terça-feira, 1 de janeiro de 2013

A filha do pai


Marcel Pagnol é um escritor, dramaturgo e cineasta francês que nasceu em 1895 e faleceu em 1974. Os filmes Le Chateau de ma Mère e La Gloire de mon Père são alguns de seus romances mais conhecidos levados ao cinema, onde o autor conta suas próprias experiências de vida. A visão de mundo de Marcel Pagnol é de uma doçura e beleza sem precedentes. La Fille du Puisatier é mais um filme baseado em sua obra. Aliás é a refilmagem do mesmo, realizada pelo próprio Marcel Pagnol, em 1940, com Fernandel, Jossette Day e Raymund Pascal. A versão de 2012 é belíssima, dirigida e interpretada por Daniel Auteuil, um dos grandes atores franceses da atualidade. Essa visão de um mundo belo acima de tudo, vem desde Agnès Varda com Le Bonheur até Les plages d'Agnès, passa por Le Chateau de Ma Mère e La Gloire de Mon Père como uma sequência de histórias contadas de maneira perfeita e sonhadora. A reconstituição de época, da casa do poceiro, na região da Provence mostra a verdadeira beleza das paisagens do sul da França. Antes de tudo é preciso ver o filme como uma história que acontece há 67 anos atrás, mais ou menos e quando a mentalidade das pessoas era outra. Na época, ninguém sequer sonhava em aceitar um romance homo ou uma família homossexual, como acontece hoje. Você já pensou como ficaria sua avó, que teria hoje uns 130 anos ou sua mãe que teria uns 100 se as duas estivessem vivas e decidissem mudar as cabeças para tentar aceitar sem preconceitos o mundo dos novos tempos? Com as novas formas de família que passam longe da família nuclear com pai, mãe e filhos? Seria uma dura luta podem crer! Na história do poceiro Pascal Amoretti, o fato da filha ficar grávida, sem marido e sem esperanças foi o que bastou para ele considerá-la perdida e ter que expulsá-la de casa. Pascal Amoretti (Daniel Auteuil) vive com as cinco filhas, das quais Patricia (Astrid Bergès Frisbey) viveu e foi educada em Paris, mas voltou ao lar paterno e cuida das menores. Naquela época os pais ainda tentavam acertar o casamento das filhas. Pascal aceita as propostas de matrimônio de Félipe Rampert ( Kad Merad) seu companheiro de trabalho. Falta o amém de Patricia, que não vem. Ela está completamente perturbada com o encontro que teve com aquele jovem lindo que levantou-a nos braços para atravessar o riacho. Deixou-a tonta. Daniel Auteuil consegue recriar a intensidade dos sonhos e desejos da adolescência e tirar o máximo de sua atriz Astrid. Patricia é linda e parece mesmo irremediavelmente apaixonada. As mães não cansam de prevenir as filhas, imagine as mães dos anos 40! Mas Patricia foi criada pelo pai, e Pascal não consegue se abrir com a filha. Alguma mãe conseguiu falar sobre sexo com sua filha que eu saiba? Quando as mães se esforçam para enfrentar o problema, correm o risco de ser ignoradas... As filhas não querem ou não conseguem falar... E Pascal não tinha a menor condição de tratar do tema. Assim, Patricia aceita "ir sozinha" no "escritório"! de Jacques Mazel, o aviador que a deixava muda e cheia de desejos. Patricia não tinha como resistir...Daniel Auteil não deixa no ar, Jacques era mesmo um machinho aproveitador e bon vivant, incentivado por pai e mãe e pela sociedade machista da época. Ponto a favor do moço, quando foi repentinamente para a Guerra deixou uma carta para Patricia. Assim estava escrito, Patricia engravida, Pascal considera sua filha uma perdida, e os Mazel riem na cara dos Amoretti. Suprema amargura, as mulheres dos anos 40 não tinham conquistado liberdade - que nem os romanos - as famílias se preocupavam com os disque-disque e com a vida dos outros. E aquele papo da minha irmã gêmea que não cansa de falar contra o preconceito que temos contra nós mesmos, repetindo: "Olha aí ó, não cometemos, não cometeste nenhum crime, não roubaste, não mataste, não tens do que te envergonhar! Segue em frente! Esse papo da gêmea, não funcionava em 1945, dá para entender? Mas eis que a vinda de uma criança é capaz de mudar as  mentalidades. Acredito nisso piamente. O velho Pascal apaixona-se pelo neto. Os Mazel que acreditavam na morte do filho, pedem por favor para ver a única coisa que lhes resta, o bebê que ainda se chama Jacques! Tem gente que acha a história piegas. Não é, acredito que só viver já é o suficiente para evoluirmos e mudarmos nossa forma de pensar. Assim, as duas famílias os Amoretti e os Mazel viveram sofreram muito e tiveram a coragem de seguir em frente em busca da felicidade. Se o jovem Jacques Mazel ainda é uma dúvida não importa, o futuro a Deus pertence. Embora pareça não é um clichê. Não esqueçam de conferir o personagem de Félipe Rambert, alguém de bem com a vida.

 

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