domingo, 7 de fevereiro de 2010

É Proibido Fumar

Glória Pires fuma muito, muito. Mas interpreta de uma maneira tão e tão natural, que é como se estivesse vivendo a própria vida. Até parece que ela interpreta quando vive a sua vida verdadeira e vive de verdade quando interpreta a personagem Baby. É como se o personagem fumante fosse mais verdadeiro e pungente do que o seu oposto... O espectador não consegue desgrudar os olhos de Glória Pires. Baby é uma mulher solitária, que não tem nada de boba. Possui um gosto bastante comum. Diríamos, um pouco vulgar na maneira de decorar o apartamento. É justamente isso que nos atrai para a personagem. As roupas que usa são exóticas, no mínimo. E aquele tique nervoso - de estar com um cigarro entre os dedos e soltar labaredas de fumaça - é divertido.

A diretora Anna Muylaert carateriza muito bem os personagens. O músico parece que esqueceu que os anos 60 passaram há muito tempo! he! he! he! Max, o vizinho está no bagaço, a barba por fazer... Se era moda, Deus nos livre! E o cabelo? Era daquelas pessoas que parece que nunca tomam banho. Mesmo que o fizesse não adiantava. E vimos ele tomar banho e sair com cara de sebento. Além do que não dizia nada com nada, só falava besteira. Mas não é que a Baby encafifou que queria o músico?

Baby recebeu o apartamento onde morava como herança da mãe. Vivia discutindo com a irmã Teca (Dani Nefussi) por causa de um sofá que tinha ganhado da tia Diná, e que a outra irmã tinha se adonado. Para o cúmulo, a tal irmã tinha trocado o forro vermelho e colocado um estampado, que Baby odiou.

O que adoro nos filmes brasileiros da atualidade é essa maneira escrachada de falar das coisas e das pessoas. Esse jeito de caracterizar os personagens, ricos, pobres, classe média, etc. Esse mau gosto, esse jeito kitsch de ser do brasileiro faz com que nos identifiquemos. Prestem atenção no apê de Baby. Possui muitos quadrinhos de flores, muitas folhagens, muita begônia e muitos guardanapinhos de crochê. Até parece uma selva amazônica. É a cara de Baby, e é a nossa cara também. A estante é um verdadeiro bazar, cheia de bibelôs e lembrancinhas de viagens. Não seria familiar a algum de nós? Com certeza essa história de "the less is more" não é para brasileiro. É para arquiteto, que na teoria ama Mies van der Rohe.

- "Nóis semo é brega mesmo, hi, hi, hi!"

As irmãs também são ótimas. Teca (Dani Nefussi) é aquele tipo de mulher gorda e desleixada, com um vestido estampadinho que aperta e tenta levantar seios gigantes, que se unem com uma linha reta no meio. E ainda tem uma enorme mancha de suor embaixo do braço... Pop ( Marisa Orth) é a outra irmã megera, magra e desonesta, que não liga o mínimo para Baby. A que tomou o sofá e terá que devolvê-lo.

A própria Baby parece uma Mercedes Sosa de 1,53 m, sem cintura. Não é muito gorda , mas é reta. Quando se arruma para o jantar com Max fica bem bonita, com lábios vermelhos e o cabelão, para ouvir do idiota do músico que o salmão estava seco e faltava creme de leite!

Mesmo assim, cisma que quer o cara e faz o que deve e o que não deve. Insiste, logo com o tal músico que diz para ela:

- "Dá pra ti fumar mais pra lá?"

Pior, quando faz o que não deve, deixa pistas. Assim as coisas se quadram. Max, é sabido, não vale um tostão. Só pensa em Stellinha (Alessandra Colasanti) uma perua, muito alta e vistosa que recebe tratamento exemplar... Que triste... Pobre Stellinha...

Como ninguém é honesto, todos tem seu preço. Quem quer comprar, tem que pagar!

Vale a pena assistir Glória Pires e Paulo Miklos. Eles estão ótimos. O filme ainda está passando no Moinhos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário