Jafar Panahi continua em prisão domiciliar enquanto "Isto não é um Filme" passa a ser visto no mundo todo. Qualquer pessoa que quiser se informar sobre Jafar Panahi ficará sabendo do absurdo que acontece no Irã. Todos os jornais do mundo noticiam. Leia o Estadão de 10 de fevereiro de 2012, às 20h12: "O Irã bloqueou desde esta quinta-feira, 9, o acesso à página inicial do Google e outras associadas ao buscador e também do serviço de correio eletrônico Hotmail da Microsoft, segundo pôde comprovar a Agência Fed. Redes sociais, versões estrangeiras do buscador e blogs também não podem ser acessados por usuários do país." Tudo é resultado da repressão, ditadura e tentativa de prolongar um regime que desrespeita todo e qualquer direito humano. Um regime que condena mulheres a serem apedrejadas e um regime que condena um cineasta pelo fato de fazer filmes. Liberdade de imprensa e de criação"? Jamais para Ahmadinejad!
Jafar Panahi tem grande representatividade no movimento Iranian New Wave. O cineasta teve seu valor reconhecido no mundo inteiro. Críticos e teóricos de cinema são unânimes em avalizar o seu trabalho. Ganhou diversos prêmios, entre os quais o Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza e o Urso de Prata, no Festival de Berlin de 2010. Em 20 de dezembro de 2010, foi condenado a seis anos de prisão domiciliar e banido da condição de cineasta pelo período de 20 anos. Foi proibido de escrever roteiros e dar qualquer tipo de entrevista, bem como deixar o país.
Você deve lembrar de Juliette Binoche dedicando seu Prêmio a Jafar Panahi, na cerimônia do Oscar em 2010 e pedindo ao mundo que se posicione em relação aos absurdos que acontecem no Irã. Você precisa assistir ao filme "Balão Branco" para entender um pouquinho da sensibilidade deste grande diretor. Panahi mostra a vida de duas crianças, no Irã. Sempre lembro do cenário da cidade. A pequena aldeia é completamente diferente das ocidentais. No centro da rua existe uma calha por onde corre a água. Água encanada e saneamento não se sabe se existem. As casas não possuem fachadas. Circular pela vila de "O Balão Branco" é andar por caminhos estreitos e curvos, até chegar a um muro alto, com portão de madeira todo fechado. Ao fundo fica a casa da família. Não existe uma configuração espacial com formas diferentes para cada habitação. A forma se repete como um motivo, dando continuidade e unidade ao conjunto. É interessante essa visão de um mundo diferente do nosso. Agora que pensávamos estar privados de usufruir da obra e do talento de Jafar Panahi, eis que chega até nós "Isto não é um Filme".
Você pode pensar: Bem, "Isto não é um Filme" porque trata-se da vida real, ou seja isto não é um sonho de Méliès, porque deve ser mesmo um pesadelo. Ou "Isto não é um Filme" porque Jafar Panahi não pode fazer um filme . Ele está preso e não tem a menor condição de fazê-lo. Pois bem, acredite, é as duas coisas.
"Isto não é um Fime" mostra a vida reclusa do diretor, em sua própria casa. Ele conta um filme que não pôde apresentar ao público. Improvisa em sua sala e fala sobre esse outro filme. A história trata de uma jovem que foi aceita na Universidade de Teerã, mas cujos pais a proibiram de frequentar. Óbvio, contar um filme não é a mesma coisa que fazer um filme. O melhor mesmo é fazer ou assistir ao filme. Acreditem, como Panahi não tinha o quarto fechado para contar a história, simula uma planta-baixa no tapete da sala, com uma fita adesiva. Panahi tem senso de humor para brincar, diz que faz como as cabeleireiras que quando não têm clientes, cortam o cabelo umas das outras.
Voltando ao "Isto não é um Filme", não concordo com Sr. Panahi em um único detalhe. Ele não aceitou cuidar de Quicky, o cãozinho da vizinha. Havia incompatibilidade entre o cachorro e seu iguana de estimação. Apesar de ser um direito do diretor, nesse momento, Panahi pode ter perdido uma oportunidade de se exercitar para vencer mais um desafio.
A solidão de Jafar fica expressa em sua relação com as poucas pessoas que o cercam. O funcionário do condomínio, que recolhia o lixo, - na realidade não era um funcionário, fazia um favor à irmã - torna-se um tema central do filme. Em um cinema-verdade, de câmera na mão e sem idéias pré-concebidas na cabeça, Panahi improvisa. Observe o detalhe, a câmera na mão é a de um celular! O jovem é filmado recolhendo o lixo em cada pavimento do prédio. Nem o próprio acredita que faz parte de um filme. Quando se sente filmado quer se arrumar, trocar a camisa. Ficamos sabendo ou não, o motivo pelo qual alguns moradores colocam o lixo no corredor e outros não. O cenário é opressivo, simbolizando o reduzido universo do diretor.
Pessoas no mundo inteiro vivem na mais absoluta solidão. Óbvio a situação de Panahi é diferente. Essas pessoas vivem como seres transparentes e apagados. Não são notados por ninguém, nunca recebem um telefonema, não têm parentes, não conversam com ninguém. Agora Panahi se alinha a eles. Os funcionários do condomínio são seus interlocutores, aliás são eles os interlocutores dos solitários e dos idosos. Foi preciso que um cineasta tão importante e famoso como Panahi desvelasse este pequeno mundo. Um mundinho microscópico, o da palavra de agrado do porteiro, do varredor ou do lixeiro. Jafar Panahi é um lutador que não desiste. É paradoxal que neste momento difícil, em que precisa suportar dias iguais, possa contar com pessoas simples, porém valiosas para o ligarem à vida.
Jafar Panahi tem grande representatividade no movimento Iranian New Wave. O cineasta teve seu valor reconhecido no mundo inteiro. Críticos e teóricos de cinema são unânimes em avalizar o seu trabalho. Ganhou diversos prêmios, entre os quais o Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza e o Urso de Prata, no Festival de Berlin de 2010. Em 20 de dezembro de 2010, foi condenado a seis anos de prisão domiciliar e banido da condição de cineasta pelo período de 20 anos. Foi proibido de escrever roteiros e dar qualquer tipo de entrevista, bem como deixar o país.
Você deve lembrar de Juliette Binoche dedicando seu Prêmio a Jafar Panahi, na cerimônia do Oscar em 2010 e pedindo ao mundo que se posicione em relação aos absurdos que acontecem no Irã. Você precisa assistir ao filme "Balão Branco" para entender um pouquinho da sensibilidade deste grande diretor. Panahi mostra a vida de duas crianças, no Irã. Sempre lembro do cenário da cidade. A pequena aldeia é completamente diferente das ocidentais. No centro da rua existe uma calha por onde corre a água. Água encanada e saneamento não se sabe se existem. As casas não possuem fachadas. Circular pela vila de "O Balão Branco" é andar por caminhos estreitos e curvos, até chegar a um muro alto, com portão de madeira todo fechado. Ao fundo fica a casa da família. Não existe uma configuração espacial com formas diferentes para cada habitação. A forma se repete como um motivo, dando continuidade e unidade ao conjunto. É interessante essa visão de um mundo diferente do nosso. Agora que pensávamos estar privados de usufruir da obra e do talento de Jafar Panahi, eis que chega até nós "Isto não é um Filme".
Você pode pensar: Bem, "Isto não é um Filme" porque trata-se da vida real, ou seja isto não é um sonho de Méliès, porque deve ser mesmo um pesadelo. Ou "Isto não é um Filme" porque Jafar Panahi não pode fazer um filme . Ele está preso e não tem a menor condição de fazê-lo. Pois bem, acredite, é as duas coisas.
"Isto não é um Fime" mostra a vida reclusa do diretor, em sua própria casa. Ele conta um filme que não pôde apresentar ao público. Improvisa em sua sala e fala sobre esse outro filme. A história trata de uma jovem que foi aceita na Universidade de Teerã, mas cujos pais a proibiram de frequentar. Óbvio, contar um filme não é a mesma coisa que fazer um filme. O melhor mesmo é fazer ou assistir ao filme. Acreditem, como Panahi não tinha o quarto fechado para contar a história, simula uma planta-baixa no tapete da sala, com uma fita adesiva. Panahi tem senso de humor para brincar, diz que faz como as cabeleireiras que quando não têm clientes, cortam o cabelo umas das outras.
Voltando ao "Isto não é um Filme", não concordo com Sr. Panahi em um único detalhe. Ele não aceitou cuidar de Quicky, o cãozinho da vizinha. Havia incompatibilidade entre o cachorro e seu iguana de estimação. Apesar de ser um direito do diretor, nesse momento, Panahi pode ter perdido uma oportunidade de se exercitar para vencer mais um desafio.
A solidão de Jafar fica expressa em sua relação com as poucas pessoas que o cercam. O funcionário do condomínio, que recolhia o lixo, - na realidade não era um funcionário, fazia um favor à irmã - torna-se um tema central do filme. Em um cinema-verdade, de câmera na mão e sem idéias pré-concebidas na cabeça, Panahi improvisa. Observe o detalhe, a câmera na mão é a de um celular! O jovem é filmado recolhendo o lixo em cada pavimento do prédio. Nem o próprio acredita que faz parte de um filme. Quando se sente filmado quer se arrumar, trocar a camisa. Ficamos sabendo ou não, o motivo pelo qual alguns moradores colocam o lixo no corredor e outros não. O cenário é opressivo, simbolizando o reduzido universo do diretor.
Pessoas no mundo inteiro vivem na mais absoluta solidão. Óbvio a situação de Panahi é diferente. Essas pessoas vivem como seres transparentes e apagados. Não são notados por ninguém, nunca recebem um telefonema, não têm parentes, não conversam com ninguém. Agora Panahi se alinha a eles. Os funcionários do condomínio são seus interlocutores, aliás são eles os interlocutores dos solitários e dos idosos. Foi preciso que um cineasta tão importante e famoso como Panahi desvelasse este pequeno mundo. Um mundinho microscópico, o da palavra de agrado do porteiro, do varredor ou do lixeiro. Jafar Panahi é um lutador que não desiste. É paradoxal que neste momento difícil, em que precisa suportar dias iguais, possa contar com pessoas simples, porém valiosas para o ligarem à vida.
Em outubro de 2011 a sentença de Jafar Panahi foi confirmada. O mundo precisa fazer alguma coisa a respeito.
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