domingo, 6 de janeiro de 2013

E agora onde vamos? (Et maintenant on va où?)

Nadine Labaki é uma diretora libanesa de 39 anos. Além de atriz belíssima, é brilhante. Seu primeiro filme foi um sucesso. Você lembra de Caramelo? Escrevi sobre ele no dia 9 de julho de 2009. Nadine retrata o universo feminino com  riqueza e humor sem precedentes. Ela é "a feminista" na verdadeira acepção da palavra. Se Caramelo tratava  do universo feminino em um salão de beleza,  Et  maintenat on va où? trata das diferenças entre católicos e muçulmanos em uma pequena aldeia do Líbano.
Nadine Labaki dirige e é autora do roteiro do filme. Como uma mulher tão jovem e bonita pode assim, sem mais nem menos fugir à regra e ser tão genial? Sua paixão pelo cinema vem de família, a mãe é atriz e o pai é diretor cinematográfico. Durante as rodagens estava grávida. Explica que sua defesa do pacifismo é uma postura própria, como mãe e ser humano. Afirma que não estaria disposta a ver seu filho pegar em armas para matar outras pessoas. Suas personagens  pensam da mesma forma. As mulheres  fazem de tudo para que a aldeia onde vivem não se envolva em questões políticas e conflitos armados.
Et maintenant on va où? inicia mostrando a vida na pequena aldeia, onde o dia a dia transcorre sem maiores problemas. Os atores não são profissionais - isso enriquece o filme - convencem e fazem rir. No meio da comédia, explode o drama, da mesma forma que explodem as minas perdidas sob o solo.
Talvez a diretora não tivesse a intenção, mas em alguns momentos seu filme se aproxima de Fellini. Como Fellini não existe um personagem ou dois centralizando os interesses, a história trata de um grupo de pessoas. As cenas onde aparecem todos  reunidos, ou em peregrinação lembram Fellini, que retratava um mundo insano, sem particularizar  o universo de cada um.  E de repente, aquele neorrealismo italiano  mostrava que, em certos momentos os personagens doudos tinham parte com Deus. Você lembra de Ensaio de Orquestra? Onde os músicos eram mesquinhos e egoístas? De repente, se tornavam divinos e perfeitos quando começavam a tocar seus instrumentos musicais?
Nadine mostra a mãe que manda os filhos vender seus produtos na aldeia, a sua rigidez com os meninos, mostra o bate boca das mulheres fazendo encomendas para a comerciante. Tudo muito natural e cômico. Nada mais adorável que a paquera entre Amale e o pintor, que não termina nunca o seu serviço de pintura, óbvio prefere, se for o caso, desmanchar seu trabalho e começar tudo de novo, desde que esteja perto de Amale ( a própria Nadine Labaki).
Assim em meio ao retrato da vida cotidiana, pobre e mesquinha, explode o drama. Nadine mostra o sofrimento da mãe, o verdadeiro drama quando descobre que seu filho, imóvel na garupa da moto, está morto. Não é uma Pietà de Michelangelo, mas a idéia, a dor da mãe diante do filho morto é a mesma.
A força da mulheres se revela diante da estupidez do universo masculino. Mesmo em países onde elas ainda não conquistaram a liberdade, Nadine mostra que são fortes e capazes de transformar vidas. Impedir que a estupidez e a barbárie tome conta da aldeia. Nem que para isso seja necessário trazer dançarinas ucranianas louras e sensuais, para engabelar os brutamontes. Até o pintor,  romântico e eterno lixador de paredes recebe um pito da divina Amale. Não perca este filme e divirta-se com a esposa do prefeito que tinha uma linha direta com a Virgem Maria! 
 

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