Michael Mann, o diretor de Inimigos Públicos idealiza Dillinger, o gangster dos anos 30, que rouba bancos, e faz questão de não tocar no dinheiro dos clientes. Durante os assaltos, no auge da tensão ele diz para os clientes apavorados, que soltam suas moedas e poucas notas: fique com o seu dinheiro, eu roubo bancos. O próprio Dillinger afirma para seus comparsas que se preocupa com a opinião pública. Não aceita propostas de roubos que não envolvam bancos.
Mann mostra Dillinger regido por uma ética e uma moral próprias; não aceita traições, sua dedicação ao trabalho é total, não admite falhas ou fraquezas, sua fidelidade a Billie Frechette (Marion Cotillard), sua amada, e a seus companheiros também é total. Sua conduta é qualificada sob o ponto de vista do que ele considera bem ou mal. Sua moral abrange um conjunto de regras de conduta válidas para seu grupo, em particular. Quando o companheiro é baleado, no primeiro assalto e não consegue subir no carro em fuga, Dillinger aperta a mão do amigo. Acompanha-o no momento derradeiro, nunca mais esquece seu olhar; e somente solta sua mão quando vê que está morto. Não poupa a falha do outro camarada e o mata.
A história de Dillinger inicia em 1933, quatro anos após o início da Grande Depressão. Michael Mann mostra o personagem do gangster com um homem charmoso, Johnny Deep é um homem sedutor, com o bigode à moda anos 30. Usa chapéu, trajes claros, ou azul escuro, e segura sua metralhadora com o cano apontado para cima. Os óculos escuros e redondos completam o visual do belo gangster, parece um modelo de desfile de moda. As fotos do verdadeiro Dillinger mostram um homem comum e inexpressivo, que usa calças largas, amarrotadas, com um sorriso meio bobo.
Arthur Penn fez o mesmo em Uma rajada de Balas, em que os personagens de Bonnie and Clyde não eram maus ou assassinos sanguinários. Eram jovens, belos e corajosos. Os atores Warren Beatty e Faye Dunnaway estavam no auge da juventude e de suas carreiras. Eram os anos 60 e o filme celebrava a revolta dos jovens contra o sistema autoritário, onde eles quase sempre eram sacrificados e não tinham perspectivas de futuro. Hoje cansamos de ler o quanto Bonnie and Clyde eram estúpidos, burros, malvados e assassinos.
Em O Poderoso Chefão, as atividades e os negócios da família mafiosa passam a fazer parte da engrenagem do sistema capitalista, e não possuem o enfoque de Gomorra. Al Pacino é o jovem que deixa seus sonhos para assumir o lugar do pai na chefia da grande família. Francis Ford Coppola nem por sombra mostrou um Marlon Brando ou um Al Pacino que não fossem heróis. Quem não chorou com a morte do velho chefão, no jardim, perto do neto? Ou quem não chorou com a morte da noiva de Pacino - uma italiana de cabelos escuros, muito bonita -, na explosão dentro do carro?
Os vilões do filme são J. Edgar Hoover (Billy Crudup) e Melvin Purvis ( Christian Bale). O grande vilão que já foi denunciado por todos que refletiram sobre o tema é Hoover. Até o juiz, no filme, o considera inadequado para o cargo. Nunca fez uma apreensão pessoalmente, não tinha experiência na luta diária no meio das ruas. Os métodos que usava eram tão criminosos, desonestos e cruéis, quanto assaltar bancos. Ambos eram os homens da lei, mas não se diferenciavam muito dos que estavam fora dela. O próprio Edgar Hoover ordenava a Purvis que tirasse as luvas de pelica. Não importava os meios empregasse para atingir seus objetivos. E com esses métodos, conseguiu elevar o FBI ao status e ao poder que possui hoje.
Purvis chega a ser patético. Eu que não tenho o menor apreço por Christian Bale tenho que reconhecer que ele está muito bom como o inexpressivo Purvis, Muito feio, com o cabelo colado e repartido no lado, com uma fatiota impecável e triste. O infeliz Purvis terminou com sua própria vida, um ano depois de ter assassinado Dillinger pelas costas.
Na Era de Ouro do gangsterismo os gangsters eram celebrados pelo público, porque roubavam e enfrentavam um poder que os roubava e usurpava. O mito do gangsterismo é celebrado no cinema desde então. Dillinger ama o cinema. Mais de uma vez o vemos na sala de projeção. Em uma delas sua figura aparece na tela com a recomendação: “Olhe para a direita, olhe para a esquerda, você pode estar ao lado de Dillinger, o inimigo público n o 1”.
Em sua última sessão, assiste a um filme de Clark Gable e William Powell, “Vencido pela Lei”. Num sentido premonitório, o que acontecia na tela do cinema antecipava o que lhe aconteceria alguns minutos depois. Dillinger idolatra o gangster representado por Gable. Pensa da mesma forma: se for para viver uma vida medíocre, o melhor é morrer logo! Um gangster precisa levar uma vida de emoções e viver cada dia como se fosse o último! Quando perguntam a ele porque faz tudo aquilo, ele responde, eu recupero o tempo perdido! No que fazia muito bem! Além de tudo, Dillinger considerava-se intocável! Acreditava piamente que estava no topo do mundo.
Paradoxalmente, já que não morro de amores por Christian Bale, a cena mais emocionante do filme é quando Purvis segura Frechette no colo, quando ela é abusada e torturada pelo policial brutamonte. Nesse momento, Purvis mostra seu momento de dignidade, quando consegue escapar do jugo de Hoover e agir por si próprio.
Melvin Purvis é o personagem que não tem sequer vida privada, é um solitário, cujo único interesse é acabar com Dillinger. Michael Mann insinua que Dillinger pode provocar ciúmes e inveja em tipos como Purvis e o policial que o matou. Ele vira mito e causa tanto furor, que é amado e odiado ao mesmo tempo. Odiado pela coragem que tem ao enfrentar o establichment, e invejado por seu poder de seduzir o público e as mulheres, em particular e por sua capacidade de amar e ser amado por Frechette. Coisas que em suas pequenas vidas, eles os policiais jamais conseguiriam. E quando conseguem matá-lo comemoram como se fosse Festa de Ano Novo.
Talvez isso seja tão verdade que explique as razões que levaram Purvis a acabar com a própria vida um ano depois. E quais seriam as razões que explicariam a ambigüidade do policial que matou Dillinger, e ouviu suas últimas palavras? O policial negou-se a revelar as últimas palavras de Dillinger a Purvis e sentiu-se na obrigação de entregar a Frechette a última mensagem de amor e adeus do amado: Dillinger disse que a amava e enviou-lhe o derradeiro adeus: by by black bird...
Mann mostra Dillinger regido por uma ética e uma moral próprias; não aceita traições, sua dedicação ao trabalho é total, não admite falhas ou fraquezas, sua fidelidade a Billie Frechette (Marion Cotillard), sua amada, e a seus companheiros também é total. Sua conduta é qualificada sob o ponto de vista do que ele considera bem ou mal. Sua moral abrange um conjunto de regras de conduta válidas para seu grupo, em particular. Quando o companheiro é baleado, no primeiro assalto e não consegue subir no carro em fuga, Dillinger aperta a mão do amigo. Acompanha-o no momento derradeiro, nunca mais esquece seu olhar; e somente solta sua mão quando vê que está morto. Não poupa a falha do outro camarada e o mata.
A história de Dillinger inicia em 1933, quatro anos após o início da Grande Depressão. Michael Mann mostra o personagem do gangster com um homem charmoso, Johnny Deep é um homem sedutor, com o bigode à moda anos 30. Usa chapéu, trajes claros, ou azul escuro, e segura sua metralhadora com o cano apontado para cima. Os óculos escuros e redondos completam o visual do belo gangster, parece um modelo de desfile de moda. As fotos do verdadeiro Dillinger mostram um homem comum e inexpressivo, que usa calças largas, amarrotadas, com um sorriso meio bobo.
Arthur Penn fez o mesmo em Uma rajada de Balas, em que os personagens de Bonnie and Clyde não eram maus ou assassinos sanguinários. Eram jovens, belos e corajosos. Os atores Warren Beatty e Faye Dunnaway estavam no auge da juventude e de suas carreiras. Eram os anos 60 e o filme celebrava a revolta dos jovens contra o sistema autoritário, onde eles quase sempre eram sacrificados e não tinham perspectivas de futuro. Hoje cansamos de ler o quanto Bonnie and Clyde eram estúpidos, burros, malvados e assassinos.
Em O Poderoso Chefão, as atividades e os negócios da família mafiosa passam a fazer parte da engrenagem do sistema capitalista, e não possuem o enfoque de Gomorra. Al Pacino é o jovem que deixa seus sonhos para assumir o lugar do pai na chefia da grande família. Francis Ford Coppola nem por sombra mostrou um Marlon Brando ou um Al Pacino que não fossem heróis. Quem não chorou com a morte do velho chefão, no jardim, perto do neto? Ou quem não chorou com a morte da noiva de Pacino - uma italiana de cabelos escuros, muito bonita -, na explosão dentro do carro?
Os vilões do filme são J. Edgar Hoover (Billy Crudup) e Melvin Purvis ( Christian Bale). O grande vilão que já foi denunciado por todos que refletiram sobre o tema é Hoover. Até o juiz, no filme, o considera inadequado para o cargo. Nunca fez uma apreensão pessoalmente, não tinha experiência na luta diária no meio das ruas. Os métodos que usava eram tão criminosos, desonestos e cruéis, quanto assaltar bancos. Ambos eram os homens da lei, mas não se diferenciavam muito dos que estavam fora dela. O próprio Edgar Hoover ordenava a Purvis que tirasse as luvas de pelica. Não importava os meios empregasse para atingir seus objetivos. E com esses métodos, conseguiu elevar o FBI ao status e ao poder que possui hoje.
Purvis chega a ser patético. Eu que não tenho o menor apreço por Christian Bale tenho que reconhecer que ele está muito bom como o inexpressivo Purvis, Muito feio, com o cabelo colado e repartido no lado, com uma fatiota impecável e triste. O infeliz Purvis terminou com sua própria vida, um ano depois de ter assassinado Dillinger pelas costas.
Na Era de Ouro do gangsterismo os gangsters eram celebrados pelo público, porque roubavam e enfrentavam um poder que os roubava e usurpava. O mito do gangsterismo é celebrado no cinema desde então. Dillinger ama o cinema. Mais de uma vez o vemos na sala de projeção. Em uma delas sua figura aparece na tela com a recomendação: “Olhe para a direita, olhe para a esquerda, você pode estar ao lado de Dillinger, o inimigo público n o 1”.
Em sua última sessão, assiste a um filme de Clark Gable e William Powell, “Vencido pela Lei”. Num sentido premonitório, o que acontecia na tela do cinema antecipava o que lhe aconteceria alguns minutos depois. Dillinger idolatra o gangster representado por Gable. Pensa da mesma forma: se for para viver uma vida medíocre, o melhor é morrer logo! Um gangster precisa levar uma vida de emoções e viver cada dia como se fosse o último! Quando perguntam a ele porque faz tudo aquilo, ele responde, eu recupero o tempo perdido! No que fazia muito bem! Além de tudo, Dillinger considerava-se intocável! Acreditava piamente que estava no topo do mundo.
Paradoxalmente, já que não morro de amores por Christian Bale, a cena mais emocionante do filme é quando Purvis segura Frechette no colo, quando ela é abusada e torturada pelo policial brutamonte. Nesse momento, Purvis mostra seu momento de dignidade, quando consegue escapar do jugo de Hoover e agir por si próprio.
Melvin Purvis é o personagem que não tem sequer vida privada, é um solitário, cujo único interesse é acabar com Dillinger. Michael Mann insinua que Dillinger pode provocar ciúmes e inveja em tipos como Purvis e o policial que o matou. Ele vira mito e causa tanto furor, que é amado e odiado ao mesmo tempo. Odiado pela coragem que tem ao enfrentar o establichment, e invejado por seu poder de seduzir o público e as mulheres, em particular e por sua capacidade de amar e ser amado por Frechette. Coisas que em suas pequenas vidas, eles os policiais jamais conseguiriam. E quando conseguem matá-lo comemoram como se fosse Festa de Ano Novo.
Talvez isso seja tão verdade que explique as razões que levaram Purvis a acabar com a própria vida um ano depois. E quais seriam as razões que explicariam a ambigüidade do policial que matou Dillinger, e ouviu suas últimas palavras? O policial negou-se a revelar as últimas palavras de Dillinger a Purvis e sentiu-se na obrigação de entregar a Frechette a última mensagem de amor e adeus do amado: Dillinger disse que a amava e enviou-lhe o derradeiro adeus: by by black bird...
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