terça-feira, 8 de junho de 2010

Oceans

Jacques Perrin é um homem feliz, não precisa perguntar a si mesmo, se fez o que poderia ter feito pela terra e pela humanidade. Frente à sua consciência diante do universo, possui o conhecimento de um mundo superior e já fez o que tinha que fazer.

O tempo passa rápido! Lembro de Jacques Perrin em "Dois Destinos", de Valério Zurlini, um dos filmes de minha vida. Intimista, conta a história de dois irmãos, um deles é Perrin, o outro, Marcelo Mastroiani. O segundo filme da minha vida é "Abismo de um sonho", de Fellini, com Giulietta Massina. Meu interesse pelo cinema começou com esses filmes.

Em "Pele de Asno" Jacques Perrin transforma-se no príncipe encantado, ao lado de Catherine Déneuve. Casualmente, minha mãe contava-me essa história. Sua mãe contou a história de "Pele de Asno" para você? Bem ela fantasiava cada vez, e eu adorava.

Assim só me resta amar Jacques Perrin. Amadurecido, o ator se transforma em alguém muito mais interessante. Nos apresenta "Oceans" uma obra de arte tão bela quanto " Migração Alada". Porém não devemos esquecer, "Oceans" é uma parceria entre os diretores Jacques Perrin e Pierre Cluzaud.

Em "Migração Alada" (ganhei do Luiz, o Merten, o livro e o DVD do filme) a equipe de filmagem acompanha a migração das aves em diversos continentes, fugindo do inverno, procurando alimento e lugares de temperaturas cálidas para viver e se reproduzir.

Ambos são filmes belíssimos. "Oceans" é uma experiência estética muito particular. O filme é uma celebração à vida e à natureza. Perrin filma em mares do mundo inteiro. Surgem as mais exóticas espécies. Crustáceos lembram robôs de filmes de aventuras. Deslocam-se feito "transformers" no fundo do mar. As parcerias entre animais, e a cumplicidade entre homem e peixe, nadando juntos são de uma beleza sem igual. Um mundo instigante, a fúria das águas ou a calmaria do mar inundam a tela.

Na luta pela sobrevivência, peixes protagonizam um balé submarino não ensaiado, emocionante e belíssimo. Lobos marinhos e focas se aboletam na praia, todos muito juntos se aquecem ao sol. Seres humanos comportam-se da mesma forma. Deitam-se nas praias ou nas praças, ficam muito juntos e também tomam banho de sol. Tudo igual, acho muito engraçado esse comportamento idêntico, homem-animal.

Emoção e beleza equivalem ao que sentimos ouvindo uma sinfonia de Bethoven. Existem momentos de verdadeira apoteose.

Os dois filmes de Jacques Perrin exibem a mesquinharia dos homens, a perda total de consciência, no processo ensandecido de destruição da natureza. A denúncia é contundente, quando vemos a dolorosa matança dos peixes. Em um verdadeiro funeral submarino - após terem seus rabos e barbatanas cortados - os peixes são largados ao mar, ainda vivos. Morrem devagar, caem em pé... Em lenta agonia chegam ao fundo. Como um fole, as guelras vão parando... De boca entreaberta são tomados pela morte, param para sempre...

Finalmente o próprio Jacques Perrin surge como o homem que assume a consciência da preservação do planeta. Transmite seus ensinamentos e sua experiência à criança. Ultrapassa a condição de ator. De mãos dadas com o menino, como o avô de cabelos brancos, eles nos convidam a "abrir os olhos". Ainda há tempo para salvar o planeta. Cada um precisa fazer a sua parte. É preciso "romper". Estabelecer uma ruptura com o conformismo. Inserir-se no mundo de uma outra forma. Esse é o legado de Jacques Perrin para a humanidade.

O filme é imperdível, não deixe de assistir.


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