domingo, 19 de fevereiro de 2012

A Dama de Ferro ( The Iron Lady)

Apesar de todas as denúncias que "A Dama de Ferro" possa ter feito à política conservadora de Margaret Thatcher, o filme tem a visão do colonizador. América Latina e latino americanos, na acepção da biografada Thatcher são medíocres assassinos. As Ilhas Falkland, Malvinas para nós, são uma verdadeira ambição para os britânicos. Assim, quem está coberto de razão é Luiz Fernando Veríssimo (Zero Hora, 13 de fevereiro de 2012) quando escreve que " as ilhas Falklands são os últimos farelos de maior sistema colonial que o mundo já conheceu. Um sistema que levou à expoliação comercial, à prepotência e à morte- junto com o parlamentarismo, o críquete e o chá com bolinhos- a todos os limites da terra, e ainda se apegava aos seus domínios , muitas vezes por orgulho imperial, quando outras potências coloniais já tinham desistido." Por isso mesmo ninguém se admira quando vê a Sra. Thatcher praguejando contra os argentinos, chamando-os de assassinos covardes. Há poucos dias o primeiro-ministro britânico David Cameron chamou os argentinos de "colonialistas" (sic!) por desejarem incorporar as Ilhas Malvinas ao seu território. Assim, a posição do diretor Phyllida Lloyd incorpora esse pensamento colonialista de uma forma inconsciente, quem sabe? Mais uma vez citando Veríssimo, "chutzpah " é a palavra adequada para definir o cinismo britânico em relação aos países colonizados. A palavra é de origem judaica e um "chutzpah" é o maior cara de pau do mundo, aquele tipo que mata o pai e pede clemência para o filho órfão. Como diz o ditado, mata o pai e vai chorar no entêrro.
Antes de preocupar-se em dizer que Meryl Streep está bem, que Meryl representa bem sua personagem devemos refletir sobre esta característica britânica. A Scotland Yard, por exemplo, é considerada a polícia melhor equipada do mundo, mas confunde com terrorista um simples brasileiro que vai pegar o metrô e o abate friamente, sem conferir previamente. Esta é a forma como a Inglaterra trata imigrantes e latinos. Então que dêem o prêmio para a Sra. Streep - não engrandece, se ela não tiver uma visão crítica. O importante é que o espectador consiga estabelecer uma separação entre o sucesso da atriz e a personagem histórica. A paparicação em torno de Meryl Streep, como uma das preferidas ao Oscar não deve influenciar o público em sua apreciação de Margaret Thatcher. A primeira ministra continuará sendo percebida uma personagem ingrata e conservadora. Infelizmente, para ela, foi tratada com desprezo tanto pelas elites como pela classe média e proletária. As classes dominantes consideravam-na a eterna filha do quitandeiro, alguém sem berço, que exercia o cargo de primeira-ministra como quem administra economia doméstica.
Porém, em alguns momentos, não há como não solidarizar-se com Thatcher, na velhice. Todo idoso, em certo momento da vida precisa provar aos filhos e ao mundo que ainda não enlouqueceu de vez, que ainda não foi tomato completamente pela demência. E os médicos fazem os testes: Fique num pé só! Coloque sua mão direita no rosto! Quantos filhos a senhora tem? Que dia é hoje? Se é que Thatcher tem Alzheimer no dia do exame estava em melhores condições de cabeça do que seu medíocre médico . Deu respostas brilhantes e à altura. Não há como negar também que a Sra. Tatcher conquistou a Inglaterra com suas próprias forças. Foi uma estudante brilhante, chegou à Universidade graças ao próprio esforço e interesse. E teve a sorte de casar-se com alguém que a amou e apoiou muito. Denis, o marido é interpretado por Jim Broadbent, um grande ator que também merece o Oscar.


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