Quentin Tarantino se transformou em um dos mais
geniais e surpreendentes diretores da atualidade. Django Livre é absolutamente
soberbo. Que nem Hitckcock, Tarantino se dá ao luxo de fazer uma ponta em seu
filme. Faz a história dos vencidos na contra mão da história. A gente sabe que
tudo é imaginação, mas é essa criatividade que deixa o espectador boquiaberto e
de coração na mão. Desde Bastardos Inglórios as vítimas deixam de ser
vítimas e assumem a responsabilidade sobre seus próprios destinos. Django (Jamie
Fox) assume as rédeas da própria vida em parceria com o alemão King Schultz,
interpretado por Christoph Waltz. Transforma-se em escravo liberto, quando
Schultz o arranca da fila da indignidade, em que caminha acorrentado. A
degradação do escravo é filmada através de seus pés acorrentados e cambaleantes
que ao espectador parecem patas de cavalo. A maneira de filmar é surpreendente.
Tarantino alterna cenas de extrema violência, com outras que são pura poesia,
como quando, depois da sangueira, o grupo se desloca por paisagens campestres
belíssimas, douradas pela luz. Ou quando após as cenas de violência, o sangue
do bandoleiro atingido jorra como chafariz e se deposita em milhões de pontos
vermelhos sobre a plantação de flores brancas. É essa alternância de violência
e poesia que mexe com nossas emoções.
Christoph Waltz faz o alemão caçador de
recompensas. Ele tem direito a matar assassinos, e encontra em Django o
companheiro ideal para identificar malfeitores cuja cabeça está a prêmio. O
estilo Tarantino se mostra na forma como Schultz vê o mundo e a vida. É
diferente dos escravagistas sulistas. Confere dignidade a Django e aconselha os
americanos preconceituosos a tratarem-no com respeito. Christoph Waltz nos
permite uma compreensão mais linear de seu personagem. Se em Bastardos
Inglórios ele confundia o espectador com seu cinismo e frieza, aqui o
alemão deixa mais clara a sua posição e os limites de sua tolerância. É contra
a escravidão e não aprova as atrocidades engendradas na fazenda de Candie, o
fazendeiro torturador interpretado por Leonardo Di Caprio. Porém, na verdade é
um assassino frio e fleugmático, que encontra em Django o seu grande pupilo.
Aliás Schultz termina se entregando à causa de Django, que é recuperar sua
esposa Brunhilde (Kerry Washington) , escravizada e brutalmente castigada, na
fazenda de Candie. Schultz tem seus momentos de brilho quando toma decisões
heróicas. Dá tiros rápidos e certeiros. Tão rápidos e surpreendentes que a
vítima não acredita que foi alvejada! O filme se passa como num movimento de
desafio entre os personagens. Para ver afinal, quem é o mais esperto e
vencedor? Samuel Jackson como o cão de guarda de Candie ou o Dragão da lenda
alemã, mantém Brinhilde encarcerada, parece um iguana. Por isso o espectador
sabe que não existe trégua nos filmes de Tarantino, sempre vem mecha!
Django com D mudo é um personagem genial. O sonho
de libertar Brunhilde move sua vida. As múltiplas visões da musa, rindo,
belíssima num vestido amarelo, moda Império, o perseguem como se estivesse sob
efeito de alguma droga. O clima de sangue e violência diverte o espectador. Em
dois momentos nos deixa gelados e com muito frio de tanta emoção. Impossível
suportar a brutalidade da luta de morte entre os dois escravos ou quando o
escravo é devorado pelos cães. Pior mesmo é ver o sádico Candie em cima dos
dois lutadores, vibrando quando um arranca os olhos do outro! Dá-lhe Tarantino!
Que loucura!
O alemão Schultz dá aulas a Django de como matar
com frieza. Quando o ex-escravo exagera na mesa de jantar de Candie, Schultz o
alerta. Django responde, que para viver no mundo de Schultz e dos americanos
escravagistas é preciso sujar as mãos de sangue e ele está fazento justamente
isso!
A reviravolta final é uma pancadaria digna dos
faroestes italianos, de Corbucci a Sérgio Leone. Paralelamente pode-se ouvir
Enio Morricone e até Bethoven! Django poderia chamar-se Django-Phoenix-Apolo
Grego. As cenas de violência e tiroteio lavam a alma da platéia. Os
espectadores riem felizes, quando o mitológico herói dispara suas armas e tiros
certeiros em verdadeiro banho de sangue, como se tudo fosse parte de uma
apresentação teatral de dança e malabarismo, que culmina com o herói e seu
cavalo, levantando as patas com elegância incomparável dando o verdadeiro adeus
do cowboy Django-Deus Negro!
EStou ansioso para ver este filme. Sou fascinado por filmes de faroeste, e este deve ser muito bom.
ResponderExcluirEder, adorei o filme do Tarantino. Acho que vai ser um dos melhores de 2013. Não perca! Um grande abraço, Doris Maria
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