terça-feira, 31 de julho de 2012

Batman, o Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight Rises)

O terceiro filme da trilogia Batman dirigido por Christopher Nolan está arrebatando emoções,  provocando um turbilhão de sentimentos no espectador. As salas de cinema estão repletas. Não é possível um mínimo de isolamento, para você viver e entrar dentro do filme. Tem sempre alguém do seu lado, fazendo muito ruído ao mastigar  pipocas. Fazendo mais ruído que cachorrinhos comendo ração. Parece que os 100 porquinhos foram ao cinema! É pior quando eles iluminam a sala com o celular, no meio da sessão. Decidido, sento na terceira fila, nem assim fico à salvo.

Batman está de volta. Christian Bale encarna o herói sombrio com perfeição. E eu que implicava com sua maneira de pronunciar as palavras, calo-me. Quando aparece em close revela-se o verdadeiro herói das trevas.

Christopher Nolan é o diretor que consegue captar a essência de Batman e superar a História em Quadrinhos. Faz uma reflexão sobre  a violência da sociedade norte-americana, sobre esse lado "dark"  que atinge limites insuportáveis após 11 de setembro. Tão verdadeiro que a realidade supera a ficção. A violência explode dentro da sala de cinema, em Denver, Colorado. Confunde ficção e realidade. Na estréia de Batman, o  atirador metralha a platéia. Enquanto a violência explode na tela, ele mata ao vivo, 12 pessoas e fere 59. Todos se perguntam por quê? Eu também me pergunto por quê? E mais ainda quais as razões que levam os vilões a se transformar em monstros? Nem Christopher Nolan consegue explicar.

Em Batman ninguém é inocente, Gotham City é quase uma Sodoma e Gomorra, as cidades da Bíblia onde imperava o pecado. O campo de jogo parece um Coliseu destruído, quando Bane explode as bombas, após a inocência cantar o hino. Batman vive recluso, com marcas e sequelas, após a vitória no segundo filme. As cartilagens dos joelhos e braços inexistem, parece um idoso de bengalas. Até a graciosa Mulher Gato, o engana.

O filme mostra o herói duas vezes combalido. Na primeira, quando após viver no anonimato por muitos anos, precisa voltar para salvar Gotham City, e na segunda quando está semi-morto no fundo de uma prisão megalítica e inexpugnável, em formato de cone. Reza a lenda que ninguém fugiu dessa prisão, a não ser uma criança.

Como todos os ladrões, desonestos e cínicos da cidade perdida, o inspetor de polícia Jim Gordon,  interpretado por Gary Oldman, vive uma vida de mentira, no mais escuro dos mundos. Aceitou incriminar Batman, em benefício de Harvey Dent (Aaron Ackhart), que foi transformado em herói.

Por falta de coragem não revela seu segredo, somente Bane o grande vilão não perde nada ao revelar o segredo de Jim. Faz uma revolução às avessas, ao enganar e fazer demagogia com essa falsa revolução do proletariado. Execuções sumárias, tribunais  que decidem a condenação por antecipação, tudo nos moldes do Terror da Revolução Francesa e no livro de Charles Dickens "Um conto de duas cidades" , de 1859.

Imitando a realidade de Denver, não existem explicações satisfatórias para a maldade dos vilões. Por mais que uma filha deseje completar a obra de seu pai, é inexplicável como Miranda Tate, interpretada por Marion Cotillard - uma das mais belas mulheres do cinema - consegue esconder suas verdadeiras intenções. E, porrada mesmo é o vilão-mor, um monte de músculos, altura e gordura, tudo junto, sem cara e sem sentimentos. Por mais que Mariane conte a história de seu protetor Bane, o seu grau de maldade chega a ser um mistério. Aliás, o paradoxal é que Christopher Nolan realiza um filme quase perfeito, com uma única restrição. A máscara que faz às vezes de boca em Bane, lembra a de Darth Vader, o vilão de Star Wars de George Lucas. Enfim essa cara de vilão já conhecíamos. Pelo menos a história de Darth Vader era mais plausível para explicar a maldade. Enfim, volto a dizer a mim mesma, deveras maldade não se explica...

Christopher Nolan faz o espectador sofrer junto com Batman. Somente após duas horas de filme temos a revanche. E nosso herói volta com força total, com seu manto de morcego, moto infernal, de pneus pensantes, voando dentro de túneis. E mais, seu escaravelho voador, brilhante e metálico paira sobre Gotham City! Quando a marca do Batman fisga o pescoço do inimigo, os homens das sombras caem um a um, como cartas de baralho. Nós e Gotham City estaremos à salvo!

Selina Kyle (Anne Hathaway) engana Bruce Wayne, ao roubar-lhe a preciosa lembrança da mãe.  Indecisa, demora a optar por lutar ao lado de Batman. Pequena ladra, finge preocupar-se com igualdades sociais. Mas tem seu grande momento quando irrompe das sombras cavalgando uma enorme moto. Com uma rajada de balas salva o homem que será o amor de sua vida. Anne Hathaway é o próprio desenho em quadrinhos que ganha vida. Está lindíssima. Seu olhar - mais que o de um  "basset hound" - é revelador e diz do medo que sente em relação à essência do Mal que caracteriza Bane (Thomas Hardy). Alta, muito magra, vestida de preto, roupa colada ao corpo, longos cabelos e a máscara de gata.  Selina levanta-se da moto, fazendo  um giro com uma das longas pernas, como num passe de balé. Enfim agora ela sabe o que quer para sua vida. Prestem atenção, a cena é belíssima. Literalmente, é a arte das duas dimensões dos quadrinhos virada  em filme.

Joseph Leonard Gordon-Levitt é o jovem policial John Blake. Embora Christopher Nolan e seu irmão afirmem que desejam colocar um final na história da trilogia, parece que introduzem um possível novo herói,  também órfão. Batman reforça essa idéia quando afirma -  referindo-se a ele próprio, no dia em que  ficou órfão e recebeu o carinho do comissário Jim Gordon: "Batman não é Bruce Wayne, é qualquer um que seja capaz de colocar um casaco nos ombros de uma criança para que ela saiba que o mundo não terminou". Ao que parece, Joseph Leonard Gordon-Levitt,  o jovem órfão é o herdeiro de Batman. 

E finalmente, o grande ator Michael Cane personificando o velho Alfred Pennyworth consegue realizar seu sonho em Florença, à mesa de um bar, provando o seu drink predileto.

domingo, 29 de julho de 2012

Meu lugar é aqui (This Must Be the Place)

Paolo Sorrentino faz um filme diferente de tudo o que você viu até hoje. Sean Penn é o cantor de rock "retired" , mas que continua investindo na máscara que usava como roqueiro. Quer dizer, na maquiagem pesada, implantada numa cara triste, como a dos palhaços. Imagine! O ator está sensacional como Cheyenne. O problema não é dinheiro, isso ele tem de sobra. Seu personagem poderia ser uma nova versão de D. Quixote, possui uma aparência estranha, cabelão azul ruano todo espetado, caindo sobre os olhos. Sopra a madeixa que o incomoda. Num mundo violento de pessoas desprezíveis, Cheyenne usa a maquiagem como arma de defesa. Descobriu sua fonte de renda nas canções de protesto, no pessimismo e na depressão. Não foi ele que cantou com Michael Jaeger, foi Michael que cantou com Cheyenne, sacaram?

A aparência estranha esconde alguém honesto e de bom coração, mas que também esconde muita raiva e sentimento de abandono. Cheyenne começa a agir como D. Quixote, sai em busca de si mesmo? Ou do nazista que torturou seu pai? Sai em busca do amor paterno, que sempre julgou não merecer. Um dia Cheyenne decidiu que seu pai não o amava. Como os jovens, colocou essa idéia na cabeça e não pensou se era verdadeira ou não, se era amado ou não. Passou a vida acreditando ser mal amado. Ao procurar o torturador nazista buscava a reconciliação com o pai.

Vemos o cavaleiro da triste figura com uma mala de rodinhas do século XXI. Tem gente que circula por aí a semana inteira com sua maleta de rodinha, leva tudo o que precida, vocês já viram? Todo de preto, é motivo de chacota numa sociedade imbecil que não aceita o diferente. Quando resolve partir em busca do torturador de seu pai, sai também em busca de si mesmo e de um sentido para a vida. Por isso, quando seu amigo o caçador de nazistas, que é também o Sancho Pança, lhe pergunta porque anda de déu em déu de narizinho para o ar sofrendo daquele jeito? Cheyenne responde: não é que estou gostando de passar por todo esse trabalho?

A mãe inconformada com o desaparecimento do filho, que um dia não voltou para casa, passa o dia inteiro pitando, esperando-o. Cheyenne lhe diz que com todos os seus defeitos, nunca provou um cigarro. Ela responde que ele é como as crianças,  não sentem vontade de fumar. Quando finalmente Cheyenne  prova o gosto do cigarro, volta para casa, sem máscara e sem pintura. O sorriso da mãe, não lembro mas o sorriso de Cheyenne jamais vou esquecer. Sean Penn é o mesmo máximo!

domingo, 22 de julho de 2012

A velha dos fundos

Pablo Meza é o diretor de "La vieja de atrás". Mais um filme sobre pessoas engolidas pela grande metrópole. Desta vez , uma viúva e um estudante de medicina. Duas pessoas vivem solitárias e anônimas em Buenos Aires. Poderia ser Porto Alegre, ou pior ainda,  São Paulo. O tema virou lugar comum. Ninguém se impressiona. Somos em grande parte responsáveis por tudo ou quase tudo que nos acontece. E de nada vale jogar a culpa nos outros. A pobre Rosa, esses seriam os têrmos que minha mãe teria para se referir à senhora Rosa (Adriana Aizemberg) que vive isolada num apartamentinho escuro, num prédio mais escuro ainda,  em Buenos Aires. Pablo Meza estaria tentanto provocar no espectador sentimentos de miserabilismo em relação aos personagens? Deveríamos sentir compaixão pela pobre senhora? igual à mãe da Cenira, que foi atropela quando inadvertivamente atravessou a rua? Pudera! sempre olhando para baixo e com os cabelos caídos sobre os olhos. O que mais poderia ter acontecido? Essa poderia ser uma outra versão de Pablo Meza.

O caso é que Rosa vive aquela rotina de mediocridade. Levanta-se, toma um café muito pobre, com bolachas duras e cheirando a mofo, arruma os cabelos, procura o brinco perdido e sai de casa. Até aí nenhuma novidade. As senhoras idosas sempre têm alguma coisa perdida. E juram que foram roubadas... Mas isso também acontece com as jovenzinhas... Bate a porta da rua, vê o vizinho, um jovem, caladão, estudante de medicina, que veio do interior. As cenas se repetem diariamente. Um cuida o outro. E fazem questão de pegar o elevador juntos. Em prédios de idosas, todas sabem da vida de todo o mundo. Assim, Rosa sabe que o jovem está em apuros financeiros e que deve mais de três meses de aluguel.

Marcelo (Martín Piroyansky), o vizinho, fragilizado, sofredor do interior - veio de La Pampa-, tem grandes dificuldades para adaptar-se à vida na grande cidade. O pior é a falta de apoio da família que o quer de volta para ajudar nos trabalhos do campo. Assim, valorizar que o filho conseguiu entrar para a Faculdade de Medicina parece que não passa pela cabeça dos pais de Marcelo. Nem ele próprio se valoriza, eis o xis da questão.  

E se Rosa vive numa condição de solidão, deve ter contribuído muito para isso. Pablo Meza mostra o  insuportável e o difícil que é viver como Rosa e Marcelo, morar num bairro pobre de Buenos Aires. Descem do elevador, ao som de insuportáveis ruídos e solavancos. Quando o elevador tranca, a cena é lenta. Fica tudo escuro, não se vê nada. E a cena se repete muitas e cansativas vezes. Bem como o ruído ensurdecedor da rua, para onde os dois se dirigem. Ele para distribuir panfletos de propaganda de garotas de programa. Ela para ficar parada numa esquina, sem atravessar a rua, sem fazer nada. Cuida do vendedor de flores? Tem alguma esperança de conquistá-lo?

Em uma coisa Rosa é trangressora. Sem pensar muito, convida Marcelo para morar com ela. Rosa aqui foi adoravelmenmte transgressora. Mas não ofereceu nada a Marcelo. A única condição é a mais difícil de cumprir, e  ela exige: Marcelo deve conversar com ela! Rosa quer alguém para conversar! E compra essa conversa. E exige essa conversa. E Marcelo que esta na pior não tem muito o que dizer para Rosa. Pois, se nem uma namorada o pobre menino consegue?

Assim, Pablo Meza fala  dessa limitação, dessa  falta de alguém com quem conversar, da incomunicabilidade, das dificuldades de comunicação dos dias de hoje e da solidão implacável que atinge qualquer idade. Enfim, Rosa poderia voltar a estudar, buscar um grupo de terceira idade para ser infantilizada..., adotar animaizinhos, falar com eles nem que fosse em outra língua, em francês por exemplo. Assim, ela poderia divertir-se consigo mesma e desistir de querer comprar uma conversa de quem não quer falar com ela... E Marcelo? Oh Marcelo procura uma psicóloga. Fala de tuas angústias para alguém, menos para D. Rosa. Com ela só vais conseguir café aguado com bolachas duras...


Violeta foi para o céu

Ándres Wood, o diretor de Machuca, nos conta a vida de Violeta Parra, a cantora e compositora chilena. Desde o início Ándres nos mostra a tragédia, que fingimos não entender. O enorme olho que toma conta da tela é o olho de Violeta, mas é também o olho da galinha, do animal irracional e submisso vítima do gavião, "el gavilán". Violeta repete que "el gavilán" é devorador como o capitalismo. O povo latino-americano é também a grande vítima "d' el gavilán" . Se a música de Violeta Parra tem um enorme significado para os chilenos. Para aqueles que se sentem como eu, muito latino-americanos, o significado não é menor. Violeta retrata com perfeição a vida de uma mulher muito adiante de seu tempo. Desde criança teve sua vida dedicada à música. Num clima bem pesado de bailes e muita cachaça, até pelos  problemas de alcoolismo do pai. Porque Violeta nos impressiona tanto? Talvez por suas raízes campesinas. Algo de muito verdadeiro que transborda em suas canções e que não tem a menor relação com o tradicionalismo gaúcho inventado por Barbosa Lessa. Eu vivi na campanha quando criança, nunca tinha visto essa fantasia do gaúcho e das tradições, tão falsa e sem conteúdo como nos dias de hoje. Esses gaúchos talvez nem saibam quem foi Violeta Parra, em cujo exemplo poderiam se mirar. Entre 1969-1973 (antes do golpe de Pinochet), viajei (com Luiz) ao Uruguai, Chile e Argentina para ir ao cinema e comprar os discos com música de Violeta Parra (los Parra de Chile, Isabel e Ángel Parra) e outros como Daniel Viglietti, Eduardo Falu, Los Jairas e Quilapayun. De Alfredo Zitarrosa lembro e gosto de "Pa'l que se vá"

"No te olvides del pago
si te vas pa’ la ciudad
cuanti más lejos te vayas
más te tenés que acordar.
Cierto que hay muchas cosas
que se pueden olvidar
pero algunas son olvidos
y otras son cosas nomás.
No eches en la maleta
lo que no vayas a usar
son más largos los caminos
pa’l que va carga’o de más.
Ahura que sos mocito
y ya pitás como el que más
no cambiés nunca de trillo
aunque no tengas pa’ fumar.
Y si sentís tristeza
cuando mires para atrás
no te olvides que el camino
es pa’l que viene y pa’l que va.

No te olvides del pago
si te vas pa’ la ciudad
cuanti más lejos te vayas
más te tenés que acordar.
Cuanti más lejos te vayas

Más te tenes que acordar"  e onde ele canta que "son más largos los caminos pa'l que va cargado demás"



Quem sabe esse "cargado"  pode ser também no sentido psicológico. Por isso mesmo estou tentando esvaziar as malas da minha vida. Para seguir em frente e "adelante"!  Eu me identificava com essa milonga que falava da tristeza do que se vai em busca de novos caminhos. Fomos ao Chile e íamos assistir a um show de Isabel Parra, que foi cancelado. De resto lembro do gás lacrimogênio. Credo eu nem sabia o que era aquilo. Lembro dos garçons oferecendo dólar no elevador, dos taxistas querendo a queda de Allende, e de nada mais . Somente aceitei voltar ao Chile muito mais de 30 anos depois. Fiz um móvel especial para guardar esses bolachões que foram a parte que escolhi na divisão de bens do casal. Assim, ainda tenho o disco dos companheiros de Violeta, Los Jairas, o grupo boliviano formado por Ernesto Cavour, Edgard Joffré, Julio Godoy e Gilbert Favre, o amante de Violeta Parra e por quem ela cometeu suicídio.

Violeta era uma artista que tinha consciência de seu talento e de sua capacidade. De fato era um gênio superior aos comuns mortais. Sentia necessidade de dedicar-se à sua vida artística, nem que isso significasse sacrificar a vida de seus filhos e a sua,como mãe. E, quando no Louvre  afirma que Gilbert era apenas o homem que fazia a moldura de seus quadros, dizia a mais  pura verdade. A artista era ela, Violeta e não o louro e europeu Gilbert. Quem conseguiu expor sua obra no Louvre, foi Violeta e não seu amante Gilbert. Mesmo assim, foi vítima da xenofobia dos franceses que adoram mostrar os latinos como o elefante no circo, a última atração! E o chefe de cerimônia ordenou que Violeta fosse para a cozinha comer com os serviçais. Muitobem,  fez a corajosa Violeta que o mandou " à la gran puta". O genial em Violeta é a sua evolução como artista e intérprete. Pesquisava as letras de suas músicas através de relatos de idosos, que conheciam as letras de versos que eram passados oralmente , de geração em geração. Você ouviu falar de algum artista que tivesse feito isso um dia? Eu nunca ouvi falar de ninguém. Essa é uma das razões da beleza e autenticidade única de Violeta que pode ser considerada a maior artista da América Latina. E que docemente relembramos quando termina o filme e canta " Gracias a la vida".

"Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dió dos luceros que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el oído, que en todo su ancho
Traba noche y dia grillos y canarios
Martirios, turbinas, ladridos, chubascos
Y la voz tan tierna de mi bien amado
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido y el abecedario
Con él las palabras que pienso y declaro
Madre, amigo, hermano y luz alumbrando
La ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida,que me ha dado tanto
Me ha dado la marcha de mis pies cansados
Con ellos anduve ciudades y charcos
Playas y desiertos, montañas y llanos
Y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dió el corazón que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano
Cuando miro el bueno tan lejos del malo
Cuando miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los dos materiales que forman mi canto
Y el canto de ustedes que es el mismo canto
Y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida"

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Guerra dos Botões

"Guerra dos Botões" fala de pureza, maldade e principalmente ingenuidade das crianças. O diretor  Yann Samuell  retrata os anos 60. Mesmo assim, a história possui um humor excessivamente ingênuo e simplório, assim meio chiquititas mexicanas. Como se Chaves tivesse baixado no set de filmagem de "Guerra dos Botões". Até pode-se afirmar que a maneira como as crianças são mostradas em sua guerra contra a aldeia vizinha tem uma aparência ou pretensão de elegância que foge ao que convencionalmente é de bom gosto. Mesmo nos anos 60, a roupinha do menorzinho era muito jeca, de chorar, embora o menino fosse uma fofura. É mais ou menos com se França e México fossem semelhantes na maneira de tratar e de ver as crianças.

A "Guerra dos Botões"  é liderada por Lebrac (Vincent Bres), o menino que perdeu o pai e precisa cuidar da mãe e das duas irmãzinhas. Aliás, as duas parecem bonecas que passam pelo filme como pano de fundo.  Em 1960 a aldeia de Longeverne tem como rival, Verlans. E a guerra não é apenas das crianças, mas de todos. Os dois professores se bicam para deleite dos espectadores. Porém, tudo não passa de palavrões com os quais eles enchem a boca, tipo cabeça de bagre ou coça-saco e ainda frisam para os que não sabem escrever, que coça-saco se escreve  com ç (cedilha) .  Uma coisa sim, temos que dar mão à palmatória, os franceses preocupam-se com um verdadeiro ensino e desde cedo as crianças querem escrever corretamente. Lebrac, aos 13 anos - mais ou menos- sabia muito mais do que muito  brasileiro que está na universidade. Aliás pesquisas foram realizadas no Brasil e confirmam que 38% dos universitários tem sérios problemas para ler, escrever e compreender um texto. Muita gente entra na universidade sem estar devidamente alfabetizada... E as professoras do Bernardino não estão mais aqui para ensinar essa gente a ler.

Assim a "Guerra dos Botões" liderada por Lebrac chega a um ponto de violência em que os guerreiros lutam com bastões para machucar de verdade. Mas na hora da violência para valer, ninguém sai muito ferido. A moral da história  destaca Merlin - interpretado por Eric Elmosnino- como o  verdadeiro professor que até substitui um pai ausente. Protege e incentiva seu aluno a crescer, amadurecer e partir para novas conquistas. O filme mostra o drama de Lebrac, adolescente revoltado,  deseja liberdade e  independência, mas ainda é uma criança. O processo de amadurecimento de Lebrac,  a nova relação que consegue estabelecer com a mãe,   o professor e a superação de suas  limitações como adolescente são os pontos fortes do filme. Eric Elmosnino está muito bem como o professor Merlin. Lembram-se dele em Serge Gainsburg, vie heroyque?

domingo, 15 de julho de 2012

O Espetacular Homem Aranha

Acredite, fui preparada para não gostar do novo Homem-Aranha. Eu achava que o Homem-Aranha, Tobey Maguire estava tão talhado para o papel, que qualquer substituição estaria destinada ao fracasso. Eis a surpresa, o ator Andrew Garfield é bonitão e interessante. Nas fotos, nem tanto, o bocão parece meio exagerado, na tela impressiona.
Os tios de  Peter Parker (Andrew Garfield) , Ben ( Martin Sheen) e May (Sally Field) transformam-se em seus pais, após o desaparecimento inexplicável dos verdadeiros. O "Espetacular Homem-Aranha" conta com estes dois grandes atores, Sally Field e Martin Sheen, mas a velha tia May é imbatível.
Peter leva uma vida de universitário bem complicada, enfim vida de universitário não é fácil, com tanta moça para namorar e colegas competidores. Mas Peter já está apaixonado por Gwen Stacy (Emma Stone). Os problemas se complicam quando ele encontra uma pasta com as pesquisas de seu pai para misturar espécies e tornar os seres humanos perfeitos,  capazes de vencer qualquer doença, e como os lagartos capazes de regenerar órgãos  amputados ou perdidos, ou que não nasceram por alguma razão.
O filme se desenvolve aos poucos, inicia com o drama de Peter, para concentrar-se nas capacidades espetaculares que adquire ao transformar-se no Homem-Aranha. Como em todos os filmes de heróis, Peter apaixona-se pela mocinha, mas  é um João-Ninguém. Quando adquire seus poderes fantástiscos, precisa, aos poucos, experimentar as novas capacidades, vencendo os que o humilharam quando era um  simples mortal. Alguns obstáculos permanecem, como a desconfiança do pai da moça, justo o policial que emite uma ordem de prisão contra o Homem - Aranha! Porém, o pior  inimigo é o Dr. Connors da Oscorp, que ao tentar regenar o braço amputado transforma-se no Sr. Lagarto.
O clímax do filme é muito bonito e genial, Peter, o Homem-aranha voa na tela, amarrado a mil fios de aranha. E a emoção é maior quando recebe o auxílio de  seres humanos normais, que levantam mil e uma gruas para o Homem-Aranha poder saltar e salvar a humanidade. Essa cenas são belíssimas e mostram um cenário futurista sem céu, pressago, sem sol, somente as janelas iluminadas contra um fundo escuro e opressor da cidade do futuro.
No final, a pose do Homem Aranha, como no cartaz do filme apoiado sobre um dos joelhos, pronto para novas aventuras e por isso mesmo impedido de entregar-se ao amor de sua vida, a bela loura Stacy. Vale a pena ver o Homem-Aranha. Acho que não era uma sessão para crianças, não vi nenhuma desta vez!!! Onde estavam???

Para Roma com Amor

Tudo começa ao som de "Volare",
"Volare oh, oh
cantare oh, oh
nel blu dipinto di blu
felice di stare lassù
e volavo, volavo felice più in alto del sole
ed ancora più su
mentre il mondo pian piano spariva lontano laggiù
una musica dolce suonava soltanto per me"

Não sei como, mas conheço decor a letra dessa música de  Domenico Modugno. E assim de cara me apaixonei pelo filme de Woody Allen. "Para Roma com Amor" é o melhor filme do diretor. Pode ser até porque, quando gosto de alguma coisa, lembro  somente esse último fato que me impressionou. Não sei bem porque, lembro agora que sempre achei impressionante a capacidade que temos para esquecer a dor física. Quando fiz minha cirurgia cardíaca sentia dores horríveis. Esqueci tudo, não consigo lembrar a dor. Melhor assim. Tudo isso para dizer que no momento, dos filmes de Woody Allen, só lembro de "Para Roma com Amor". E me atrevo a dizer,  parece que Woody Allen sabe que existem pessoas como a Doris Maria, e fez este filme para elas.

Para começar Roma! Existe cidade mais linda e impressionante na face da terra? Tudo aquilo que vi rapidinho e prometi para mim mesma voltar, um  dia, Piazza di Spagna, Piazza del  Poppolo, Fontana di Trevi, ruelas de Roma, enfim um cenário perfeito para Woody Allen.

Das quatro histórias, a  que mostra o casal do interior,  recém chegado à Roma, é a melhor. Adivinhem, justamente ali está a homenagem a Fellini. É a mesma história de "Il Sceicco Bianco" (Abismo  de um Sonho), o maravilhosos filme de Fellini, que assisti em Dom Pedrito - bons tempos - com minha irmã. Saímos rindo do cinema, perplexas com a personagem de Brunela Bovo, tão simplória, que não conseguia sequer cometer suicídio! Corram à Livraria Cultura e comprem esse clássico de Fellini. Com Woody, a bobinha e simplória é Milly (Alessandra Mastronardi), o marido que casou virgem é Antonio (Alessandro Trossardi). Com Fellini, ela é Vanda (Brunella Bovo) que se encanta com o canastrão  e mulherengo astro de fotonovelas, "o xeique", interpretado por Alberto Sordi. A cena do "clown" Sordi num balanço, no alto de uma árvore, é um dos grandes momentos de Fellini. Atrevo-me a dizer, foi pena que Woody Allen não colocou o mesmo complexo de culpa, de Vanda, em  Milly. Nem fez com que com ela tentasse o suicídio numa pocinha de lama! Amei aquelas cenas! Porém a Milly do século XXI, não está nem aí para sentimentos de culpa, nem é tão bobinha. Obedecendo ao ditado "a ocasião faz o ladrão" Milly transa com  este último, afinal... já estavam na cama... O marido Antonio, temeroso e inseguro é interpretado por Alessandro Tiberi. Precisa tomar aulas de sexo com a experiente Penélope Cruz. A atriz de Almodóvar está ótima como Milly Anna. Acrescentou o Milly quando precisou substituir a esposa sumida. Adivinhem onde está Ornela Muti? Inacreditável é Pia Fusari, uma das atrizes, atrás de quem Milly corre atrás.

Id, ego e super ego invariavelmente aparecem nos filmes de Woody Allen, ao que parece ele, de longa data,  também é adepto da terapia. Desta vez, John (Alec Baldwin) é o super ego do próprio Woody, quem sabe... Fica falando que nem o Yoda de "Guerra nas Estrelas", o mestre mais poderoso do universo. Jesse Eisenberg é Jack, de certa forma, é o próprio arquiteto na juventude. Por isso mesmo John  fica alerta, dando conselhos e analisando psicologicamente o comportamento de Jack e da maluquinha Monica (Ellen Page).

Agora Lucinha, me diz uma coisa, reconheceste alguém baixinho, cabelhos grisalhos, usando óculos, que ama o cinema e não quer ouvir falar em aposentadoria? Não é que  é o próprio Jerry? Interpretado por Woody Allen? Em seus filmes quase sempre é casado com uma mulher madura que conhece todas qualidades e defeitos do marido e que tem a maior paciência com ele. Desta vez a senhora Phyllis é a encantadora Judy Davis.

Jerry vai visitar a filha em Roma. Descobre por acaso um talento que só sabe cantar no banheiro. É o pai do namorado de sua filha. Gênio, Jerry cria um espetáculo para o agente funerário transformar-se em  tenor,  que continua cantando no banheiro! Quase pega a gripe A, he! he! he!

Para finalizar e deixar as Doris deste mundo felizes, Monica a jovem interpretada por Ellen Page, quando quer impressionar  John, cita uma frase de cada poeta.  E ela cita Rainer Maria Rilke... Oh! foi demais para mim que até dei o nome de Rilke para o meu cachorrinho predileto!!! E eu, que sei uma única frase de um único poeta, Rilke!

"Oh saudades dos lugares que não foram bastante amados na hora passageira, quem me dera devolver-lhes o gesto esquecido, a ação suplementar..."