sábado, 6 de fevereiro de 2010

Invictus

Clint Eastwood é o diretor, "he is the best" sem sombra de dúvida. Depois de Gran Torino, Clint nos apresenta este belo filme sobre a vida de Nelson Mandela, baseado no livro de John Carlin, "Playing the Enemy". Desta vez Clint trabalha com o filho Kyle Eastwood, músico e compositor. Kyle e Michael Stevens assinam a música.

O filme é sincero e emocionante. Se você não gosta de rugby, não importa. Se você não entende rugby e acha que esse esporte não tem nada a ver conosco, que nosso negócio é futebol, pode até ter razão, mas isso também não vem ao caso. Como sempre os temas de Eastwood são honra, dignidade, honestidade, coragem, amor, persistência, capacidade de perdoar, jamais desistir de tentar acertar. Clint consegue elevar o rugby à condição de arte.

Os atores Morgan Freeman e Matt Demon estão em seus melhores momentos. Freeman foi indicado ao Oscar de Melhor Ator, em 2010. Encarna Mandela com perfeição. Se tentarmos lembrar alternadamente o verdadeiro Mandela e Freeman - como Mandela- , veremos que as imagens se fundem, são muito semelhantes. Penso em Mandela e posso vê-lo com o rosto, as roupas e os gestos de Freeman.

Mandela com seu pensamento lúcido e otimista domina a cena. A frase do presidente ecoa em nossas mentes e pode servirnos de lição pelo resto de nossas vidas. Na verdade é o poema de William Ernest Henley, que dá nome ao filme: "Agradeço aos deuses. Pela minha alma invencível. Sou o capitão da minha alma. Sou o senhor do meu destino". Se fizermos desses versos o nosso mantra diário, quem sabe que futuro promissor poderemos alcançar!

Depois de passar trinta anos em uma cela minúscula, na Prisão de Robben Island, sob o número 4664, Mandela torna-se presidente da África do Sul, em 1994. Pretende governar e enfrentar os problemas do país sem uso da violência. Sua meta é fazer a transição do apharteid para um regime democrático, onde negros são tratados com o mesmo respeito devido a brancos, buscando uma reconciliação interna e externa.

Mandela demonstra seu pensamento nas menores atitudes. Desde os encarregados de sua segurança. Aceita homens brancos como membros de sua guarda pessoal, contrariando o pensamento dos fiéis guarda-costas. Para estes, os homens brancos poderiam atentar contra o presidente. Aos que não confiam em suas atitudes magnânimas, responde: - "Você só quer saber de seus sentimentos, não serve à nação".

Mandiba, como é carinhosamente chamado por seus acessores, deseja unir a África do Sul em torno de um ideal comum. O mais novo instrumento dessa mudança é o rugby, liderado pelo capitão Jacobus François Pienaar (Matt Demon). Aos que o interpelam, afirmando que mudou de time, responde com sabedoria: - " Se eu não posso mudar quando as circunstâncias o exigem, como posso esperar que os outros mudem?" O rugby deverá se transformar no novo símbolo de uma nação que busca dignidade e igualdade para cada um de seus compatriotas, sem revanchismo. Mandela não quer vingança, aceita os mesmos funcionários do governo anterior. Considera o rugby um cálculo político e humano. Interfere quando seus partidários votam a mudança do nome do time e de suas cores dourado e verde. Sabe que lideranças a serem apaziguadas estão no Springboks.

Preocupa-se em transformar as mentes. Em conversa com François, afirma - em relação a seu povo e aos jogadores -, que gostaria de saber : - "Como torná-los melhores do que pensam que são". Alguém já pensou coisa melhor para você, algum dia? Em minha opinião esse tipo de incentivo é tudo o que precisamos e pode nos jogar para a frente como um estopim. Na vida em geral, o que vemos é o despeito, o cíumes, a inveja e a vingança.

Matt Demon é um grande ator, está convincente como o capitão François Pienaar. Treinou muito para aumentar a massa muscular e aprendeu a correr. Observem como ele corre leve, parece um carro novo, deslizando com muitos amortecedores. Liderado por Mandela, François convence seu time de jogadores, parrudos e truculentos. Consegue que os brutamontes - meio antas preconceituosas de 300 kg- se apresentem para um time de crianças pobres. Mandela consegue mudar as mentalidades. Os resultados aparecem. Observe quando o grupo de seguranças - formado por negros e brancos que se odiavam - esquece as diferenças e joga junto no intervalo.

Ao cumprimentar os jogadores, Mandela pronuncia o nome de cada um. Para ele, ninguém é invisível. Trata a todos com o mesmo carinho e atenção. Quando o time finalmente ganha a Copa do Mundo de 1995, o presidente sabe que o significado daquilo tudo ultrapassa em muito a simples vitória de um time, é muito maior. Foi conquistada a grandeza de um povo e de uma nação.

Os filmes de Clint Eastwood rasgam nossa alma em pedacinhos que ficam flutuando e demoram a se juntarem novamente. Espero com essa imagem tentar explicar um pouquinho da emoção que senti ao ver o filme. Me diga se você sentiu o mesmo, e não esqueça o poema inspirador, o Invictus:

Do fundo desta noite que persiste

A me envolver em breu- eterno e espesso,

A qualquer deus- se algum acaso existe,

Por mi'alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,

Sob os golpes que o acaso atira e acerta,

Nunca me lamentei - e ainda trago

Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,

Somente o horror das trevas e divisa;

Porém o tempo, a consumir-se em fúria,

Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda - eu não declino,

Nem por pesada a mão que o mundo espalma;

Eu sou o dono e senhor de meu destino;

Eu sou o comandante de minha alma.



Um comentário:

  1. Parabéns, Doris, por sua escrita lúcida e terna, por reconstituir com palavras, as belas imagens do filme Invictus.
    Encontrei você procurando a poesia e foi um encontro feliz.
    Sorte e sucesso na vida!
    Auxiliadora Martins

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