segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres ( The Girl with the Dragon Tatoo)

"Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres" é melhor que "Rede Social", o filme que no ano passado foi candidato ao Oscar. Ou, pelo menos, eu não estou interessada na vida do criador do Facebook, que não era nenhum primor de honestidade, não é mesmo? O filme baseia-se na Trilogia Millenium, de Stieg Larsson, " Os Homens que não Amavam as Mulheres", "A Menina que Brincava com Fogo" e "A Rainha do Castelo de Ar". Os personagens dos três livros são o jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) e Lisbeth Salander (Rooney Mara). Como bem afirma o patriarca da família Vanger, o trabalho de investigação que ele confiará a Mikael surpreenderá pela sordidez e pelo mau caráter das pessoas que serão investigadas, os membros de sua própria família.
Se o jornalista perde e é humilhado em sua primeira investida contra o notório golpista Wennerstrom, sua nova tarefa junto à família Vanger não é menos difícil. Deve pesquisar as circunstâncias do desaparecimento de Harriet (Moa Garpendal), neta de Henrik Vanger, com notável interpretação de Christopher Plummer.
Mikael inicia sua pesquisa e recebe apoio da haecker Lisbeth Salander, uma investigadora alternativa que foge a todas as regras a respeito dos estereótipos de investigadoras. Mikael só não sabe que Lisbeth investigou sua vida anterior, contratada pelo mesmo advogado com quem negociou.


Millenium possui suspense e mistério. Em momento algum o espectador fica distraído. A trama é concebida com astúcia. O filme é muito bem montado, alternando cenas de movimento e violência, com o silêncio da pesquisa do jornalista; com Mikael e Lisbeth unidos, mas separados em momentos de sofrimento e tensão, um não sabendo do outro. Os personagens são bem pintados e caracterizados. E descobrimos que não se salva ninguém, nem Mikael. Ninguém é um primor de caráter. Desta vez, Daniel Craig interpreta o jornalista sem todo aquele charme e dureza de 007, o espião com licença para matar. Mikael usa um sobretudo justo, envidenciando sua magreza e fragilidade. A barba está quase sempre por fazer. Quando ele conversa muito próximo à Lisbeth, seus olhos azuis transparentes continuam muito bonitos e só. Existe um momento em que ele parece bem Jeca, com seu pijaminha vermelho quadriculado e a cara amarrotada.


"Millenium - os Homens que não Amavam as Mulheres" é envolvente quando Mikael e Lisbeth evoluem em suas investigações e ele descobre a sequencia de fotos do desfile - ocorrido há quarenta anos atrás - que poderão desvendar o enigma. Pode até ser comparado à "Blow-Up" um dos melhores filmes de Antonioni, em que o fotógrafo Thomas (David Hemmings) ao revelar fotos decobre um assassinato. A sequencia de imagens de Harriet, ao lado de sua prima Anita mostram sua surpresa ao enxergar alguém do outro lado da rua. Mikael fica obcecado em descobrir a identidade dessa pessoa misteriosa. Em ambos os filmes, casualmente um gato é retalhado e colocado à vista de cada um dos personagens, Thomas e Mikael, nos dois filmes, para intimidá-los.
A participação de Lisbeth é o toque de classe do filme. Lisbeth tem 23 anos, mas é tutelada pelo Estado. Desde os 12 anos é considerada mentalmente incapaz. Queimou 80% do corpo do pai quando era criança. O que ele terá feito? Depende das graças de um funcionário do Estado que lhe assegura uma mesada e relatórios de psicólogos sobre sua saúde mental. A vida de Lisbeth sempre foi dura. É uma menina sozinha, que foi e continua muito abandonada. Ela poderia ser a sua filha! Não poderia? Sua filha poderia um dia estar sofrendo os mesmos riscos, não poderia? Ela precisa e merece muito amor. Além de tudo Lisbeth é genial, muito ágil, esperta e inteligente. Sabe tudo de computadores e coloca Mikael no bolso. O visual da garota é uma graça, muito punk, não consegue esconder um rostinho adorável e bem desenhado pela natureza.
De início, Lisbeth é vítima dos abusos sexuais do funcionário do Estado, um gordo porco, perfeito para caracterizar o bandido tarado. A cena do abuso sexual e a da revanche de Lisbeth são duras. A punição do abusador é a catarse do espectador. Nos sentimos vingados. Esse tipo de sentimento é o mesmo que Sam Peckinpah provoca em "Sob Domínio do Medo", quando o professor David Summer, interpretado por Dustin Hoffman explode em violência depois de ser humilhado. Como o herói de Peckinpah, Lisbeth não esquece seu inimigo. A garota ainda tem uma relação muito peculiar com a dor; resiste, não sente medo. É uma dura investigadora. Mikael ao contrário, no final se mostra um alienado. Sem saber, na santa ignorância tem seus problemas resolvidos por Lisbeth, que caça Wennerstrom, seu grande inimigo. Mikael também não sabe - nem quer saber-, cativou Lisbeth, que solitária e carente acreditava que tinha encontrado um amigo e um amante...












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