L’Instinct de mort é o título perfeito para o filme. Bem ao contrário do Dillinger de Michael Mann, o verdadeiro Jacques Mesrine, esse sim, é um bandido de alma negra. O gângster francês dos anos 30 foi um grande sucesso na mídia. No filme dirigido por Jean François Richet, o próprio Mesrine admirava-se de seu sucesso nos meios de comunicação. O roteiro é assinado por Abdel Raouf Dafri, baseado na biografia do próprio personagem.
O ator Vincent Cassel com aquela cara de francês é um homem muito feio e antipático (no filme pelo menos). Ficou pior com o bigode e os cabelos escuros. Apesar de ter engordado vinte quilos para fazer o papel, ainda parece magro, com nariz de papagaio e cara de mau. Aparte a minha opinião, atualmente Vincent é um sucesso. Muito provavelmente vão dizer que ele é sexy, e coisa e tal. Para o meio midiático isso deve ser tão verdade que, além de ator, Cassel é garoto propaganda de Yves Saint Laurent. Foi escolhido para divulgar o perfume La Nuit de l’Homme. É conhecido por sua participação em filmes como “Rios Vermelhos" (2000) e "Senhores do Crime" (2007). Gosta muito do Brasil, há vinte anos visita nosso país, sabe falar português e até está construindo uma casa em Trancoso. Faz parte do elenco de À Deriva, que estreou no Hotel Bardot em Búzios, em julho.
O filme tem alguns aspectos geniais e criativos como o início, em que aparece na tela uma composição com diversos quadros com movimento, como uma história em quadrinhos. Podemos observar cada personagem nos diversos quadros e a montagem da cena. Esses elementos se repetem nas cenas finais.
O filme narra uma história verdadeira, do gângster francês, Jacques Mesrine, passada nos anos 60. O gângster teve uma vida tão agitada e com tantas reviravoltas que o filme foi dividido em duas partes. Por isso, parece incompleta esta primeira parte.
Jacques Mesrine era um homem problemático, quando volta à França depois de ter sido combatente militar na Argélia, é recebido pelos pais. A família parece ser normal, com problemas como qualquer outra, mas ele a rejeita, principalmente o pai (Michel Duchaussoy), a quem acusa de colaboracionista no período nazista. Mas não o vemos questionar a si próprio, o personagem nunca fez uma autocrítica, agia como um trator. Se o pai não prestava, ele não era muito diferente. Somente se interessava por trabalhos e golpes sujos, que aplicava com seus comparsas de crime e farras. Mesrine nunca quis ter uma vida normal.
Ao que parece o gângster tem traços marcantes, em sua personalidade, que o levam a perpetrar atos criminosos. Não é possível saber sobre a influência de fatores genéticos, emocionais ou afetivos que possam tê-lo inclinado ao crime. Por vontade própria entra para o mundo do crime e torna-se amigo de Guido (Gerard Depardieu), um famoso mafioso. Passa a ter uma vida de emoções no submundo parisiense. Um fato incontestável, Mesrine não sentia medo, esse medo que domina e paralisa as pessoas comuns, nos momentos difíceis da vida e nos nem tão difíceis. Era um furioso, extremamente agressivo, que distribuía socos e tiros a dois por três, sem o menor problema de consciência.
Quatro acontecimentos me deixaram estarrecida no filme. Procurei e não encontrei as razões de Mesrine. Na juventude uma bela jovem espanhola, Sofia (Elena Anaya ) apaixonou-se por ele. Após um tórrido romance os dois casam e tem uma filha. Quando Mesrine resolve partir com Guido para suas atividades criminosas é barrado pela mulher. A reação do gângster é tão violenta que chega a enfiar o cano do revólver na boca de Sofia. Consegue escandalizar até Guido, o mafioso, que tinha uma atitude paternal em relação a ele. Sofia some, o abandona e aos filhos! Meu Deus, se isso foi verdadeiro, é um Deus nos acuda.
Outra sequência me deixa pasma no filme, o paradoxo, um bandido tão duro e criminoso cuida dos filhos, e deixa-os com os avós – aqueles mesmos que, em sua percepção não prestavam, agora servem para cuidar dos netos. Realmente a personalidade do gângster sempre reservava uma surpresa.
Tenazmente perseguido pela polícia e por criminosos, Mesrine foge para o Canadá. Tenta legalizar sua situação na imigração, não consegue e rapidamente entra fundo no mundo do crime. O filme mostra diversos tempos de sua vida, na Espanha, em 1960; Montreal, 1968; Paris, 1969; Arizona, 1969.
Mesrine fica famoso no Canadá, foge para os Estados Unidos e é preso no Arizona, juntamente com a nova companheira, Jeanne Schneider (Cécile De France), tão fria e criminosa quanto o próprio.
Outra sequência que escandaliza a platéia é o grau de maldade que o casal reserva para o milionário que os havia empregado como jardineiro e faxineira. Bastava desagradar a dupla para entrar na mira do tiroteio, no sentido literal da palavra. Ao milionário é reservado o pior dos tratamentos. E o que dizer da morte do inimigo desafeto, que maltratara a prostituta, amiga de Mesrine? Jacques Mesrine tinha seu próprio código de ética e comportamento.
Os atos de loucura do personagem não são a maior violência no filme, mas, o tratamento reservado aos criminosos na prisão de Saint Vicent de Paul, no Canadá. O tratamento na solitária tinha por objetivo abalar a moral do prisioneiro, destruir o seu eu e sua vontade. A tortura mostrada na tela é o horror dos horrores. Mesrine está em uma solitária, número 5933, onde é torturado moral e fisicamente. Não lhe permitem dormir, o deixam nu e repetem no microfone um som ensurdecedor. Não lhe permitem fechar os olhos, a luz fica permanentemente acesa. Ao menor sinal de recuperação recebe um banho de mangueira de incêndio. Para alguma coisa serviu a biografia do personagem, a prisão de Saint Vicent de Paul foi fechada.
O gânsgster em sua vida de emoções protagonizou fugas espetaculares, e teve atitudes de herói às avessas, como quando voltou à prisão, com um único companheiro, para enfrentar os guardas e soltar os outros prisioneiros. Jacques Mesrine não aceitava autoridade, muito menos a de policiais armados até os dentes e escoltados por cães pastor alemão.
O enigmático gângster em muitos momentos ganha a simpatia do público, afinal, todos somos contraditórios. Assista ao filme e sinta a paixão louca e o instinto de morte de Jacques Mesrine.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
INIMIGO PÚBLICO No 1
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Olá Doris
ResponderExcluirOlha, talvez não explique suficientemente os "motivos" de Mesrine, mas a guerra na Argélia foi bastante para bouleverser a cabeça do rapaz. Vi a segunda parte, e ele vai aderindo cada vez mais à sua imagem de libertário. De um mero criminoso, ele passa a se sentir um anarquista, no sentido político.
Abraços.
Gostei do filme.
ResponderExcluirEsse tipo de personagem louco-grosseiro-violento o Cassel faz mto bem, quem já assitiu "La haine" ou "Irreversível" sabe disso.
Realmente, eu tenho amigas que acham o Vincent Cassel um feio-sexy, eu sinceramente acho que o cara dói de feio (aquele nariz, a cara chupada,...sei lá ele é meio desarmonioso e tem uma antipatia arrogante, que é mto francesa, diga-se) mas é um bom ator.
E marido de Monica Bellucci, "la piú bella donna dello cinema"