No Festival Varilux do Cinema Francês, se Nicolas tratava do tema da inocência , "O profeta" trata da violência. A França vive o drama da imigração clandestina e da criminalidade. Dirigido por Jacques Audiard, o filme ganhou 8 César e dois prêmios no Festival de Cannes. Recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Jacques Audiard faz um trabalho político, que denuncia o sistema carcerário, na França. A crítica pode estender-se ao resto do mundo. Não se conhece um país que tenha resolvido o problema de recuperar seus criminosos, aqueles que matam, roubam, cometem crimes hediondos , ou ainda que entram para a prisão devido a um pequeno delito.
Malik El Djebena é interpretado por Tahar Rahim. O ator é perfeito, foi talhado para o papel do jovem infrator, que entra na prisão para sofrer a sua grande transformação.
Aos 19 anos Malik é preso. No cárcere, transforma-se em vítima do predador, o corso (Niels Arestrup), chefão da máfia, que manda na prisão e em seus administradores. O ator francês impressiona com seu personagem. O mafioso o encarrega dos mais diversos serviços sujos, como condição de sobrevivência. Malik sofre, apanha, é violentado em todos os sentidos. Literalmente, o jovem ingênuo e desprotegido entra para a Escola do Crime, com direito a Pós-Graduação. Descobre os meandros do poder. Dentro da prisão, faz a "sua" ruptura com a normalidade. Afinal o normal é ser subserviente, ser pelego, matar ou roubar, obedecer ordens...
"O Profeta" não rompe com o crime, mas sim, com os que o condenam a uma vida de servilismo, a uma vida de risco e de trabalho porco. Malik não conhece outro mundo.
O diretor não mostra se o personagem aprendeu alguma coisa na vida que o incentivasse a crescer como ser humano. No sentido de que pudesse tornar-se um verdadeiro homem, algum dia. Só viu e viveu, dor, carência, maldade e crime. Essa foi sua Escola.
Malik rompe porque deseja ascender ao "poder". O que se vislumbra é o poder criminoso, embora em alguns momentos possamos surpreendê-lo encantado com o bebê, filho do amigo (Adél Bencherif), secretamente desejando uma vida normal, em família.
O Profeta, depois de enfrentar seus medos e suas angústias, rompe com o papel de prisioneiro subserviente, servil e subordinado para ascender que considera verdadeiro. Aliás é o único poder que está ao alcance de Malik, o poder criminoso. Triste ascenção do Profeta, que se torna o melhor aluno na Escola do Crime. Supera seu mestre. Se existe a "construção" do personagem, só se for na contra-mão, ou melhor na mão do crime.
De uma vida em família, para ele sobram as migalhas. Após a morte do companheiro, contenta-se com as sobras. Conforma-se em ficar com a mulher e o filho do amigo. Porque não tinha uma namorada, conquistada por ele próprio? Afinal , o coitado nem tinha vida própria...
" O Profeta" é um filme sério, de denúncia, sei disso e prefiro "Oceans ", "Migração Alada" ou "O Pequeno Nicolau".
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