segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Tudo o que Desejamos

Philippe Lioret depois de dirigir Bem-Vindo volta com outro filme com personagens conscientes e preocupados em salvar o mundo. No primeiro eram os franceses que desejavam ajudar imigrantes ilegais, mesmo que pudessem sofrer penalidades. Agora, Tudo o que desejamos são dois juízes, Stéphane e Claire (Marie Gillain), que desejam ajudar consumidores, defendendo-os contra a ganância de financeiras.
Claire vive em paz com marido e dois filhos, até que recebe a notícia que está com uma doença terminal. Julga o caso de uma imigrante endividada, que precisa fazer novos empréstimos para saldar dívidas cujos juros abusivos aumentam como bola de neve.
Na verdade, financeiras existem para financiar desejos de consumidores - que por vezes podem ser desnecessários - mas movimentam imensos mercados. Se financeiras permitem a realização de desejos, transformam num inferno a vida de inadimplentes. Juízes existem para colocar ordem nesse estado de coisas.
Claire descobre que está eticamente impedida de defender interesses particulares de envolvidos nos casos sob seu julgamento. Entrega o problema para um especialista, Stéphane, interpretado por Vincent Lindon. Neste filme, mais que nunca o ator corresponde ao que minha irmã gêmea fala: Ele é Tudo o que desejamos, é o homem que toda mulher gostaria de ter dentro de casa. He! he! he! Stéphane descobre o furo, os dois podem envolver-se em casos que prejudiquem o mercado financeiro europeu como um todo, e a questão se transforma em caso de concorrência desleal.
O erro da juíza é misturar tudo, levar o mendigo para dentro de casa, que nem no filme Viridiana,  de Bunuel, quando os mendigos recriam a Santa Ceia. Óbvio, o sentido é outro. Bunuel desejava afrontar a ditadura franquista e a Igreja, Claire deseja colocar ordem em sua vida pessoal, prepara a imigrante para ser sua substituta como mãe e esposa.
Por outro lado sua parceira com Vincent Lindon transforma-se numa cumplicidade maior que a de simples colegas de trabalho. O envolvimento e a atração entre os dois é inevitável. Sem conseguirem evitar, deixam de lado marido e filhos de um e esposa do outro... Juntos vivem escassos momentos de felicidade. Se na vida importa a intensidade de nossas vivências, esses  raros momentos valeram a pena.
O grande problema da personagem é não possuir o menor instinto de sobrevivência ou de preservação. Acreditou mais na morte do que no milagre da vida. Seus dias terminaram como previra, dentro da ordem que criara para si mesma e para os outros.
 

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