"A Fonte das Mulheres" é um filme imperdível. Não sei como, está em um horário ingrato, às 13 h. no Arteplex. Radu Mihaileanu, o diretor, pode ser considerado brilhante e genial. Você lembra " O Concerto", quando o maestro - demitido e trabalhando como auxiliar de limpeza- descobre que o Balé Bolshoi foi convidado para fazer uma apresentação em Paris? Lembra da belíssima Mèlanie Lamont, que fazia a primeira violinista? Se "O Concerto" é um filme belíssimo, "A Fonte das Mulheres" não fica atrás. Aliás, o filme deveria ser visto por todas as mulheres. É bom que elas saibam que a luta pela liberdade feminina não é mérito apenas das ocidentais. No norte da África ou em alguma aldeia árabe, conforme Radu, as mulheres também lutam por liberdade. Aqui muita gente ainda pensa que a maioria das mulheres, nesses países, prefere usar a burka por uma questão de cultura e religião. ''A Fonte das Mulheres" vem para acabar com esse mito. Radu Mihaileanu mostra o dia a dia das mulheres na aldeia. Nas primeiras cenas, em grupo, elas aparecem com chinelos minúsculos, caminhando sobre pedras, carregando água. Semelhantes a boi no cabresto, equilibram um balde d'água de cada lado de uma espécie da canga. Roupas pesadas, cabeças cobertas por lenços, levam água para a aldeia. As cenas se alternam, enquanto uma delas, grávida, cai sobre as pedras; vemos o nascimento de uma criança. Na tradição as mulheres sempre fizeram isso, servem para parir e carregar água. Velho Fuzil teve 19 filhos. Uma outra teve seis, dos quais três morreram . O atendimento no parto se faz com parteiras. No Sul não era muito diferente, mas há 66 anos atrás... Radu mostra o reinado do feminino nos banhos públicos. Na aldeia árabe a intimidade ainda não se desenvolveu, que nem na Idade Média, onde todo mundo andava acompanhado. O banho é público, mas só de mulheres. Ali elas discutem seus problemas. Falam abertamente sobre homens e sexo... Se a maioria é alienada, Leila (Leila Bekhti) a mulher de Sami (Saleh Bakri) possui a consciência e tenta sensibilizar as outras sobre a condição de submissão das mulheres da aldeia. É preciso lutar e o único trunfo, o único poder que lhes resta é a greve de amor. Até aí, parece brincadeira ou comédia. Mas a forma como Radu mostra a luta das mulheres torna o filme belíssimo. Os personagens principais Leila e Sami são jovens e belos. Saleh Bakri participou do filme de Elia Suleiman "O tempo que resta" (Le temp qu'il reste), que contava a vida do diretor em quatro capítulos. Vestido de preto, Saleh Bakri passava pelo filme quase sem ser notado pelo espectador. Em "A Fonte das Mulheres" além de ser o marido ideal, encarna o homem que preenche o sonho no imaginário feminino. Confira na telona, encare o horário inadequado e não perca a última cena de amor. ''A Fonte das Mulheres" inova a narrativa ao mostrar o embate entre mulheres e homens através da música e do canto repentista. Na aldeia, as mulheres que colocam filhos vivos no mundo são louvadas em música e canto, as que tombam são consideradas estéreis e culpadas. É preciso inverter a situação. A idosa e sofrida Velho Fuzil vai à luta. Responde a quem lhe pergunta: "Qual foi o dia mais feliz de minha vida?" Ela mesma responde. Foi antes de eu completar 14 anos. Quando eu tinha essa idade, meu pai me casou com um viúvo de 40 anos. Só vi a cara do meu marido no dia seguinte. À noite, no escuro ele me violentou. Me tornei mãe de duas crianças da minha idade, fora as outras 19 que pari. Assim a luta das mulheres evolui até o último embate na festa da colheita, onde o canto repentista feminino ofusca a festa dos machos, que batem pé no chão, sem conseguir esconder que são uns fracos. Fortes mesmo são as mulheres, Velho Fuzil afirma que hoje em dia acabou a escravidão, que as mulheres não precisam mais usar burka, e que os homens parecem mesmo uns bobos, cobertos de cima abaixo com roupa cinza tomando chá no terraço do bar, sem ocupar-se de nada. Para defender esse status batem, e batem em suas mulheres. A greve liderada por Leila veio para dizer ao mundo que esse tempo acabou. Assim, mulheres brasileiras que ainda apanham dos maridos acordem e não venham dizer que olho roxo é excesso de sol. Observem como as mulheres no final louvam e cantam seus ''Homens'', pois sua luta não é para eliminar o sexo masculino, não é contra os homens, mas contra certas especifidades que as humilham e diminuem.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
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