Você lembra de Agnès Varda, a diretora francesa do inesquecível "Le Bonheur"? Pode imaginar Agnès falando de si mesma, aos 80 anos? Para o simples espectador Agnès Varda é um mito, distante e inacessível. Em seu próprio filme é uma senhora de 80 anos, de aparência normal. Mas não é, acima de tudo Agnès é uma mulher genial. Nos anos 60 já estava à frente de seu tempo. E no século XXI. Madame Varda conta sua vida e faz desse relato uma obra de arte.
Aos 27 anos quando começou a realizar seus primeiros filmes, tinha assistido a poucos, uns dez ou quinze. Não frequentou uma escola de cinema. Agnès sempre viu o mundo de uma outra forma. Diferente de nós, ela vê o mundo através do olho da câmera cinematográfica. Quando fala das praias do norte da França, onde viveu sua juventude, enquadra o mar, através de diversos espelhos, como numa brincadeira de criança.
Aliás, Agnès Varda deixa fluir a criança que existe dentro dela. Por isso, conta sua vida através de intervenções que são verdadeiras obras de arte. Quem senão uma artista poderia imaginar uma exposição de fotos de verdadeiros agricultores, mostrar essa exposição no espaço rural, dos próprios agricultores, conseguir patrocínio e fazer disso um evento internacional?
Quando conta como filmou "Le Bonheur", com um casal, uma família de suas relações fiquei surpresa. Talvez por isso mesmo, como não eram atores profissionais e quase viviam seus próprios papéis, tudo fluía com tanta naturalidade e beleza, como se vivêssem dentro de uma paisagem impressionista.
O auge de sua produção coincide com uma explosão de manifestações culturais e políticas, que marcaram os anos 60, 70, na França.
"As praias de Agnès" mostra uma cena profundamente influenciada pelo surrealismo. Muitas foram filmadas no próprio quintal da casa de Agnès. Em uma delas um casal aparece nu, no quintal de agnès, com as cabeças cobertas por um capuz. Poucas vezes, homem e mulher, masculino e feminino me pareceram tão belos e tão perfeitos. Aqui Madame Varda é a Dali do cinema.
Casada com o diretor Jacques Dèmi, ela mostra seu convívio com ilustres e famosos, principalmente diretores de cinema.
O que para a diretora é simples, é a vida do dia a dia, do cotidiano; para nós é mito, é mistério, é deslumbramento e alegria diante de uma mulher que viveu muito e ainda partilha conosco sua vida, sua obra e sua genialidade. Como pode?
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