terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Mensageiro (The Messenger)

Woody Harrelson (Sargento Stone) e Ben Foster (Will Montgomery) são os dois oficiais do exército americano encarregados de noticiar às famílias, a morte de seus entes queridos, os soldados mortos na Guerra do Iraque. O exército os tornou quase idênticos, cabelos muito curtos ou totalmente raspados, olhos azuis, cabelo de um e bigode do outro - da mesma cor-, pele clara e uniformes iguais.

Pertencem ao exército, a família que melhor cuida de você, segundo o sargento Tony Stone. O patrão do par de vasos é o exército, que tira a própria vida, ou o melhor de seus filhos, no auge da juventude, em nome de uma guerra já condenada por antecipação. Guerra essa que a partir de 11 de setembro foi apoiada pela sociedade norte americana. Os resultados porém são catastróficos. É a própria contradição. Stone percebe o paradoxo e crítica as famílias que permitem que seus filhos vão para a guerra: "Eles pensam que é uma brincadeira"?

"O Mensageiro" poderia ser considerado um filme de estrada. Os dois oficiais rodam pela estrada até chegar ao seu destino, as residências das famílias dos soldados mortos. Existem regras para essa atividade. A primeira foi a de torná-los idênticos e despersonalizados para representarem o exército sem emoções. Provavelmente a segunda regra é não envolver-se emocionalmente com o parente mais próximo (PMP). Se o PMP não estiver, é preciso voltar outro dia. Outra, refere-se ao horário, não é de bom tom noticiar antes do café da manhã. É indigesto segundo Stone. Bater na campainha, não esperar muito tempo, se não atenderem, voltar outro dia. Não abraçar, não tocar nos parentes enlutados. Assim, os dois oficiais são treinados para a difícil missão.

Porém, uma coisa é saber de cor e salteado as regras, outra é não envolver-se, não sentir emoções, não solidarizar-se com o pranto dos familiares; outra é fazer o serviço. Esse é o grande dilema dos dois soldados. Sofrem e não conseguem se adequar. O filme trata das individualidades da dupla, de suas fraquezas, coerências e principalmente de companheirismo.

Se externamente Will Montgomery e Stone são quase iguais, as diferenças entre os dois são gritantes. Ambos são solitários. Stone é o companheiro durão que dita as regras e faz críticas ao colega. Montgomery, mais sensível é tocado no momento em que se vê frente à viúva de Phil Pitterson, Olivia Pitterson (Samantha Morton). De saída esbarra em uma das regras mais importantes. Não envolver-se com o PMP. Ambos estranham a reação da sra. Pitterson. Ela pede desculpas por aquela tarefa ter sido tão difícil para os dois. Um olha para o outro, sem entender nada. Justo eles que tinham levado porradas do pai de um dos soldados mortos.

Samantha Morton tem uma bela interpretação. Sempre achei a atriz muito estranha, mas faz uma Olivia, com perfeição. Sempre muito tensa, ao mesmo tempo sente-se atraída por Montgomery. Observem como são bonitas as cenas em que os dois se olham, ficam muito próximos um do outro. Ficamos esperando aquele beijo casto que não vem... Não se tocam, ou quase não se tocam. Como se a própria PMP não quisesse ferir a regra do exército. Mesmo assim Stone não perdoa! Lembram-se dela? a robô de Minority Report? ou a Mary Stuart em "Elizabeth, the golden age"?

As reações dos familiares sempre surprendem os oficiais e o espectador. No primeiro encontro o drama é assustador. A cena mais comovente é a do pai abraçando e consolando a filha, que casou em segredo com o jovem que foi para a guerra. Os dois chegam para noticiar a morte do soldado. O pai, que não sabia do casamento, critica a filha. Vê que não há o que fazer, abraça e consola a jovem, em uma cena em que desabamos junto. Como é importante um abraço nessa hora...

Os contatos com os familiares são difíceis e dolorosos. Quanto o espectador não aguenta mais a emoção, o diretor corta e mostra uma cena leve. O par de vasos também não aguenta o tirão e precisa relaxar em algum bar, divertir-se em algum namoro de ocasião. Stone é um homem solitário e durão. Ao que parece não tem ninguém. Daqueles, como digo que não tem um peixinho para cuidar, muito menos um gato ou um cachorro. As duas figuras uniformizadas batendo nas portas causam impacto. Muitos moradores efetivamente levam um susto. Sabem de antemão que os dois são aves de mau agouro, trazem más notícias.

O filme é impressionante como crítica à Guerra no Iraque, sem mostrar cenas dos conflitos. " O Mensageiro", explicitamente, não é um filme de guerra, é antimilitarista. Entretanto, como tal não chega aos pés do clássico de Stanley Kubrick, "Glória Feita de Sangue" (1957), o melhor filme antimilitarista de todos os tempos.

Não deixe de observar a fotografia, sombreada nos limites do quadro, com efeitos fortes de luz, sombra e cor, destacando as figuras do plano. "O Mensageiro" é dirigido por Oren Moverman e foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para Woody Harrelson e Melhor Roteiro Original para Alessandro Camon e Oren Moverman. Nestes quinze dias que antecedem a semana do Oscar, aproveite, fique atualizado e assista a mais filme que poderá ganhar a estatueta no dia 7 de março.


Nenhum comentário:

Postar um comentário