Pablo Meza é o diretor de "La vieja de atrás". Mais um filme sobre pessoas engolidas pela grande metrópole. Desta vez , uma viúva e um estudante de medicina. Duas pessoas vivem solitárias e anônimas em Buenos Aires. Poderia ser Porto Alegre, ou pior ainda, São Paulo. O tema virou lugar comum. Ninguém se impressiona. Somos em grande parte responsáveis por tudo ou quase tudo que nos acontece. E de nada vale jogar a culpa nos outros. A pobre Rosa, esses seriam os têrmos que minha mãe teria para se referir à senhora Rosa (Adriana Aizemberg) que vive isolada num apartamentinho escuro, num prédio mais escuro ainda, em Buenos Aires. Pablo Meza estaria tentanto provocar no espectador sentimentos de miserabilismo em relação aos personagens? Deveríamos sentir compaixão pela pobre senhora? igual à mãe da Cenira, que foi atropela quando inadvertivamente atravessou a rua? Pudera! sempre olhando para baixo e com os cabelos caídos sobre os olhos. O que mais poderia ter acontecido? Essa poderia ser uma outra versão de Pablo Meza.
O caso é que Rosa vive aquela rotina de mediocridade. Levanta-se, toma um café muito pobre, com bolachas duras e cheirando a mofo, arruma os cabelos, procura o brinco perdido e sai de casa. Até aí nenhuma novidade. As senhoras idosas sempre têm alguma coisa perdida. E juram que foram roubadas... Mas isso também acontece com as jovenzinhas... Bate a porta da rua, vê o vizinho, um jovem, caladão, estudante de medicina, que veio do interior. As cenas se repetem diariamente. Um cuida o outro. E fazem questão de pegar o elevador juntos. Em prédios de idosas, todas sabem da vida de todo o mundo. Assim, Rosa sabe que o jovem está em apuros financeiros e que deve mais de três meses de aluguel.
Marcelo (Martín Piroyansky), o vizinho, fragilizado, sofredor do interior - veio de La Pampa-, tem grandes dificuldades para adaptar-se à vida na grande cidade. O pior é a falta de apoio da família que o quer de volta para ajudar nos trabalhos do campo. Assim, valorizar que o filho conseguiu entrar para a Faculdade de Medicina parece que não passa pela cabeça dos pais de Marcelo. Nem ele próprio se valoriza, eis o xis da questão.
E se Rosa vive numa condição de solidão, deve ter contribuído muito para isso. Pablo Meza mostra o insuportável e o difícil que é viver como Rosa e Marcelo, morar num bairro pobre de Buenos Aires. Descem do elevador, ao som de insuportáveis ruídos e solavancos. Quando o elevador tranca, a cena é lenta. Fica tudo escuro, não se vê nada. E a cena se repete muitas e cansativas vezes. Bem como o ruído ensurdecedor da rua, para onde os dois se dirigem. Ele para distribuir panfletos de propaganda de garotas de programa. Ela para ficar parada numa esquina, sem atravessar a rua, sem fazer nada. Cuida do vendedor de flores? Tem alguma esperança de conquistá-lo?
Em uma coisa Rosa é trangressora. Sem pensar muito, convida Marcelo para morar com ela. Rosa aqui foi adoravelmenmte transgressora. Mas não ofereceu nada a Marcelo. A única condição é a mais difícil de cumprir, e ela exige: Marcelo deve conversar com ela! Rosa quer alguém para conversar! E compra essa conversa. E exige essa conversa. E Marcelo que esta na pior não tem muito o que dizer para Rosa. Pois, se nem uma namorada o pobre menino consegue?
Assim, Pablo Meza fala dessa limitação, dessa falta de alguém com quem conversar, da incomunicabilidade, das dificuldades de comunicação dos dias de hoje e da solidão implacável que atinge qualquer idade. Enfim, Rosa poderia voltar a estudar, buscar um grupo de terceira idade para ser infantilizada..., adotar animaizinhos, falar com eles nem que fosse em outra língua, em francês por exemplo. Assim, ela poderia divertir-se consigo mesma e desistir de querer comprar uma conversa de quem não quer falar com ela... E Marcelo? Oh Marcelo procura uma psicóloga. Fala de tuas angústias para alguém, menos para D. Rosa. Com ela só vais conseguir café aguado com bolachas duras...
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