domingo, 3 de janeiro de 2010

Partir

Partir de Catherini Corsini é um filme duro para o espectador. É difícil entender as razões da personagem principal, interpretada pela bela Kristin Scott Thomas. A própria atriz prefere não ser reconhecida simplesmente como uma mulher bonita, mas como alguém que busca muito mais para seus personagens. A diretora, Catherine Corsini é uma mulher engajada na luta em favor das minorias, na França, e contra a violência conjugal. Seu filme ultrapassa esses limites e discute os instintos e as paixões inexplicáveis, que envolvem o ser humano.

Kristin Scott Thomas é Suzanne, uma mulher madura, casada com um médico bem sucedido, Samuel (Yvan Attal), com dois filhos adolescentes. Leva uma vida segura, tranquila e endinheirada. Como Kristin, a personagem tem aproximadamente 49 anos. Após muitos anos dedicação ao marido e filhos resolve voltar às suas atividades de fisioterapia. Por isso o casal faz planos, e executa a reforma do consultório. Para Suzanne trabalhar perto da família. Vivem em uma casa moderna, clean e minimalista, com obras de arte de pintores famosos. O que mais uma mulher poderia desejar?

Catherine Corsini tem suas indagações e nos coloca o problema por trás de águas aparentemente cristalinas. O filme fala sobre os instintos que podem dominar nossas ações. É o que acontece com Suzanne, quando encontra o operário, que executa a reforma. Para o espectador, Ivan (Sérgi Lopez) é um homem comum, quase gordo. O ator é catalão e tem 44 anos. Possui cabelos castanhos e curtos. Nada em sua aparência explicaria as razões de Suzanne. Mas, atração sexual e instinto não se explicam num estalar de dedos.

Suzanne é um mistério para o espectador. Ela vê Ivan e tudo muda. Sente-se extremamente atraída pelo tipo, fortão, muitos músculos, muitos músculos? ( para ela é claro), muita força física, isso sim. Ao contrário do marido, um médico, pendendo mais para intelectual do que para carregador. Ninguém explica a química que acontece entre cérebro e instinto, e que faz com que todos , homens e bichos sintam o apelo sexual.

Assim, o mundo de certezas de Suzanne se esvai num primeiro beijo tentador e abrasador. Não contém o instinto que a devora. E Suzanne comete loucuras em nome de sua paixão. Sim, paixão cega. De que falariam os dois amantes com experiências de vida tão diferentes? Ivan conta que tem uma filha pequena, que precisa pagar a pensão para a ex mulher, e que é ex presidiário.

O casal passa a viver num mundo de incertezas. Encontram-se em uma casa de campo, em meio à natureza, bem ao gosto francês. Me fez lembrar Le Bonheur, de Agnès Varda em sua visão romântica e feminina. Com o diferencial de que Le Bonheur era belíssimo.

O filme interessa pelas imagens, pela forma com os atores criam seus personagens, apaixonados e torturados. Corpos nus e contorcidos, num tal êxtase meio doloroso, que até parecia o "Êxtase de Santa Tereza"- de Bernini . Suzanne contraditoriamente tenta dominar o cenário. Surpreende tanto ao ressentido marido e filhos, quanto ao amante, com suas atitudes impensadas. Encontra compreensão somente no filho adolescente.

A personagem é tomada pela paixão, pelo prazer sexual e instintivo, cujas cenas esgotam o espectador. Imagine como devem ter emocionado e consumido os dois atores. Catherine nos mostra de alguma forma as razões de Suzanne, quando ela volta para casa e é obrigada a fazer sexo com o marido.

Assim Catherine Corsini, sem sombra de dúvidas, discute a violência conjugal, independente de classe social, e as razões ou a falta delas que levam a personagem à sua atitude destrutiva final. Se Suzanne foi tomada pela paixão também ficou cega pelo ódio.

O filme está passando no NT Cinemas de Porto Alegre, uma bela casa que lembra Frank Lloyd Wright e art- nouveau, incrível!


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