A inesquecível noite em 67 entrou para a história, transformou-se em fato histórico , sociológico e muita coisa mais. Marcou a geração do Pós-Guerra. Quem nasceu em 1945, tinha 22 anos na época. Caetano, Gil e Chico Buarque tinham mais ou menos a mesma idade.
''Uma Noite em 67" é um documentário sobre o Festival da Record de 1967, em que participaram Edu Lobo, Chico Buarque de Holanda, Marília Medaglia, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Elis Regina, MP4 , Sérgio Ricardo e outros artistas.
Não sei bem porque, nunca quis relembrar os tempos da ditadura, nem de momentos marcantes como esse. Mas minha amiga Miriam me convenceu. Fomos ao cinema. Valeu, me emocionei, revi e ouvi as músicas que marcaram a minha vida.
Assistindo ao documentário penso em como eram tempos difíceis e de intolerância. Quando revejo coisas que sei que aconteceram - e que eu gostaria de mudar-, sinto um frisson por antecipação, como nos segundos que antecem à raiva e ao desabafo de Sérgio Ricardo. Já que ele estava com tanta raiva, deveria ter batido mais vezes com o violão, no banquinho, para ele se espatifar em mil pedaços, antes de jogá-lo no público. Esse é um momento do passado que eu gostaria de mudar. Mas o próprio Sérgio Ricardo, afirma não se arrepender do que fez, mas que hoje não quebraria o violão.
Volto a lembrar a frase de Emmanuelle Riva em "Hiroshima meu Amor" : "Comme j'étais jeune a jour a Nevers"! Como eram todos jovens! Alguns belos, outros engraçados. Todos eles revolucionaram uma época de repressão, caretice e conformismo. O lema era "Brasil, ame-o ou deixe-o".
Relembrando, "Ponteio" tirou o primeiro lugar. Edu Lobo era dos mais bonitos, o tempo passou muito para Edu. Chico Buarque era um jovem belíssimo, de smoking e muito afetado. Ensaiava gestos com as mãos, sempre segurando um cigarro entre os dedos. Em 67, fumar era chic e elegante. Vejam só como os tempos mudam, ainda bem!
Dois caras que eu adoro, Roberto Carlos e Caetano Veloso. Eram uma graça na época! O casaco "pied poule" (era?) de Caetano fez história, idem o penteado. Roberto Carlos encantava com a sua sinceridade. Já era o rei e ainda não sabia. Muitos intelectuais torcem o nariz para o rei. Mas como? desde meus tempos em Dom Pedrito lembro como ele cantava "E que tudo mais vá para o inferno"! Como eu sempre gostei de tudo isso! Dois deles, hoje com mais de sessenta anos estão tão bem ou melhores, do que aos vinte, Caetano e Gil.
Me alegro em saber como eram jovens e humanos. Hoje parecem estrelas intocáveis. Naqueles tempos eram sensíveis e inexperientes. Fizeram a platéia rir muito. Roberto Carlos, Caetano e Gil mostraram uma ingenuidade e ao mesmo tempo uma perspicácia incrível. Caetano, ao contrário de Sérgio Ricardo dobrou o público somente com seu canto.
O outro, Chico, sem saber dava o recado para Sérgio Ricardo "quem me dera agora eu tivesse a viola para cantar"! A crise de pânico de Gilberto Gil foi tragicômica. Vocês conseguem imaginar aquele senhor que é entrevistado no filme, dando banho em Gil e quase obrigando-o a se apresentar? Pânico e medo são uma verdadeira prisão, Ronaldão que o diga, quando fez aquele fiasco na Copa. Por isso gostei desses artistas ainda mais, pelo lado humano que confessaram. Gil emociona quando afirma que seu segundo grande momento de medo aconteceu quando foi preso. Eles, os jovens da Record somente cantavam...
Victor Jara, o cantor chileno, teve punição maior. Não parava de cantar para seus companheiros, todos presos em um campo de futebol, no Chile. Como não parava de cantar, seus algozes pegaram um facão e cortaram suas duas mãos. Sangue, dor e tristeza por nosso irmão chileno. Essa barbárie horroriza até hoje. Disseram-lhe: "Agora canta"! Isso é verdade? Pior é a mais pura verdade. O campo de futebol virou campo de concentração. Por isso é tão verdadeira a história de Eduardo Galeano, "As veias abertas da América Latina".
Caetano nos fez rir ao não conseguir articular palavra quando lhe perguntaram o que era pop!
Acho que os diretores estão de parabéns pelo belo trabalho. "Uma Noite em 67" ficou para a história e é importante que as novas gerações conheçam e valorizem essa belíssima história da música popular brasileira. E ver como poderia virar caso de polícia uma discussão sobre a guitarra elétrica! he! he! he! Lamentei que Elis Regina tenha aparecido só em uma ou duas cenas...
Oi Dóris, tudo bem?
ResponderExcluirSeu blog tá excelente, parabéns pelo trabalho, mais uma vez.
Ontem, dia 11, não pude ir na aula, queria falar com você sobre a palestra do meu amigo de Cuiabá.Você já tem algum retorno para ele?O cara tá muito ansioso para saber a resposta.
Mas se caso ainda não tiver resposta, não tem problema, semana que vem eu falo com você.
abraço!
Eder