sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Lula , o filho do Brasil

No primeiro dia de 2010 fui assistir ao filme do Lula. O título é perfeito, Lula é mesmo o filho do Brasil. O tema é delicado. Pois, em nosso país, Lula, o filho do Brasil é condenado por antecipação. As pessoas sequer viram o filme e o condenam. É assim, se ficar o bicho pega, se fugir o bicho come. Se você falar mal do filme será criticado e se você falar bem será mais criticado ainda. Os ex-Lula aqueles companheiros (do Lula) que se desiludiram com o presidente, (hi, hi, hi ), então, nem pensar! Afirmam que o filme é oportunista. Dizem furiosos, que é uma propaganda política , que é uma forma de incentivar o continuismo do atual governo. Quem te viu, quem te vê!

Assim azar, não é mesmo? A polêmica é salutar. Acho que Fábio Barreto não daria importância para tudo isso. Espero que ele fique bem para poder ver a grande repercussão de seu filme. Lula, o filho do Brasil é interessante sob diversos aspectos. Primeiro, emociona. Glória Pires, a Dona Lindu, é uma grande atriz, convence e emociona como a mãe de Lula. O ator que faz Lula, na infância, Felipe Falanga, é uma graça de menino. Me faz lembrar o Luiz Felipe, filho da Nádia, minha amiga paulista. Desde menino ele demonstrava sua força ao enfrentar o pai bêbado.

O filme pode ajudar a muitas mulheres. Dona Lindu é um exemplo para todas aquelas que sofrem caladas nas mãos de maridos violentos e beberrões, que não as respeitam. Observem, ela não era uma mulher violenta, mas defendia seus filhos com firmeza. Teve a coragem de procurar um nova vida longe do marido. Quantas mulheres próximas a nós, sabemos que sofrem maus tratos e permanecem ao lado de seus maridos algozes? Vivem de olho roxo e dizem que ficaram muito tempo no sol!!! Aliás, Milhem Cortaz faz o odiado pai patrão, com perfeição.

Existem muitas formas de assistir ao filme. Retirando as possibilidades das críticas que devem ser tantas, podemos nos ver também, não exatamente dentro do filme, mas em uma história paralela que acontece no mesmo tempo, atrás da tela do cinema, na tela de nossas memórias. O espectador pode lembrar o que aconteceu, em outras cidades, no mesmo Brasil. E , se nos emocionamos com Lula, no fundo choramos por nós mesmos. Como dizia a heroína de Alain Resnais, Emmanuelle Riva, em Hirochima meu Amor : "Comme j' étais jeune a jour, a Nevers".

1945, gosto desse número. Para quantos de nós essa data é familiar? É o ano de nascimento de Lula, em Caetés, Pernambuco. Como muitos de nós, ele é da geração pós-segunda guerra mundial. Se o filme trata da história de Lula e dos sindicatos do ABC paulista, a cada data citada no filme, você pode pensar em si mesmo. Como Lula, em 1964, talvez você tivesse 19 anos. Como Lula você pode ter tido a sua juventude usurpada durante a ditadura militar. Lembra-se de como você era jovem e inseguro nos anos sessenta? Como você temia pela sua própria segurança, de seus amigos ou namorado? Você lembra como tinha medo, nas passeatas, onde ía sozinho, só para espiar de longe e ver como era? Medo da repressão policial, quando sobrava pancadaria para todo lado? Das histórias que contavam... Dos jornalistas que precisavam praticar autocensura... Dos livros que não se podia ter? Ninguém deveria ter em casa, o "Capital"... Ironia do destino, poucos eram intelectuais o suficiente para conseguir ler a obra prima de Marx! Imagine você, para assistir Estado de Sítio ou Laranja Mecânica você precisava ir ao Uruguai. Em Caetés, em Porto Alegre, em Bagé ou Dom Pedrito... a repressão e as denúncias se multiplicavam. Lembra quando a polícia a cavalo parou defronte à Faculdade e você viu aquela bala de revólver grudada na parede do saguão? Quando os melhores professores foram expurgados e aposentados compulsoriamente? O filme fala de nossos professores Contreras, Ripoll, Demétrio e tantos outros. Por isso mesmo, na Faculdade de Arquitetura da UFRGS não tinha Urbanismo por falta de professor. Era o Demétrio...

Lula, filho do Brasil revive tudo isso. O clima do Brasil dos anos 60 está ali. Por isso tem tanto a ver com todos nós, queiramos ou não. Amemos Lula ou não. Como ele, também somos filhos do Brasil. Os tons pálidos, de fotografia desbotada, sem dpi, para parecer gasto e antigo, de 50 anos atrás, é o retrato da nossa vida também. Da vida do brasileiro, que teme por assaltos, pelo precário atendimento de saúde pública. Se houver erro médico, ai de ti. Houve? Ai do Lula, que perdeu a sua Lurdes (Cléo Pires) . Por falar nas mulheres de Lula, Dona Marisa, interpretada por Juliana Baroni está bem como a companheira de longa data, na trajetória do sindicalista do ABC.

O jovem Lula é carismático. Rui Ricardo Diaz é igual ao Lula, na juventude. O cabelo me pareceu excessivamente escuro e crespo, enfim. Não há como negar, na conjutura dos anos 60, 70 Lula foi um homem corajoso. E, como perfeição não existe, Fábio Barreto mostra que Lula enganou seus companheiros de luta, ao abandonar as dependências do sindicato durante uma das greves. Foi vaiado. Mas como esperto que era, e é, artista na manipulação das vontades fez pender a balança para o seu lado novamente.

Assista a Lula, filho do Brasil, recomende para seus filhos, será bom para eles.


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