sábado, 29 de agosto de 2009

ENQUANTO O SOL NÃO VEM

O título do filme em português é tão sem graça que não vale a pena escrever. Parlez moi de la Pluie é bem mais interessante e fala um pouco da impaciência dos personagens com a própria vida, colocando a culpa de muitos problemas no tempo e na chuva. O filme é dirigido e interpretado por Agnès Jaoui, que faz Agathe Villanova, uma mulher bem sucedida que resolve entrar na política. O roteiro é de Agnès Jaoui e Jean Pierre Bacri. A diretora ganhou o prêmio de melhor roteiro em Cannes por seu segundo filme, Questão de Imagem. Foi indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, em 2000 pelo primeiro, O Gosto dos Outros.

Os conflitos são amenos. O filme tem um toque delicado e feminino, e passa livre de peso pelos dramas familiares, problemas da imigração e mulheres na política.

Agathe viaja para a cidade onde viveu no sul da França, para ajudar a irmã Florence (Pascale Arbillot) a resolver os problemas do espólio da falecida mãe.

O tom do filme é leve. A história é contada com um humor sutil e inteligente. Karim (Jamel Debbouze) é o personagem problemático. É um imigrante argelino, filho da empregada. Sente-se rejeitado pelas patroas de sua mãe, Mimouna ( Mimouna Hadji), e não crê que qualquer das duas possa ter afeição por ela. Karim sentia-se duplamente jogado fora, por ser um imigrante franzino e ter um defeito físico. Isso não foi mencionado, mas era visível.

Karim resolve fazer um documentário com seu amigo, o jornalista Michel Ronsard (Jean-Pierre Bacri). A personagem do filme dentro do filme é Agathe. Ela é a política e a feminista. Se a história se passasse no Brasil, a mulher poderia ser Dilma. Karim vê a vida através da janela do filme e tenta contar uma versão nada lisongeira de Agathe, simbolicamente queimando o seu próprio filme.

Florence é a irmã, sempre tensa e cheia de problemas que não faz a menor questão de tentar resolvê-los. Florence trai o marido, um dos poucos homens medianamente bonitos no filme. O outro homem interessante é o companheiro de Agathe.

Engraçados mesmo são Karim e Michel. Os dois querem fazer um filme, mas entendem muito pouco de cinema. Não combinam nada entre si, antes do trabalho e começam e a se desentender diante de Agathe. Karim interrompe as filmagens, puxa Michel para um canto e começa o bate-boca. Agathe assiste a tudo, impaciente, quase não acredita no que está vendo. Guardando as proporções são dois “clowns” e parecem o Gordo e o Magro.

Em uma das cenas mais divertidas o grupo vai filmar em um lugar distante e muito alto. Chegam cansados ao topo da montanha. Nada dá certo. Karim faz perguntas agressivas para Agathe. Quando a coisa vai engrenar, ele verifica que Michel não filmou. Recomeça o bate-boca. Agathe chega no limite. Quando tentam filmar novamente, um coro de ovelhas rodeia o grupo e parece que responde mé, mé, mé! Recomeçam a filmagem e termina a bateria. Michel, obviamente levou a bateria errada. Quando vão embora irritados, são seguidos pelo rebanho das dóceis ovelhinhas. Para o cúmulo, Michel deixou o carro mal estacionado. Ao chegarem à estrada, verificam que o carro está batido e virado. Cai uma chuva torrencial, hi, hi, hi... Vão para uma estalagem onde o proprietário irritado com o governo responsabiliza Agathe, por tudo de ruim que acontece em sua vida. Para o cúmulo, o marido traído dirige o carro que irá socorrer o grupo onde está Michel, o amante de sua mulher. Mas como todo marido traído, ele é o último a saber ! É muito engraçado e vale assistir!

Michel parece ser daquelas pessoas que passaram a vida inteira sem saber que tinha déficit de atenção. Ninguém lhe disse, ninguém percebeu, e quem sabe, ninguém diagnosticou o seu déficit de atenção. Acho que foi melhor para ele. Por isso mesmo é engraçado. Quando Michel vai filmar o batizado de uma criança, filma a criança errada, e deixa cair uma bolinha - que era parte do equipamento - na testa do bebê. A bolinha faz poing !! Tadinha da criança! O pai fica fulo!
Esse senhor trapalhão era o amante da equivocada Florence que não sabia o que fazer de sua vida. Ele não se contém a conta para Agathe, que ele e a irmã dela são amantes. Agathe fica meio pasma ante tanta besteira a sua volta. A nossa Dilma é a melhor na história.

Agathe e Florence pelo menos conseguem se reunir, separar fotografias e se queixam que a mãe preferia uma das duas. Existem irmãs que não conseguem nem isso, muito menos dividir suas memórias. Nas lembranças passadas a limpo, alternadamente, cada uma sentia-se preterida pela mãe. Florence achava que mãe era muito dura com ela. Enfim o acerto entre as irmãs não é tão difícil. Agathe constata que havia em torno de noventa e seis fotos suas e uma meia dúzia de Florence. Não era sem razão, que esta se sentia o patinho feio da história.

Parlez moi de la pluie fala de personagens que fazem muito pouco para resolver seus problemas. Tentam mudar seus caminhos, sem muita convicção. Ninguém consegue tirar o pé do barro. As pessoas até que arriscam sair da mesmidade. No final, os vemos tentando acertar e buscar seus verdadeiros
valores. Agathe efetivamente é a personagem positiva que tem sonhos e vai em frente.


Nenhum comentário:

Postar um comentário