Tudo começa ao som de "Volare",
"Volare oh, oh
cantare oh, oh
nel blu dipinto di blu
felice di stare lassù
e volavo, volavo felice più in alto del sole
ed ancora più su
mentre il mondo pian piano spariva lontano laggiù
una musica dolce suonava soltanto per me"
Não sei como, mas conheço decor a letra dessa música de Domenico Modugno. E assim de cara me apaixonei pelo filme de Woody Allen. "Para Roma com Amor" é o melhor filme do diretor. Pode ser até porque, quando gosto de alguma coisa, lembro somente esse último fato que me impressionou. Não sei bem porque, lembro agora que sempre achei impressionante a capacidade que temos para esquecer a dor física. Quando fiz minha cirurgia cardíaca sentia dores horríveis. Esqueci tudo, não consigo lembrar a dor. Melhor assim. Tudo isso para dizer que no momento, dos filmes de Woody Allen, só lembro de "Para Roma com Amor". E me atrevo a dizer, parece que Woody Allen sabe que existem pessoas como a Doris Maria, e fez este filme para elas.
Para começar Roma! Existe cidade mais linda e impressionante na face da terra? Tudo aquilo que vi rapidinho e prometi para mim mesma voltar, um dia, Piazza di Spagna, Piazza del Poppolo, Fontana di Trevi, ruelas de Roma, enfim um cenário perfeito para Woody Allen.
Das quatro histórias, a que mostra o casal do interior, recém chegado à Roma, é a melhor. Adivinhem, justamente ali está a homenagem a Fellini. É a mesma história de "Il Sceicco Bianco" (Abismo de um Sonho), o maravilhosos filme de Fellini, que assisti em Dom Pedrito - bons tempos - com minha irmã. Saímos rindo do cinema, perplexas com a personagem de Brunela Bovo, tão simplória, que não conseguia sequer cometer suicídio! Corram à Livraria Cultura e comprem esse clássico de Fellini. Com Woody, a bobinha e simplória é Milly (Alessandra Mastronardi), o marido que casou virgem é Antonio (Alessandro Trossardi). Com Fellini, ela é Vanda (Brunella Bovo) que se encanta com o canastrão e mulherengo astro de fotonovelas, "o xeique", interpretado por Alberto Sordi. A cena do "clown" Sordi num balanço, no alto de uma árvore, é um dos grandes momentos de Fellini. Atrevo-me a dizer, foi pena que Woody Allen não colocou o mesmo complexo de culpa, de Vanda, em Milly. Nem fez com que com ela tentasse o suicídio numa pocinha de lama! Amei aquelas cenas! Porém a Milly do século XXI, não está nem aí para sentimentos de culpa, nem é tão bobinha. Obedecendo ao ditado "a ocasião faz o ladrão" Milly transa com este último, afinal... já estavam na cama... O marido Antonio, temeroso e inseguro é interpretado por Alessandro Tiberi. Precisa tomar aulas de sexo com a experiente Penélope Cruz. A atriz de Almodóvar está ótima como Milly Anna. Acrescentou o Milly quando precisou substituir a esposa sumida. Adivinhem onde está Ornela Muti? Inacreditável é Pia Fusari, uma das atrizes, atrás de quem Milly corre atrás.
Id, ego e super ego invariavelmente aparecem nos filmes de Woody Allen, ao que parece ele, de longa data, também é adepto da terapia. Desta vez, John (Alec Baldwin) é o super ego do próprio Woody, quem sabe... Fica falando que nem o Yoda de "Guerra nas Estrelas", o mestre mais poderoso do universo. Jesse Eisenberg é Jack, de certa forma, é o próprio arquiteto na juventude. Por isso mesmo John fica alerta, dando conselhos e analisando psicologicamente o comportamento de Jack e da maluquinha Monica (Ellen Page).
Agora Lucinha, me diz uma coisa, reconheceste alguém baixinho, cabelhos grisalhos, usando óculos, que ama o cinema e não quer ouvir falar em aposentadoria? Não é que é o próprio Jerry? Interpretado por Woody Allen? Em seus filmes quase sempre é casado com uma mulher madura que conhece todas qualidades e defeitos do marido e que tem a maior paciência com ele. Desta vez a senhora Phyllis é a encantadora Judy Davis.
Jerry vai visitar a filha em Roma. Descobre por acaso um talento que só sabe cantar no banheiro. É o pai do namorado de sua filha. Gênio, Jerry cria um espetáculo para o agente funerário transformar-se em tenor, que continua cantando no banheiro! Quase pega a gripe A, he! he! he!
Para finalizar e deixar as Doris deste mundo felizes, Monica a jovem interpretada por Ellen Page, quando quer impressionar John, cita uma frase de cada poeta. E ela cita Rainer Maria Rilke... Oh! foi demais para mim que até dei o nome de Rilke para o meu cachorrinho predileto!!! E eu, que sei uma única frase de um único poeta, Rilke!
"Oh saudades dos lugares que não foram bastante amados na hora passageira, quem me dera devolver-lhes o gesto esquecido, a ação suplementar..."
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