domingo, 27 de dezembro de 2009

O Solista

Desejo e Reparação e Orgulho e Preconceito são os filmes recentes que recomendam a obra do diretor inglês de 37 anos apenas. Em O Solista, Joe Wright trata do tema da esquizofrenia, uma desordem cerebral crônica e incapacitante. Jamie Fox faz o homeless Ayers, apaixonado pela música. Desde menino Nathaniel estudava música. Criança aparentemente normal dedicava-se com exagero aos estudos. Até o dia em que teve a primeira crise de pânico.

Robert Dawney Junior é o jornalista que escreve sobre muitas vidas. Por acaso encontra Ayers tocando violino embaixo do viaduto, na cidade de Los Angeles. O local tem uma energia negativa, é sujo e decadente. Para Ayers é tudo o que precisa para expressar seus sentimentos, um espaço aberto para viver sem as pressões insuportáveis da sociedade.

As cidades têm seus espaços negativos, sujos e decadentes. O tempo passa para esses lugares. As requalificações são inúteis. Muitas pessoas não gostam e não sabem porque. Sentem-se mal. Teriam sido cenário de terríveis acontecimentos? Ninguém sabe as razões dessa rejeição. Ayres, ao contrário, precisava desses lugares para entrar em sintonia com a cidade. Sua música elevava-se e enchia de graça as ruas, os viadutos e a trama urbana. Joe Wright filma o espaço urbano de diversos ângulos. Em alguns momentos a cidade é como um quadro. Vira uma planta de situação, a música sobe, embala o canto dos pássaros e passeia pelas ruas elevadas, viadutos e pontes. Finalmente sai através da luz no fim do túnel, como um feliz presságio.

Steve, o jornalista escritor pára. Alguma coisa inexplicável o atrai para o talento de Ayers. O músico não lhe dá atenção, absorto em repetir algumas notas sem o menor sentido. Ayres é
Nathaniel Anthony Ayers, o adolescente que tinha um futuro promissor na música. E termina nas ruas. Agora é um homem de meia-idade. Nesse momento tem início a grande amizade entre os dois. Nathaniel atravessa a tênue linha que define o caráter do que é considerado normalidade. Steve percebe seus problemas, envolve-se com o amigo. Tenta trazê-lo de volta ao mundo que, segundo seus valores considera que seria o melhor para Ayers.

Consegue convencê-lo a residir na comunidade Lamp, que abriga sem-tetos e pessoas com problemas psicológicos. Como a mulher que reclamava que quando lhe davam lítio, cessavam as vozes dentro dela. Cessavam as palavras que lhe traziam conforto.

Aos poucos Ayers sofre a influência de Steve. O jornalista consegue uma apresentação para ele no Walt Disney Concert Hall, de Frank Gehry. É hilariante a entrada dos dois empurrando o carrinho de mão do músico, no prédio high tech de Frank Gehry. Finalmente, a tão esperada grande crise acontece. O coordenador do Lamp inutilmente alerta Steve: "Os valores dos que se denominam normais não podem ser impostos aos portadores de transtornos psíquicos, nem aos sem teto. O psiquiatra somente poderá ser consultado se o paciente assim o desejar. Os medicamentos, que poderiam devolver-lhe uma vida com menos sofrimento, somente poderão ser prescritos se o paciente aceitar a medicação. Da mesma forma a internação. Nenhum doente com esse tipo de problema pode ser internado se não o desejar." Ao que parece, no Brasil, não existe unanimidade em relação a essa concepção de tratamento. Mas isso é com os psicólogos e psiquiatras.
Concordamos sim, que Steve envolve-se em demasia com os problemas de Nathaniel.

O filme transita entre os encontros e desencontros dos dois. Steve têm dificuldades com a ex-mulher, a quem é extremamente ligado. Não consegue resolver seus problemas, muito menos os de Ayers. Finalmente aceita que, para Nathaniel Anthony Ayers o grande passo foi dado. O fato de ter conquistado um amigo poderá mudar a química de seu cérebro... Steve continua sua atividade jornalística e Ayers continua sendo um portador de transtorno cerebral que conquistou um grande de amigo.

Com certeza um verdadeiro amigo é tudo o que precisamos! Não esqueça os amigos são raros e precisam ser cuidados e cultivados como os bonsais. Os atores Jamie Fox e Robert Dawney Junior estão ótimos em seus personagens. Mas o destaque fica com Robert, que parece estar de bem com a vida mesmo! Não perca este belo filme!


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