sábado, 26 de dezembro de 2009

Sempre ao seu Lado

Se você quiser pensar ou sentir sobre as perdas que sofremos ao longo de nossas vidas não deixe de assistir ao belo filme do sueco Lasse Hallström (o mesmo de "Chocolate"). A história é verdadeira, mas o diretor não parte para a pieguice. Não é necessário. É como se Hallstrom tivesse a chave daquele compartimento onde estão encarceradas as nossas emoções, aquelas que teimam em sair quando menos esperamos. Ele abre essa porta quando quer, e as pessoas choram, e choram muito.

"Sempre ao Seu Lado" ("Hachiko: A Dog's Story") é uma história real que aconteceu na década de 1930, no Japão. A primeira adaptação para o cinema foi o filme japonês de 1987 , Hachiko monogatari. Foi escrito por Stephen P. Lindsey. É a história da amizade entre Parker e seu chachorro Hachi. O remake de Hallstrom é estrelado por Richard Guere, Joan Allen e Sarah Roemer.

Basta assistir ao trailer oficial para saber que dono e cachorro se separam no decorrer da narrativa. Assim não tem porque não contar a parte principal da história. Emociona saber da relação e da lealdade entre o akita e seu dono. Para depois, simplesmente não suportar a idéia que o cachorro fica sozinho.

Deve ser o mesmo sentimento que temos em relação a nossos filhos. Esperamos morrer antes deles. Esperamos ter encaminhado e educado nossos filhos, para quando morrermos eles não precisarem mais de nós. Assim, o triste na história de Hachi , o insuportável é saber que um belo dia, sem mais nem menos, acontece a inversão da ordem natural das coisas. O dono não volta mais. O cachorro fica ali, esperando, sem entender, por mais de 10 anos. Isso é insuportável para quem vê o filme. Mesmo assim, queremos muito, muito assisti-lo, precisamos desse filme.

Como a história é verdadeira, provavelmente aconteceu com muitos outros Hachis. Com Guarani, o cachorro do meu tio Epaminondas, o Gurizinho, é certo que aconteceu. Meu tio mudou-se do campo para a cidade e não o levou . O animal era amarelo, forte e de raça indefinida. Antes da tragédia Guarani era bonito!Virou um andarilho, andava pela estrada, da chácara para a cidade. Não conseguiu encontrar o dono. Ninguém importou-se, todos continuaram levando suas vidas. Guarani desapareceu, nunca mais foi visto. Ninguém escreveu sobre ele. Morreu como viveu, no anonimato, sem lembranças. Todos o esqueceram. Colocaram a culpa nele: "Cachorro maluco e fujão!". Vendo Hachi entendemos Guarani, depois de tantos anos.

Hachi teve a sorte não viver no Brasil. Óbvio, é desnecessário explicar o porquê. Apesar de sua tragédia foi ajudado e auxiliado pelos amigos que fez defronte à estação onde esperava o dono. A repercussão da história resultou em três estátuas de bronze representando Hachi. Uma no local escolhido por ele, num canteiro da praça, defronte à Estação de Trem Shibuya, em Tóquio, na "Saída Hachi"onde diariamente esperava seu dono voltar do trabalho às cinco horas da tarde.

Os cachorros são lindos quando pequenos, Hachi era um akita fofo que despertava em cada um de nós o fator fofura. Leia a revista Veja de 16 de dezembro de 2009. Nossos cachorros já foram bebês fofíssimos como ele. Depois de 10 anos esperando, Hachi surge na tela como um velho cachorro, sofrido, sujo, peludo, de andar cambaleante. Acompanhamos a velhice e o sofrimento de nossos cachorros. Nunca esqueceremos o primeiro olhar que trocamos, quando nos vimos pela primeira vez. Como nunca esqueceremos a tristeza do último encontro. Até a natureza chorou. A chuva torrencial era de uma tristeza inenarrável. Sobraram cinzas, documentos e muitas lembranças. Se Hachi somente dignou-se a jogar bolinha para agradar ao dono que tanto amava, em nossas lembranças, nosso Hachi aparava todas as bolinhas no ar, era o Romário no campo de futebol de nossa sala.


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