terça-feira, 29 de junho de 2010

Brilho de uma Paixão (Bright Star)

Jane Campion se envolve com a história da Inglaterra, com a história do cotidiano, expectativas de casamento, orgulho e preconceito. É uma mulher sensível. Relata histórias de famílias e amores no século XIX. Jane faz reviver John Keats, interpretado por Ken Whisaw, hoje considerado o maior poeta do século XIX. Como Van Gogh, ele não teve seu valor reconhecido em vida. Keats não acredita em si mesmo. Morre aos 25 anos, sem ter a menor noção do valor de sua obra. Jane Campion fala não somente da vida de Keats, mas de seu país, que nos assombra pelo atraso, mesmo passados 100 anos.

Se a Inglaterra é um país rico às custas da exploração de colônias pobres e do estabelecimento de relações comerciais dominadoras com países como Portugal e Brasil, apesar da Revolução Industrial -paradoxalmente- assombra pelo atraso e preconceito. Ao tomarmos contato com esse mundo romântico e obscuro, elevamos nossas preces e damos graças a Deus por estarmos vivendo aqui e agora. A vida no Brasil não era melhor, sabemos disso.

O atraso na Medicina é o grande flagelo da Inglaterra e da humanidade. Outros atrasos ficam por conta de relações familiares. O homem, como na Roma Antiga é a figura patriarcal. Toda a família submete-se a ele. O pai de família é o homem provedor. Homem e mulher terão sua união aceita pela sociedade se legitimada pelo casamento. Não existe casamento sem dote. O homem precisa provar que é capaz de sustentar uma família. Jane Campion analisa esses problemas familiares, evidencia desejos, anseios e desenganos. Desvela o romance de Keats com a mulher de sua vida. Jovem, franzino e frágil, ele tem certeza que não possui a menor condição para sustentar uma família.

O fantasma da tuberculose ronda a vida do poeta. As pessoas morrem de doenças infecto-contagiosas no século XIX. Morrem às pencas de tuberculose e tifo. Por isso também dou graças por viver aqui e agora! Saudamos a vacina! Pobre Keats, deve ter contraído a doença quando cuidava do irmão. Depois de instalado, o bacilo de Koch mina a resistência do doente, que enfraquece lentamente. No cinema, nossos heróis cuspem sangue. Sabemos que seu destino está traçado, quando a cena aparece na telona. Os amigos reúnem uma quantia em dinheiro para Keats viajar à Nápoles, onde a temperatura é amena. Sabemos que é inútil.

Keats, o filme, trata de um amor que não se realiza. A heroína é uma jovem graciosa. Foi escolhida a dedo. Se comparada ao jovem Keats, esbanja viço e saúde. Possui um rosto escultural, corpo forte e braços roliços. Parece saída de um romance de Eça de Queirós. O destino coloca-se contra o amor de Keats e Fanny Brawne (Abbie Cornish). Tudo é adverso. Estranho mesmo é o poeta permitir as intervenções de Charles Brown (Paul Schneider). Qual seria o papel de Brown na vida Keats? Existe uma relação de dominação entre os dois. Eram homossexuais? Os dois moram juntos... Brown faz de tudo para desqualificar a jovem Fanny.

O mundo do século XIX pertence aos homens. Até as tentativas de Fanny, para entender a poesia de Keats, são mal interpretadas. Às mulheres cabia bordar e preparar-se para o casamento. Não importa se de conveniência - na opinião das famílias. Casamento, amor, filhinha e boneca. Michele Perrot não cansa de afirmar que a trindade feminina da doçura açucarada das rosas e lírios é um tema obsessivo na pintura do século XIX, e como vimos, da vida de Fanny Brawne. Com a diferença, que mesmo vivendo a mulher trágica e romântica, para Fanny, não sobrou nem casamento, nem filhinha, nem boneca. Ela não realiza o sonho de casar com seu príncipe encantado, não transa, não faz amor e não tem filhos com Keats. O amor entre os dois é trágico e dolorosamente casto.

Keats é tão frágil , que não consegue impor sua vontade junto ao grosseiro Charles Brown. Muito menos ousa aspirar à mão da moça. Apesar da fragilidade da figura feminina, Fanny é a personagem forte, que vive um amor frustrado pelo grande poeta. Após a morte do amado, ela usa o anel presenteado por ele pelo resto da vida. Em seu amor romântico, a paixão de Fanny é eterna.

Vale assistir ao filme de Jane Campion pelos cenários românticos, bucólicos e idílicos. A belíssima fotografia é de Greig Fraser.

Se para Fanny não estou opção senão cuidar dos irmãos, as crianças, por sua vez, preocupavam-se em cuidar da irmã mais velha, como podiam. Essa relação de amor fraternal é emocionante.

Keats pergunta à irmã menor, que tinha bochechas muito, muito cor de rosa:
- "Quantas rosas você comeu hoje"?


domingo, 20 de junho de 2010

Em Busca de uma Nova Chance (The Greatest)

"The Greatest" é o título original do filme "Em busca de um Nova Chance", dirigido por Shana Feste, a jovem diretora de 34 anos. Como o nome indica, o filme conta a história da família americana que perde o filho em um desastre de automóvel. Os pais são Pierce Brosnan e Susan Sarandon. O drama é pungente. Aliás a história de perder um filho é tão dolorosa que nenhum de nós aceita sequer pensar nela. Acontece com os outros e quando acontece com nossos amigos, causa-nos muita inquietação, não existe perda maior...

O casal de namorados se acaricia, têm uma noite de amor, estão dentro do carro. O jovem pára o carro no meio da estrada. Louco! louco de amor. Ía fazer uma declaração de amor, quando acontece o pior. Porque ele fez isso? Só o amor pode responder...

A namorada é Rose (Carey Mulligan), lembram da jovenzinha que se apaixona pelo homem mais velho no filme "Educação"? (Veja neste blog). A atriz inglesa é jovem, bonita, seu rosto e sorriso franco irradiam frescor e saúde. Mas é certinha demais no filme! Nenhum defeito!

Os pais pelo menos mostram todas as suas contradições. É verdade, faz tempo que enjoei Susan Sarandon. A atriz que possui o sorriso mais feio de Hollywood, os dentes são uma linha reta e estão gastos, ficaram sem altura. Pierce Brosnan sempre me pareceu tão chato quanto o personagem que interpretava em "Uma Babá quase Perfeita", lembram quando ele se engasga com uma espinha de peixe? Brosnan era Stuart Dunmeyer, o namorado de Miranda Hillard (Sally Field). Quando encarnou 007, era pior ainda.

Acho que me reconciliei com os dois. Gostei das interpretações. Quem consegue imaginar o que um pai e uma mãe podem fazer numa situação dessas? A mãe, Grace não pára de chorar, não entende aquela menina intrometida que entra em sua casa dizendo que está esperando um filho de seu promogênito morto. Chega a dizer que prefere que Rose tenha morrido ao invés do filho. Grace obcecada pelo problema chega a pensar que Rose entrou em sua casa para lhe tirar, primeiro o filho, depois o marido. Incrível, ela tem uma certa razão... Acusa o marido de curtir seu luto com a menina grávida em uma sala de cinema, depois em uma festa a fantasia.

A família literalmente entra em surto. Allen não consegue chorar. Fica com aquela cara... Grace assume um comportamento muito estranho. Visita diariamente o causador do acidente, que está em coma. Quer saber em detalhes os últimos momentos do filho. Somente quando ouve o relato de todo o horror, consegue juntar seus pedaços. Reunir e organizar sua dor e perdas. Consegue elaborar o luto.

Allen que parecia o equilibrado, o que segurava as barras da família tem um "hard attack". O ator me pareceu bem convincente. Allen simplesmente não aguenta e quase morre. O filho caçula é esquecido em meio à dor. Também atinge ao clímax do desespero.

Finalmente um bebê reúne a família. É verdade, um bebê ajuda muito nesse sentido. Mas os problemas permanecem... No filme tudo fica em suspense. Como se dali para a frente todos fossem viver do passado, falando a toda hora em como era maravilhoso aquele filho que morreu! Como se aquilo fosse uma solução... Acredite se quiser...


domingo, 13 de junho de 2010

Cartas para Julieta (letters to Juliet, EUA, 2010)

O tema do "amor" é cantado mais uma vez em "Cartas para Julieta". A jovem Sophie (Amanda Seyfried) pesquisa personagens que protagonizaram fatos e datas marcantes para a humanidade. Quer publicar suas histórias.

Viaja em pré lua de mel com o noivo, Victor (Gael García Bernal). A distração de Victor não passa despercebida. Esquece a noiva, mergulhado em sua paixão pela gastronomia.

Ao visitar a casa de Julieta, em Verona, Sophie encontra uma carta escrita por Claire, há 50 anos atrás, para seu grande amor Lorenzo (Franco Nero).

Sophie faz amizade com mulheres que fazem um trabalho voluntário, respondendo às cartas de amor enderaçadas à Julieta. Responde à carta de Claire, que passados 50 anos , é uma senhora de cabelos brancos, pele enrugada e caminhar frágil. Surpreendentemente, Claire recebe a carta e viaja à Verona, em companhia do neto, Charlie (Christopher Egan).

Aí tem início a história de dois amores. Do amor maduro e da paixão jovem. Claire, Charlie e Sophie viajam pela Itália à procura de Lorenzo. O enredo romântico, digno do Dia dos Namorados é completado pela belíssima paisagem italiana. Existem lugares mais belos? Verona, Siena, Florença e a Toscana. E ver e morrer...

Se o filme tem seus clichês, soluções que conhecemos de antemão, também possui momentos de emoção. A comédia romântica não é menos emocionante por ser previsível. É um privilégio rever Vanessa Redgrave e Franco Nero. Na vida real ele também foi o grande amor de Vanessa. Quem não lembra da jovem Vanessa Redgrave em "Blow Up"? E Franco Nero nos westerns italianos?

As duas atrizes se completam, Vanessa é a grande dama do cinema, sua personagem transborda carinho, dignidade e bondade. O olhar de Amanda Seyfried empresta à Sophie muita beleza e ternura.

Quando Claire penteia o cabelo de Sophie faz aquele gesto carinhoso, de mãe que acarinha a sua filha. É emocionante. Você já imaginou gesto mais tocante do que escovar os cabelos de sua filha?

Veja a melodia no olhar de Claire para Sophie e o neto. Como cupido, deseja que o amor se concretize. O espectador fica sabendo de antemão que o noivo, o charmoso Gael Garcia - quer dizer - Victor, irá sobrar.

Gary Winick, que fez "Noivas em Guerra" e "De repente 30" fez um filme doce, mostrando que na vida tudo é possível. Ainda mais , em se tratando de amor, ou de amores impossíveis.

Devemos nos perguntar: "E se?" Afinal, nunca é tarde demais, precisamos apenas da coragem necessária para seguirmos nosso coração. "E se?" Você um dia respondeu a esse questionamento? "E se?"

Se ainda não o fez, poderá fazê-lo um dia. Quem sabe amanhã?


quinta-feira, 10 de junho de 2010

O Profeta (Un Prophète)

No Festival Varilux do Cinema Francês, se Nicolas tratava do tema da inocência , "O profeta" trata da violência. A França vive o drama da imigração clandestina e da criminalidade. Dirigido por Jacques Audiard, o filme ganhou 8 César e dois prêmios no Festival de Cannes. Recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Jacques Audiard faz um trabalho político, que denuncia o sistema carcerário, na França. A crítica pode estender-se ao resto do mundo. Não se conhece um país que tenha resolvido o problema de recuperar seus criminosos, aqueles que matam, roubam, cometem crimes hediondos , ou ainda que entram para a prisão devido a um pequeno delito.

Malik El Djebena é interpretado por Tahar Rahim. O ator é perfeito, foi talhado para o papel do jovem infrator, que entra na prisão para sofrer a sua grande transformação.

Aos 19 anos Malik é preso. No cárcere, transforma-se em vítima do predador, o corso (Niels Arestrup), chefão da máfia, que manda na prisão e em seus administradores. O ator francês impressiona com seu personagem. O mafioso o encarrega dos mais diversos serviços sujos, como condição de sobrevivência. Malik sofre, apanha, é violentado em todos os sentidos. Literalmente, o jovem ingênuo e desprotegido entra para a Escola do Crime, com direito a Pós-Graduação. Descobre os meandros do poder. Dentro da prisão, faz a "sua" ruptura com a normalidade. Afinal o normal é ser subserviente, ser pelego, matar ou roubar, obedecer ordens...

"O Profeta" não rompe com o crime, mas sim, com os que o condenam a uma vida de servilismo, a uma vida de risco e de trabalho porco. Malik não conhece outro mundo.

O diretor não mostra se o personagem aprendeu alguma coisa na vida que o incentivasse a crescer como ser humano. No sentido de que pudesse tornar-se um verdadeiro homem, algum dia. Só viu e viveu, dor, carência, maldade e crime. Essa foi sua Escola.

Malik rompe porque deseja ascender ao "poder". O que se vislumbra é o poder criminoso, embora em alguns momentos possamos surpreendê-lo encantado com o bebê, filho do amigo (Adél Bencherif), secretamente desejando uma vida normal, em família.

O Profeta, depois de enfrentar seus medos e suas angústias, rompe com o papel de prisioneiro subserviente, servil e subordinado para ascender que considera verdadeiro. Aliás é o único poder que está ao alcance de Malik, o poder criminoso. Triste ascenção do Profeta, que se torna o melhor aluno na Escola do Crime. Supera seu mestre. Se existe a "construção" do personagem, só se for na contra-mão, ou melhor na mão do crime.

De uma vida em família, para ele sobram as migalhas. Após a morte do companheiro, contenta-se com as sobras. Conforma-se em ficar com a mulher e o filho do amigo. Porque não tinha uma namorada, conquistada por ele próprio? Afinal , o coitado nem tinha vida própria...

" O Profeta" é um filme sério, de denúncia, sei disso e prefiro "Oceans ", "Migração Alada" ou "O Pequeno Nicolau".


quarta-feira, 9 de junho de 2010

O Pequeno Nicolau

Graça, beleza e inocência caracterizam " O Pequeno Nicolas", de Larent Tirard. O jovem diretor de cinema francês dedicou-se à adaptação do livro " Le Petit Nicolas", de Sempé -Goscinny, que tornou-se um enorme sucesso de público.

São inúmeros os filmes que se preocupam com as crianças , desde temas leves, que tratam da visão de mundo infantil, como "Marcelino Pão e Vinho", até outros mais densos, pesados e dramáticos como "Adeus Meninos" de Louis Malle.

Lembro a delicadeza de "O Balão Vermelho", em que o menino segue aquele balão com vida própria, ou ainda "Le Château de Ma Mére" ou "La Gloire de Mon Père, de Yves Robert.

Maxime Godard está impagável como o pequeno Nicolas. Kad Merad, que nos fez rir em "A Riviera não é Aqui" está ótimo. A mãe, Valérie Lemercier da mesma forma. O pequeno Nicolas provavelmente nasceu em 1945. Deveria ter uns 7 anos quando sua história é contada.

Existem mais histórias de meninos que meninas? Elas quase sempre são consideradas bobas ou chatas? A não ser clássicos como "Branca de Neve e os Sete Anões ", "A Bela Adormecida", "Mindinha", "Alice no País das Maravilhas", "Cachinhos de Ouro" ou "Rapunzel" não existem muitas histórias sobre a vida cotidiana das meninas.

"O Pequeno Nicolau" é um primor de menino, graça das graças, lindo, inteligente, inocente! Orgulho de qualquer mãe!

Nos anos 50 as crianças pareciam mais inocentes. Bobagem... a única diferença provavelmente é que não desenvolviam um lado da violência via televisão. Mas existia violência na própria escola. Observem a figura assustadora do inspetor de disciplina (mostrado também como um otário) e da professora substituta (uma megera de traumatizar qualquer criança). Muito engraçado o menino desatento, Clotaire (Victor Carles). É isso uma criança com déficit de atenção? Sempre no mundo da lua? Mas que nas relações com os amigos é fiel, assume o castigo para livrar seus companheiros e enganar o diretor.

Laurent Tirard mostra com sutileza a visão de mundo infantil, o amadurecimento das crianças e o pequeno Nicolas aprontando todas. Tudo em virtude de um mal entendido. Pensava que os pais iriam abandoná-lo quando nascesse o irmãozinho. O filme mostra a visão de mundo de Nicolas. Mas, como um adulto consegue ter essa percepção? Nós adultos não lembramos o que pensávamos quando éramops crianças. O professor, o educador houve tudo o que seus alunos conversam entre si? Bem eles devem saber...

Tudo parece muito verdadeiro e é contado de uma forma engraçada para fazer rir. Como se a história fosse a história de vida do próprio diretor.

Quando criança Nicolas tem muita dificuldade para descobrir o que deseja fazer quando crescer. Até que um dia se ilumina. Os adultos riem de suas histórias infantis. Nicolas termina descobrindo o que fazer da vida... Fazer rir!!!

Não percam, o filme está passando no Festival Varilux do Cinema Francês!


terça-feira, 8 de junho de 2010

Oceans

Jacques Perrin é um homem feliz, não precisa perguntar a si mesmo, se fez o que poderia ter feito pela terra e pela humanidade. Frente à sua consciência diante do universo, possui o conhecimento de um mundo superior e já fez o que tinha que fazer.

O tempo passa rápido! Lembro de Jacques Perrin em "Dois Destinos", de Valério Zurlini, um dos filmes de minha vida. Intimista, conta a história de dois irmãos, um deles é Perrin, o outro, Marcelo Mastroiani. O segundo filme da minha vida é "Abismo de um sonho", de Fellini, com Giulietta Massina. Meu interesse pelo cinema começou com esses filmes.

Em "Pele de Asno" Jacques Perrin transforma-se no príncipe encantado, ao lado de Catherine Déneuve. Casualmente, minha mãe contava-me essa história. Sua mãe contou a história de "Pele de Asno" para você? Bem ela fantasiava cada vez, e eu adorava.

Assim só me resta amar Jacques Perrin. Amadurecido, o ator se transforma em alguém muito mais interessante. Nos apresenta "Oceans" uma obra de arte tão bela quanto " Migração Alada". Porém não devemos esquecer, "Oceans" é uma parceria entre os diretores Jacques Perrin e Pierre Cluzaud.

Em "Migração Alada" (ganhei do Luiz, o Merten, o livro e o DVD do filme) a equipe de filmagem acompanha a migração das aves em diversos continentes, fugindo do inverno, procurando alimento e lugares de temperaturas cálidas para viver e se reproduzir.

Ambos são filmes belíssimos. "Oceans" é uma experiência estética muito particular. O filme é uma celebração à vida e à natureza. Perrin filma em mares do mundo inteiro. Surgem as mais exóticas espécies. Crustáceos lembram robôs de filmes de aventuras. Deslocam-se feito "transformers" no fundo do mar. As parcerias entre animais, e a cumplicidade entre homem e peixe, nadando juntos são de uma beleza sem igual. Um mundo instigante, a fúria das águas ou a calmaria do mar inundam a tela.

Na luta pela sobrevivência, peixes protagonizam um balé submarino não ensaiado, emocionante e belíssimo. Lobos marinhos e focas se aboletam na praia, todos muito juntos se aquecem ao sol. Seres humanos comportam-se da mesma forma. Deitam-se nas praias ou nas praças, ficam muito juntos e também tomam banho de sol. Tudo igual, acho muito engraçado esse comportamento idêntico, homem-animal.

Emoção e beleza equivalem ao que sentimos ouvindo uma sinfonia de Bethoven. Existem momentos de verdadeira apoteose.

Os dois filmes de Jacques Perrin exibem a mesquinharia dos homens, a perda total de consciência, no processo ensandecido de destruição da natureza. A denúncia é contundente, quando vemos a dolorosa matança dos peixes. Em um verdadeiro funeral submarino - após terem seus rabos e barbatanas cortados - os peixes são largados ao mar, ainda vivos. Morrem devagar, caem em pé... Em lenta agonia chegam ao fundo. Como um fole, as guelras vão parando... De boca entreaberta são tomados pela morte, param para sempre...

Finalmente o próprio Jacques Perrin surge como o homem que assume a consciência da preservação do planeta. Transmite seus ensinamentos e sua experiência à criança. Ultrapassa a condição de ator. De mãos dadas com o menino, como o avô de cabelos brancos, eles nos convidam a "abrir os olhos". Ainda há tempo para salvar o planeta. Cada um precisa fazer a sua parte. É preciso "romper". Estabelecer uma ruptura com o conformismo. Inserir-se no mundo de uma outra forma. Esse é o legado de Jacques Perrin para a humanidade.

O filme é imperdível, não deixe de assistir.


sábado, 5 de junho de 2010

Faça-me Feliz ( Fais-moi Plaisir)

No cinema Artplex do Bourbon Country, em Porto, é claro, de 04 a 10 de junho está passando o Festival Varilux de Cinema Francês. A programação é ótima e vale conferir. Ontem assisti a "Faça-me Feliz" . O filme é dirigido e intrepretado por Emmanuel Mouret. A comédia é refinada, bom gosto e sutileza para fazer rir. O tema não é novo. Até parece que Emmanuel faz uma homenagem a Peter Sellers, em seu inesquecível e clássico "Um convidado bem trapalhão".

Emmanuel é Jean-Jacques, o vizinho de Judith, interpretada por Fréderique Bel. Se externamente, os apartamentos de ambos possuem portas contíguas, na intimidamente os espaços se fundem, bem como seus corações. Mas Judith desconfia da fidelidade do companheiro. Propõe que ele seja infiel, tendo um caso com outra, para provar, no retorno o quanto a ama

O filme é interessante mostra um jogo de sedução e de ingenuidade. Em todas as aventuras que Jean-Jacques se expõe, surge o inesperado, as gags e as brincadeiras. Tudo de uma forma delicada e ingênua. Como quando está esperando a filha do presidente. Imagine só a "outra" que o jovem encontra , nada mais é que a filha do Presidente da República. Os dois precisam passar por corredores subterrâneos e escuros para chegar à casa da moça. As gags no "elevador" que fala são das mais divertidas. Ou a sinuca em que se mete quando enfia o dedo no vaso, que ornamenta a casa do presidente. Ou ainda quando é disputado pelas jovens vestidas de branco, literalmente virgens à procura do seu "primeiro" amor!!!

Jean-Jaques possui um ar de quem vive no mundo da lua, alguém genial em alguma coisa que faça. No início não sabemos o que ele faz, sabemos apenas que vive atrapalhado o tempo todo. Depois descobrimos, ele é inventor. Apenas não pensou ainda para que podem servir suas engenhocas. Assim um Monsieur Hulot, um "clown" que dá todos os foras possíveis mas que ganha a mocinha no final. Aliás Jean-Jacques pode até escolher com quem quer ficar.

Não perca a doce ironia de Emmanuel Mouret.


terça-feira, 1 de junho de 2010

Surpresa em dobro ( Old dogs)

John Travolta e Robin Williams deveriam ter doado o cachê que cobraram para fazer o filme "Old Dogs". O nome em inglês é perfeito!

"Surpresa em dobro" é uma comédia que teoricamente seria interessante para crianças . Mas como explicar? Elas não foram à matinê. A sessão estava cheia de senhoras que pagaram meio ingresso... Muito provavelmente as crianças estão querendo outro tipo de filme, e com razão.

Quase tudo é clichê. Até o penteado de Travolta, com ondas que caem estrategicamente sobre a testa. Ele pintou os cabelos! Mas enfim não ficou tão mal. Pior mesmo é Robin Williams, o ator mais antipático e preconceituoso do mundo - fala mal do Brasil e das brasileiras. E o corpo dele? Pelado, o Robin é muito feio! Gordo, com um barrigão e alguns músculos que não disfarçam a gordura! hi ! hi! hi !

Porque o Travolta aceita fazer esse tipo de filme? Entre uma viagem e outra no seu Boeing? Alguns dias em que não tem o que fazer?

O filme fala sobre o exercício da paternidade. Robin resolve assumir seus filhos. Sem coragem para encarar a empreitada sozinho, precisa do auxílio do sócio, John Travolta. Os dois tem uma longa parceria em uma empresa que pretende ampliar o ramo de negócios estabelecendo acordos com japoneses.

Na série de clichês, os japoneses são vistos como bobos, como crianças que precisam ser conquistadas por palhaços. Os palhaços são os dois, Travolta e Williams.

O pai precisa lutar muito para conquistar seus filhos. Para encarnar o pai super-herói que vive no imaginário da filha, ele tem que fazer das tripas coração.

Travolta é o tio, o homem sozinho, sem família, que não quis filhos no tempo certo e se realiza bancando o tio dos filhos dos outros. Você já viu essa, não é?

O pequeno funcionário da empresa, que trai os chefes com seu comportamento imaturo e inadequado, cai na jaula da macaca. Era sabido que dali não sairia tão fácil. A macaca o segura, aperta e beija muito. Faz nana nenê, uma gracinha. Se ele tentar fugir o abraço virá mais forte!
Todas as piadas fazem rir, mas de antemão sabemos tudo que acontece.

A dupla precisa "passar muito trabalho" para finalmente conseguir conquistar o coração dos japoneses, das mulheres e dos filhos! Para finalmente cada um formar uma família feliz! hi ! hi ! hi!

Só mesmo na matinê de domingo, desta vez cheia de senhoras pagando meio ingresso!


O Escritor Fantasma

O thriller de Roman Polanski não tem suspense. Não envolve o espectador. Assiste-se ao filme sem um grão de suspense.

O "Escritor Fantasma"conta a história de um escritor (Ewan McGregor) que aceita escrever as memórias de um ex-ministro da Inglaterra, Adam Lang (Pierce Brosnan) em substituição a outro escritor fantasma encontrado morto à beira da praia.

Ewan McGregor, por si só vale o filme. Pierce Brosnan, nem tanto, mas, está bem como o personagem que se rodeia de pessoas inescrupulosas, para subir na carreira política. Adam Lang, que vira testa ferro de poderosos seria uma referência a Tony Blair, primeiro ministro inglês, que colocou a Inglaterra no meio da Guerra do Iraque.

O filme de Polanski trata de intrigas políticas, de uma guerra suja em que a CIA participa como vilã. Ewan é o escritor que se vende para ficar no anonimato, que não deve se manifestar e muito menos buscar a verdade. Tudo isso pode tornar-se extremamente perigoso.

Uma das poucas coisas que me impressionaram foram o "banker" do ex-ministro e a paisagem desértica da ilha onde refugiou-se.

O "banker" é frio e concebido em uma arquitetura minimalista e contemporânea. Mais gélida que o pólo sul, sem nenhum ornamento. Observe as aberturas, são buracos enormes nas paredes, que trazem a paisagem da ilha para dentro do escritório de Adam Lang. O fundo vira forma. Observe a continuidade espacial, as cores e os materiais. Tudo o que os arquitetos adoram!