terça-feira, 31 de julho de 2012

Batman, o Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight Rises)

O terceiro filme da trilogia Batman dirigido por Christopher Nolan está arrebatando emoções,  provocando um turbilhão de sentimentos no espectador. As salas de cinema estão repletas. Não é possível um mínimo de isolamento, para você viver e entrar dentro do filme. Tem sempre alguém do seu lado, fazendo muito ruído ao mastigar  pipocas. Fazendo mais ruído que cachorrinhos comendo ração. Parece que os 100 porquinhos foram ao cinema! É pior quando eles iluminam a sala com o celular, no meio da sessão. Decidido, sento na terceira fila, nem assim fico à salvo.

Batman está de volta. Christian Bale encarna o herói sombrio com perfeição. E eu que implicava com sua maneira de pronunciar as palavras, calo-me. Quando aparece em close revela-se o verdadeiro herói das trevas.

Christopher Nolan é o diretor que consegue captar a essência de Batman e superar a História em Quadrinhos. Faz uma reflexão sobre  a violência da sociedade norte-americana, sobre esse lado "dark"  que atinge limites insuportáveis após 11 de setembro. Tão verdadeiro que a realidade supera a ficção. A violência explode dentro da sala de cinema, em Denver, Colorado. Confunde ficção e realidade. Na estréia de Batman, o  atirador metralha a platéia. Enquanto a violência explode na tela, ele mata ao vivo, 12 pessoas e fere 59. Todos se perguntam por quê? Eu também me pergunto por quê? E mais ainda quais as razões que levam os vilões a se transformar em monstros? Nem Christopher Nolan consegue explicar.

Em Batman ninguém é inocente, Gotham City é quase uma Sodoma e Gomorra, as cidades da Bíblia onde imperava o pecado. O campo de jogo parece um Coliseu destruído, quando Bane explode as bombas, após a inocência cantar o hino. Batman vive recluso, com marcas e sequelas, após a vitória no segundo filme. As cartilagens dos joelhos e braços inexistem, parece um idoso de bengalas. Até a graciosa Mulher Gato, o engana.

O filme mostra o herói duas vezes combalido. Na primeira, quando após viver no anonimato por muitos anos, precisa voltar para salvar Gotham City, e na segunda quando está semi-morto no fundo de uma prisão megalítica e inexpugnável, em formato de cone. Reza a lenda que ninguém fugiu dessa prisão, a não ser uma criança.

Como todos os ladrões, desonestos e cínicos da cidade perdida, o inspetor de polícia Jim Gordon,  interpretado por Gary Oldman, vive uma vida de mentira, no mais escuro dos mundos. Aceitou incriminar Batman, em benefício de Harvey Dent (Aaron Ackhart), que foi transformado em herói.

Por falta de coragem não revela seu segredo, somente Bane o grande vilão não perde nada ao revelar o segredo de Jim. Faz uma revolução às avessas, ao enganar e fazer demagogia com essa falsa revolução do proletariado. Execuções sumárias, tribunais  que decidem a condenação por antecipação, tudo nos moldes do Terror da Revolução Francesa e no livro de Charles Dickens "Um conto de duas cidades" , de 1859.

Imitando a realidade de Denver, não existem explicações satisfatórias para a maldade dos vilões. Por mais que uma filha deseje completar a obra de seu pai, é inexplicável como Miranda Tate, interpretada por Marion Cotillard - uma das mais belas mulheres do cinema - consegue esconder suas verdadeiras intenções. E, porrada mesmo é o vilão-mor, um monte de músculos, altura e gordura, tudo junto, sem cara e sem sentimentos. Por mais que Mariane conte a história de seu protetor Bane, o seu grau de maldade chega a ser um mistério. Aliás, o paradoxal é que Christopher Nolan realiza um filme quase perfeito, com uma única restrição. A máscara que faz às vezes de boca em Bane, lembra a de Darth Vader, o vilão de Star Wars de George Lucas. Enfim essa cara de vilão já conhecíamos. Pelo menos a história de Darth Vader era mais plausível para explicar a maldade. Enfim, volto a dizer a mim mesma, deveras maldade não se explica...

Christopher Nolan faz o espectador sofrer junto com Batman. Somente após duas horas de filme temos a revanche. E nosso herói volta com força total, com seu manto de morcego, moto infernal, de pneus pensantes, voando dentro de túneis. E mais, seu escaravelho voador, brilhante e metálico paira sobre Gotham City! Quando a marca do Batman fisga o pescoço do inimigo, os homens das sombras caem um a um, como cartas de baralho. Nós e Gotham City estaremos à salvo!

Selina Kyle (Anne Hathaway) engana Bruce Wayne, ao roubar-lhe a preciosa lembrança da mãe.  Indecisa, demora a optar por lutar ao lado de Batman. Pequena ladra, finge preocupar-se com igualdades sociais. Mas tem seu grande momento quando irrompe das sombras cavalgando uma enorme moto. Com uma rajada de balas salva o homem que será o amor de sua vida. Anne Hathaway é o próprio desenho em quadrinhos que ganha vida. Está lindíssima. Seu olhar - mais que o de um  "basset hound" - é revelador e diz do medo que sente em relação à essência do Mal que caracteriza Bane (Thomas Hardy). Alta, muito magra, vestida de preto, roupa colada ao corpo, longos cabelos e a máscara de gata.  Selina levanta-se da moto, fazendo  um giro com uma das longas pernas, como num passe de balé. Enfim agora ela sabe o que quer para sua vida. Prestem atenção, a cena é belíssima. Literalmente, é a arte das duas dimensões dos quadrinhos virada  em filme.

Joseph Leonard Gordon-Levitt é o jovem policial John Blake. Embora Christopher Nolan e seu irmão afirmem que desejam colocar um final na história da trilogia, parece que introduzem um possível novo herói,  também órfão. Batman reforça essa idéia quando afirma -  referindo-se a ele próprio, no dia em que  ficou órfão e recebeu o carinho do comissário Jim Gordon: "Batman não é Bruce Wayne, é qualquer um que seja capaz de colocar um casaco nos ombros de uma criança para que ela saiba que o mundo não terminou". Ao que parece, Joseph Leonard Gordon-Levitt,  o jovem órfão é o herdeiro de Batman. 

E finalmente, o grande ator Michael Cane personificando o velho Alfred Pennyworth consegue realizar seu sonho em Florença, à mesa de um bar, provando o seu drink predileto.

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