguras e fraquezas com o verdadeiro Cantona ( Eric Cantona).

Eric sentiu sua fragilidade aos 21 anos. Não conseguia enfrentar o pai, um homem que o massacrava. Fazia com que se sentisse menor. Nunca se perdoou por ter abandonado a mulher amada, Lily Devine ( Stephanie Bishop) , no auge da juventude.

O filme se passa quando Eric já é um homem maduro e precocemente envelhecido. Como Steve Evets conseguiu caracterizar tão bem o personagem? O carteiro tinha todo tipo de carência. Morava numa casa tão mal arrumada que quando Lily o visita, pergunta-lhe se tinha mandado embora o mordomo ou se estava de mudança. Mais triste, faltavam alguns dentes em seu sorriso... Tentava cuidar dos enteados, da melhor forma. Inútil, os jovens não lhe davam a mínima atenção. Não trabalhavam, passavam o dia na frente da TV, assistindo a programas de sexo explícito e metidos em más companhias.

O descontrole de Eric em relação à própria vida é evidente. Não controla mais seus atos. É devorado pelo cotidiano medíocre. Quase se mata em um acidente de carro. Eric Cantona surge e provoca a reviravolta. O herói é como o alter ego de Eric, um outro eu que vê o mundo de outra forma. Abre os alhos do pobre Eric e provoca o desejo de superação. Tudo começa tão lentamente que sentimos a primeira transformação, quando o carteiro começa a fazer exercícios. Corre com Cantona e usa a camisa vermelha do Manchester United. As vitórias são pequenas , mas da maior importância. Agora, as coisas não irão passar em branco para Eric.

Pensem bem, qualquer um de nós pode ser Eric! Com certeza ele procurou ficar acompanhado de um bom espírito. É como se Eric cantasse o próprio mantra, aquele que ele mesmo tinha inventado e dissesse, " Eric fica comigo, Eric Cantona fica comigo". E Eric sentia-se de verdade, mais leve! Acompanhado por Cantona começou a enfrentar obstáculos e até a surpreender seus colegas carteiros.

Ken Loach dá o seu recado pela boca de Cantona:

- " É preciso saber dizer não!"
- "É preciso se arriscar dentro dos limites que você consegue! "
- "Se você não consegue falar com ela, escreva !"
- "Às vezes é preciso arriscar, é preciso compartilhar!"
- "Antes de surpreender aos outros, precisas surpreender a ti mesmo"!

E nesse esquema de auto ajuda Eric vibrava com o Eric Cantona. Eric o jogador, abandonou o futebol em 1998. Está mais pesado, mas continua uma presença e tanto. Cantona, outro eu de Eric fala de suas vitórias no futebol e Eric literalmente baba por seu herói. Conhece cada lance de gol do jogador. Cantona lhe mostra qual foi o grande passe de sua vida e diz a que veio: "É preciso compartilhar e confiar nos companheiros, do contrário estamos perdidos, senão não somos ninguém".

Após ouvir o mais decisivo conselho de Cantona: "Sempre temos mais possibilidades do que pensamos!". Eric, o carteiro junta a última gota de coragem e compartilha seus problemas com os amigos, muitos e muitos carteiros. Eric consegue surpreender a si mesmo.

O final é surpreendente também. É como se vissemos nossa filha na formatura. Aquilo tudo também acontece conosco. Tem muito relação com a vida de cada um de nós. Assista a Eric à procura de Eric e encontre-se a si próprio. Cresça junto com ele. E ouça o último conselho de Cantona:

-" As gaivotas seguem os barcos pesqueiros porque sabem que sardinhas serão jogadas ao mar". Obrigada Ken Loach pelo belo espetáculo!


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

LUA NOVA

Lua Nova, a sequência de Crepúsculo, estreou com grande sucesso. No Brasil já foi visto por mais de 1 milhão de espectadores. Chris Weitz - o diretor- transporta para a tela, a saga de Stephenie Meyer, que inicia com Crepúsculo, depois Lua Nova, Eclipse e Amanhecer. O filme é amado pelos jovens, que compareceram em peso e sentaram ao fundo da sala de projeção. Acho muito engraçado isso de observar o comportamento dos jovens. Ouvi que eles gostam da série por que é uma história de amor, tipo Romeu e Julieta. Afinal Lua Nova também trata de um amor impossível, em que a morte pode ser considerada como um fecho para uma situação amorosa insustentável. Até agora não aconteceu aquele final shakesperiano, terrível e dramático. Aliás, não houve final, para dar continuidade ao terceiro filme.

Quem lembra o filme Nosferatu? O vampiro de Murnau é uma das coisas mais repulsivas e representativas do mal que já vi. Quando ele se aproxima da loura deitada na cama, magro com orelhas e dentes ponteagudos, não dá para aguentar a tensão. A cena foi recriada em "A sombra do Vampiro", com John Malkovich e William Dafoe, o nojo não foi menor.

E eis que a estética do século XXI muda por completo.
Em Lua Nova, lobisomen e vampiro passaram por um processo de limpeza, nem que seja simbólica. São belos e assépticos. Para o público não exalam nenhum cheiro, muito menos de cachorro molhado ou enxofre! Edward Cullen ( Robert Pattinson) impressiona pela beleza estranha. Pálido, com lábios avermelhados e sobrancelhas espessas, causa furor entre a meninada. Aliás mulheres em qualquer idade concordam que o jovem é possuidor de uma beleza diferente. A caracterização como vampiro limita-se à palidez do rosto, ao róseo exagerado dos lábios e à testa proeminente com sobrancelhas mu-u-u-ito espessas. Ha! mas e os olhos! Todos os vampiros tinham olhos avermelhados. Entretanto, os de Edward eram especiais e lembravam olhos de ave de rapina, de um gavião soberano, daqueles que abrem as asas e planam no ar. Era muito animal mesmo aquele olhar de vidro.

Não é sem razão que o vampiro enlouquece as garotas com seu ar triste. Pareceu-me que o diretor ou a escritora quiseram destacar a beleza dos vampiros e lobisomens e esqueceram propositadamente a mocinha da história. Como ser humano, Bella Swan ( Kristen Stewart) era simples demais.

No início, quando Edward se despede de Bella, e diz que aquele será o último encontro entre os dois, o rosto do vampiro está iluminado. Em close, cada linha de sua face escultural é valorizada, como se ele fosse um deus grego. Na sequência, surge o rosto de Bella -também em close up -, mas sem o menor brilho.

O filme foi feito para destacar Edward e Jacob Black (Taylor Lautner) em tudo, um o oposto do outro. Jacob é moreno, muito sarado e musculoso.
Está sempre de torso nu, para mostrar sua força e masculinidade. Chega a parecer grosseiro no início, com o cabelão comprido. Mas seu sorriso desarma qualquer um. É um encanto o menino lobo de 16 anos. E, escravo de seu próprio destino, o lobisomen deixa aflorar seu lado animal. Quando se irrita com alguém, vira lobisomem mesmo! O filme mistura as duas lendas vampiro vs lobisomen, que as pessoas adoram contar e ouvir.

Nenhum dos vampiros no filme, nem os maus da família Volturi, que moravam em Volterra, sequer mostrou suas presas pontegudas, muito menos cravou seus dentes em algum ser humano. Aliás nenhum tinha presas ponteagudas. Olhe que muita garota na platéia adoraria ser mordida pelo vampiro.

O sangue por exemplo que é o ponto alto nos filmes de vampiro, e o ponto fraco dos vampiros está quase ausente do filme. Em uma cena apenas, Bella se corta e provoca uma reação louca em um dos vampiros, que não pode ver sangue! O descontrolado é contido por seus pares. Ali, na hora, não era permitido vampirizar, sem mais nem menos. Os Collen, família de Edward, eram cheios de regras - a principal: não se alimentam de humanos.

Assim, Lua Nova gira em torno da angústia d
o trio formado por Edward, Jacob e Bella, envolvidos em um romance impossível. Como a jovem não consegue saber quem manda em seu coração, o desfecho é transferido para o próximo filme da série. Os jovens identificam-se com Bella, indecisa entre dois amores impossíveis. Como ela, podem sentir-se também indecisos perante a vida e as paixões impossíveis. O romantismo impregnado de vampirismo e de lobisomens tem tudo para atraí-los, além do que, devem estar cansados da pancadaria e da vulgaridade de muitos filmes dirigidos para eles, os teens.


2012

2012 é mais um filme da série desastres sobre o fim do mundo. Lembra "Presságio" , mas esse era bem irritante, 2012 é melhor. As sequências de destruição são perfeitas. Pudera, o diretor Ronald Emerich é especialista em cenas de fim dos tempos. Lembram-se do Independece Day ou O Dia Depois de Amanhã?

Acho que Emerich poderia ter explorado melhor as previsões dos maias, que tinham grandes conhecimentos de astronomia e fizeram a previsão de que em 21 de dezembro de 2012 haverá um alinhamento dos planetas. A terra estará alinhada com o sol e com o centro da galáxia, a Via Láctea, onde existe um buraco supermassivo. As especulações afirmam que segundo Einstein, esse alinhamento levará a mudanças no campo magnético terrestre. Parece que isso já acontece, mas sem maiores problemas até hoje. O calendário maia prevê que algo de muito terrível se passará nessa data. Haverá terremotos, tsunames, vulcões, etc. Tão grave será o acontecimento , que o mundo sofrerá grandes transformações.

Porque Emerich não recuou à civilização maia, explicando um pouco mais sobre as questões cósmicas desse alinhamento de planetas? O mistério seria maior e o filme seria instigante. Aliás, incas e mais são civilizações místicas, que tem tudo para atrair o público. O mistério em Machu Pichu, ou Tenochtitlán é tão grande, que vendo aquelas ruínas, não conseguimos entender.Incas e mais entrariam em contato direto com a divindade através de uma contemplação espiritual? Ou eram bárbaros apenas? Sacrificando virgens e animais? Imagino que o mistério vai além do que foi descoberto e estudado até hoje.

Nada disso é sugerido no filme. Há uma única cena do alinhamento dos planetas, no início. O resto é uma justificativa para o diretor mostrar que sabe filmar cenas de destruição. Tudo vem abaixo, ruas, chão se abrindo em fissuras enormes, prédios high tech caindo rapidinho, rapidinho...Carros desgovernados, estradas e viadutos desmoronando. O chão desaparecia virando um infinito de poeira...

Em meu sonho , a terra sumia de meus pés. Depois de tanto o sonho se repetir, descobri que não morria e me deixei flutuar no espaço. Até que cresci e o sonho pesadelo de criança nunca mais voltou. Esse sonho lembra uma das cenas do filme onde o chão desaparece. Acho que Freud deve explicar melhor que Emerich. Nem por isso vou achar que previ o fim do mundo.

O avião pilotado por um médico que não sabia pilotar passa de raspão e não bate em nada. Lembrei-me dos Mamonas Assassinas, que não conseguiram vencer o morro. O mostrengo feio era russo, para mostrar como, ironicamente, os americanos foram salvos por uma geringonça russa pesadona e desengonçada. A nave levantou quase na vertical. Claro que a platéia torce para que os heróis se salvem, mas e aí?

De resto o filme não trás grandes novidades. Os países dominantes se unem para construir um espécie da Arca de Noé, onde entrarão apenas os eleitos. Assim, os personagens são mostrados através de estereótipos conhecidos. O personagem central é Jackson Curtis (John Cusack), separado de sua mulher Amanda Peet (Kate Curtis). Jackson é um escritor. Publicou um único livro. Ao acampar com o filhos no Parque de Yellowstone descobre, por acaso, que algo de muito errado está acontecendo, e que eles precisam tomar aquele avião que partirá para a China.

Não faltam os personagens arrivistas como o auxiliar do presidente, Carl Anheuser, interpretado por Oliver Platt. O presidente Thomas Wilson (Danny Glover) faz a sua opção pela humanidade. Os maus têm punição exemplar, como o balofo pai dos gêmeos. Despenca no abismo. Não falta a cena em que a cachorrinha faz peripécias e é salva pela dona.

A moral da história não se sustenta, os Curtis precisam passar pelos maiores horrores para valorizarem uns aos outros. Para o filho aceitar o pai, para a filha não fazer xixi na cama... Para o pai ser mais tolerante, para a mulher reconhecer que ama o ex-marido. Mas o namorado desta precisa morrer para o trio se desfazer...

Woody Harrelson faz Charlie Frost, o lunático que se retirou para o Parque de Yellostone, e vê o mundo de outras forma. Frost tem razão ao tentar entrar em sintonia com a natureza. Afinal se o mundo terminar em 21 de dezembro de 2012, antes é melhor reunir os entes queridos e não ir a lugar nenhum, que nem ele.


domingo, 15 de novembro de 2009

UM NAMORADO PARA MINHA ESPOSA

Um namorado para minha esposa é um delicioso filme argentino muito divertido. Nada como já ter passado pelas vicissitudes da vida a dois para depois rir muito daquilo tudo. Ou ainda quem sabe, estar vivenciando o problema, e rir de si mesmo. É bom e nos deixa mais leves. Olhe que não é fácil a vida a dois. Meu Deus pode ser um problemão. O filme argentino é uma comédia séria sobre o tema, o humor é sutil e inteligente. Juan Taratuto revela-se um diretor perspicaz e criativo.

Os atores estão impecáveis. Tenso (Adrián Suar) e Tana (Valeria Bertuccelli) formam a dupla em plena crise conjugal. Tana não procura um sentido para sua vida. Ela literalmente não faz nada, além de reclamar de tudo. Nada está bem ou está bom para ela. Tana também não coloca metas em sua vida e muito menos enfrenta o menor desafio. Existem muitas pessoas como Tana. Elas têm depressão, só que não sabem e não admitem. Por isso mesmo são tão mal humoradas. Tenso era a parede que recebia todas as boladas do jogo de Tana e ele, Tenso vivia mesmo na maior tensão. Não agüentava mais.

Um namorado para minha esposa revela a face machista dos argentinos e poderia muito bem ser a dos brasileiros. Os homens sempre se encontram para o joguinho de fim de semana, acho que era futebol de salão. Para mim não tem coisa mais idiota e machista que esses joguinhos de fim de semana. Os caras com aquelas enormes barrigas de chope, tentando correr atrás da bola. Ridículo! E as meninas de fora! Ali impera a velha solidariedade masculina. Segredos, aventuras e desventuras são reveladas. Tudo sob o olhar complacente dos amigos. As mulheres – na acepção do grupinho – sempre ou são as culpadas ou as vadias. Foi num desses encontros no “Clube do Bolinha” que os amigos de Tenso sugeriram que ele procurasse um namorado para sua esposa, para forçá-la a acabar com o casamento. O personagem de Cuervo Flores (Gabriel Goity) surge como a solução para todos os problemas de Tenso.

A história, tudo é muito engraçado e contado com um humor de fina qualidade, apesar dos personagens estarem a toda hora falando os maiores impropérios e palavrões em “espanhol”, claro! Por recato e bom senso não vou escrever o primeiro que lembrei. Assistam ao filme! He! He! He!

Tana, apesar de todo o seu mau humor é a personagem forte. No programa de rádio, ela – que reclamava da vida, dos amigos, do governo, dos vizinhos – faz o que sempre foi capaz de fazer, em alto e bom som, criticar tudo e todos. E pior, a visão de Tana era a mais honesta e verdadeira, apesar de corrosiva. Só que ela tinha a coragem de dizer e falar o que pensava. E nisso, tornava-se grosseira e mal educada. Para viver em sociedade precisamos adotar determinados papéis, e nem sempre é o mais adequado dizer tudo o que pensamos... É certo que as pessoas precisam saber o que nós pensamos. Mas é preciso ser educado em primeiro lugar, e não deixar a raiva à solta. O ódio e a frustração de Tana estavam à flor da pele. Ela não se controlava e agia como uma patrola. Tana nem se tocava, agia como um trator perante os amigos do marido.

E Tenso, oh! Tenso era exatamente o contrário daquilo que alguém pode pensar como “o marido corajoso”. Não tinha coragem sequer para falar cara a cara com sua mulher. Não conseguia enfrentá-la e olhar dentro de seus olhos. Os amigos aconselhavam: fala de costas. Não olha para ela! Imagine só! Se muitos pais não têm coragem de falar com seus filhos sem uma parede entre ambos. Imagine! O que pode fazer um marido fraco? Tenso consegue revelar o pior de si mesmo quando paga o salário da mulher (sem ela saber), para que ela seja aceita em um programa de rádio. E ainda contrata o sedutor Cuervo Flores, um velho galanteador, que estava no bagaço mesmo, um lixo na melhor acepção da palavra, para conquistar sua mulher. E por isso o filme fica tão divertido.

Um namorado para minha esposa esquenta quando Cuervo Flores entra em cena. Não conseguimos mais controlar o riso e o espanto! Cuervo se comporta como um verdadeiro especialista em matéria de sedução e conquista. É tão idiota e trapalhão quanto Vitorio Gassman, em “O incrível exército de Brancaleone”, de Mário Monicelli. Gassman estava impagável e Gabriel Goity é tão divertido quanto ele! Graças a Cuervo, Tenso faz a grande descoberta de sua vida!

Assim, Tana dá a volta por cima, revela o seu feminismo e seu verdadeiro eu, quando o casal faz uma sessão de terapia com a psicóloga. A separação está decidida, os dois precisam aguardar duas horas para o juiz efetivar o divórcio. Vão fazer um lanche em uma mesa de bar. Tana divide o sanduíche em duas partes, estende a mão, e oferece metade a Tenso.

O que você acha que poderá acontecer? Não deixe de divertir-se com esta sátira sobre os relacionamentos conjugais.

domingo, 8 de novembro de 2009

GESTO OBSCENO

Engraçado, se no filme anterior, Código de Conduta eu queria modificar o roteiro e queria também que o personagem fosse às últimas conseqüências, em Gesto Obsceno o personagem Michael Klienhouse chega ao limite. Porém o filme não possui atrativos. Nada atrai muito o espectador. O diretor é Tzahi Grad. Parece ser uma produção com baixos custos e recursos limitados.

Michael Klienhouse (Gal Zaid) é um escritor em crise de criação, desempregado, deixa o sustento da família a cargo de sua mulher, a médica Tamar Klienhouse (Keren Mor). Quando o casal volta para casa com o filho David Klienhouse (Tal Grushka) acontece o imprevisto e o repentino. Um daqueles gestos impensados, dos quais nos arrependemos para sempre. Tamar está retirando alguma coisa do carro, quando ouve uma buzina insistente sinalizando que alguém não pode esperar. Tamar faz o gesto obsceno e não precisa esperar muito para ouvir e sentir a enorme caminhonete passando por ela de raspão e levando a porta por diante.

Olhe só, esta outra história que daria um filme melhor. Alguém conhecido estava esperando a filha sair do Colégio, quando abriu a porta do carro, quase voou junto. Um carro passou literalmente voando e levou a porta, que virou uma sanfona. É certo que o caso não é o mesmo. Mas, o que sei é que a partir daí, a proprietária do Fiat – que até então era novinho em folha - comeu o pão que o diabo amassou. Além de ter que pagar todos os prejuízos do acidente, teve que ouvir que a outra parte deu uma festa com o dinheiro pago por ela, pois o seguro terminou pagando tudo. Reza a lenda que seus familiares teriam sido convidados para a dita festa. Será que é verdade tanta humilhação? Não pode ser. Minha amiga com certeza estava brincando. O que sei é que se fizessem um filme com essa história seria melhor que Gesto Obsceno.

Neste filme bobo, o personagem - perdido, sem emprego, sem vontade, mal casado e desejando a babá do filho - tenta justiça pelos meios legais. Vai à polícia quando descobre que o motorista que levou sua porta era um veterano de guerra, o truculento Danny-Ben-Mosche, o sr. Dreyfus (Asher Tzarfati). A polícia faz vistas grossas.

Michael tenta diversas abordagens. Não tem sucesso em nenhuma. Tudo vai desmoronando em sua vida. Sedento por justiça, que nem Gerard Butler, em Código de Conduta resolve agir por conta própria. E me abismo, vibrei como a proprietária do Fiat, que com certeza, junto com Michael matava seus fantasmas com a bazuca. E bum! Bum! Os sons da festa do Dia do Holocausto se misturam aos da explosão da caminhonete do cretino, do truculento Ben- Mosche, que ameaçava cada vez que se dirigia para Michael Klienhouse: “Suma daqui, eu vou acabar com você”!


CÓDIGO DE CONDUTA

Gerard Butler é um dedicado pai de família que se transforma em monstro em Código de Conduta, dirigido por F. Gary Gray. Gostei do filme apesar de imperar a extrema violência. Porém, o final seria diferente, se a versão fosse minha.

O filme pretende destacar a figura de Gerard Butler (Clyde Shelton) e criticar, sem muita convicção o sistema judicial americano. Como não poderia deixar de
ser, algumas sequências são extremamente chocantes, como o assassinato da família de Clyde, no início. Afinal a platéia quer violência!

A mulher e a filha do engenheiro são assassinadas, em cenas de profunda brutalidade, até para nos convencer sobre as suas razões. Butler foi escolhido a dedo, encarnando um personagem no mínimo patético. Gerard Butler tem enormes e irresistíveis olhos verdes. O ator tem carisma e se presta para fazer personagens violentos. Afinal, todos nós temos um monstro lá dentro, que precisamos domar, não é mesmo?

No início, Clyde é um dedicado pai de família. Porém, ele, a mulher e a filha são vítimas de dois assassinos. Não fica claro se o ataque foi latrocínio ou assassinato a sangue frio. Acho que isso não importava para o diretor. Esfaqueado e amordaçado Clyde assiste à morte da mulher e ao roubo da filha, que também é assassinada. Um dos culpados ganha a liberdade, graças a um acordo feito com o audacioso promotor Nick Rice (Jamie Foxx). Clyde revolta-se contra Nick, que insiste em sua posição.

Anos depois, o assassino é encontrado morto e esquartejado. Clyde é preso mesmo sem provas contra ele. Aos poucos, os envolvidos aparecem mortos, um a um. Clyde é o suspeito número 1.

Jamie Foxx interpreta o cínico promotor público, que faz acordos para subir na carreira, sem importar-se com os estragos que faz nas vidas de seus clientes. O ódio de Clyde é contra todos os envolvidos no sistema judicial americano, podre e corrupto. Assim o filme se desenvolve como um jogo de gato e rato entre Clyde e Nick.

Quando o tal sistema judicial condena à morte o homem errado, Butler começa a agir por conta própria. Vai explodindo e matando, em lances geniais, todos os implicados naquela farsa.

Perguntamo-nos, como um pacato engenheiro, pai de família e lindo daquele jeito, pode se transformar em um frio assassino? Como pode ser preso por assassinato? Como pode passar para outro lado? Como pode transgredir daquele jeito? Mesmo que não houvesse provas, ele era de fato o único suspeito. O espectador percebe que Clyde ultrapassa até os limites da vingança, quando ele mata, sem mais nem menos, o companheiro de cela, com o osso que sobrou do jantar.

Nick era cínico o suficiente para desligar a gravação de sua conversa com Clyde - quando eles se encontram pela primeira vez na prisão - e lhe dizer ao ouvido que aprovava o assassinato do criminoso (Christian Stolte), que este não faria falta a ninguém. Para logo a seguir caçar Clyde, impiedosamente.

O espectador sabia que aquela guerra estava perdida por antecipação, que Clyde seria destruído no final. Afinal, o sistema corrupto sempre vence, apesar de todas as denúncias que o deixam mais sombrio ainda.

E se o engenheiro Clyde era tão genial para imaginar e criar toda aquela artilharia de morte? Como de repente Nick fica tão esperto e inteligente para vencê-lo?

Entretanto se a versão fosse minha, Clyde explodiria com tudo e mataria a todos. Como em uma tragédia grega, ele também morreria, pois no fundo era um louco e um trágico suicida. Imagino Clyde conseguindo vingar-se do promotor Nick, levando ao extremo sua demência. Então, sucumbiria, vítima de si mesmo. Clyde, como Medéia é o verdadeiro retrato das forças antagônicas que governam a alma humana. Alguém consegue imaginar tragédia maior que a de Medéia matando os próprios filhos? Acho que dessa forma o filme seria mais impactante e trágico!

Não deixe de assistir a este contraditório filme e à beleza de Gerard Butler.