André Klotzel é o diretor de Reflexões de um Liquificador, um filme que ri de coisas sérias. Os atores são muito bons e parecem demais com "gente". Aliás Selton Mello é o liquidificador , mas parece gente. Ana Lúcia Torre é Elvira uma senhora idosa, que mora em uma casinha em um subúrbio paulista. Nada mais paulista do que o filme de André. As ruas, as casinhas pequenas , apertadas, fechadas por janelas basculantes na sala de estar. Vocês já viram isso? Em São Paulo tem. Tudo muito feio, gasto e apertado. São Paulo é assim. Como pode ser tão feia? e ao mesmo tempo tão atraente? Casinhas com entrada lateral e garagem no térreo, tudo colado. São Paulo é assim. André sabe muito bem disso. As senhoras idosas vivem suas vidas de abandono. Não lutam, se deixam levar. Até que quebram a perna , como Elvira , ou precisam amputá-la. Sabem? Aquelas senhoras que bebem muito às escondidas. Nem abrem as janelas de suas casinhas. Toda semana vendem garrafas de bebida para o senhor da kombi. Bem, a vida de Elvira não é muito diferente. Não bebe. Conversa com o liquidificador.
Elvira vive bem com o marido, Onofre (Germano Haiut) um senhor idoso. Ele precisa voltar a uma vida de trabalho. Consegue um emprego de vigilante. As folgas vão ficando cada dia mais raras. Até que o marido nem quer mais fazer refeições em casa. Chega só para dormir. Dorme placidamente com um sorriso nos lábios.
Elvira vai se atacando. Como toda mulher solitária, fala com alguém. Algumas falam com o cachorro, outras com o gato. Outras falam com seus entes queridos que faleceram como se eles estivessem ali, tomando mate com elas. Outras falam com a "santa" reforçando promessas. Mas falam, precisam ouvir a própria voz de vez em quando. Com Elvira acontece o mesmo. Fala com o liquidificador. O gasto e sujo liquidificador faz tudo o que Elvira quer. É o seu alter ego. Mais ou menos como o papagaio da Ana Maria Braga, eu acho...
O caso é que Elvira aos poucos fica furiosa e desconfiada do marido. O carteiro faz fofocas. Ela quase não acredita. Onofre tem outra!
Então ela faz o seu plano diabólico tendo o liquidificador como cúmplice. Um nojo, que nem o crime da mala, ou o crime da Rua do Arvoredo em Porto Alegre. O açougueiro fazia linguiça de gente.
Elvira deve ter aprontado alguma. Onofre some. Não foi mais visto. A pobre senhora não pode ver beterraba batida no liquidificador, não pode beber o suco de frutas que adorava! Sente náuseas de tudo o que é batido no liquidificador. Pudera! Pode-se imaginar o que a dupla pode ter aprontado!
O delegado encarregado de investigar o sumiço de Onofre, de cara faz a sua conclusão. É um especialista. Anda com passinhos silenciosos, para ninguém desconfiar... He...He...He... com enormes algemas penduradas na cintura. Assim ele anda disfarçado, ninguém nota que ele é detetive! sic!
O liquidificador fala pelos cotovelos. Diz tudo o que pensa e que está cansado de moer aquilo! Na delegacia, o delegado conta sua grande descoberta para o chefe! Este lhe responde: Dá licença colega! Dá para inventar outra? Para de fantasiar cara! Vai fazer alguma coisa séria. Deixa a pobre senhora em paz! Matar, serrar, descarnar e moer no liquidificador?? Tais brincando cara! Vai ver se estou lá na esquina! Te toca cara!
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