domingo, 29 de julho de 2012

Meu lugar é aqui (This Must Be the Place)

Paolo Sorrentino faz um filme diferente de tudo o que você viu até hoje. Sean Penn é o cantor de rock "retired" , mas que continua investindo na máscara que usava como roqueiro. Quer dizer, na maquiagem pesada, implantada numa cara triste, como a dos palhaços. Imagine! O ator está sensacional como Cheyenne. O problema não é dinheiro, isso ele tem de sobra. Seu personagem poderia ser uma nova versão de D. Quixote, possui uma aparência estranha, cabelão azul ruano todo espetado, caindo sobre os olhos. Sopra a madeixa que o incomoda. Num mundo violento de pessoas desprezíveis, Cheyenne usa a maquiagem como arma de defesa. Descobriu sua fonte de renda nas canções de protesto, no pessimismo e na depressão. Não foi ele que cantou com Michael Jaeger, foi Michael que cantou com Cheyenne, sacaram?

A aparência estranha esconde alguém honesto e de bom coração, mas que também esconde muita raiva e sentimento de abandono. Cheyenne começa a agir como D. Quixote, sai em busca de si mesmo? Ou do nazista que torturou seu pai? Sai em busca do amor paterno, que sempre julgou não merecer. Um dia Cheyenne decidiu que seu pai não o amava. Como os jovens, colocou essa idéia na cabeça e não pensou se era verdadeira ou não, se era amado ou não. Passou a vida acreditando ser mal amado. Ao procurar o torturador nazista buscava a reconciliação com o pai.

Vemos o cavaleiro da triste figura com uma mala de rodinhas do século XXI. Tem gente que circula por aí a semana inteira com sua maleta de rodinha, leva tudo o que precida, vocês já viram? Todo de preto, é motivo de chacota numa sociedade imbecil que não aceita o diferente. Quando resolve partir em busca do torturador de seu pai, sai também em busca de si mesmo e de um sentido para a vida. Por isso, quando seu amigo o caçador de nazistas, que é também o Sancho Pança, lhe pergunta porque anda de déu em déu de narizinho para o ar sofrendo daquele jeito? Cheyenne responde: não é que estou gostando de passar por todo esse trabalho?

A mãe inconformada com o desaparecimento do filho, que um dia não voltou para casa, passa o dia inteiro pitando, esperando-o. Cheyenne lhe diz que com todos os seus defeitos, nunca provou um cigarro. Ela responde que ele é como as crianças,  não sentem vontade de fumar. Quando finalmente Cheyenne  prova o gosto do cigarro, volta para casa, sem máscara e sem pintura. O sorriso da mãe, não lembro mas o sorriso de Cheyenne jamais vou esquecer. Sean Penn é o mesmo máximo!

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