domingo, 28 de dezembro de 2014

Familia Belier


Em 2013, Louane Emera foi a revelação do programa La plus belle voix, em Paris. Aconselhado pelos amigos  Éric Lartigau  assiste ao programa e convida a jovem a interpretar Paula em seu novo filme A Família Bélier.
A história é emocionante, os atores foram cuidadosamente escolhidos e têm tudo a ver com os personagens que interpretam. Louane é cantora, nunca tinha pensado em fazer cinema. Luca Gelberg, o irmão, é surdo na vida real. Karin Viard e François Damiens  fazem os pais. Karin, François e Louane aprenderam a linguagem dos sinais após meses de dedicação e estudo.
As filmagens aconteceram em Domfront, em l'Orne, um lugar paradisíaco. Moravam em uma casa enorme, com portas vermelhas, construída em alvenaria de pedra. Tudo passava muito longe do "menos é mais" de Mies Van Der Rohe, interior  colorido, muitos objetos de decoração, cadeiras azul "calipso" e muita comida na mesa. Um exagero para quatro pessoas! A família cria gado holandês e produz queijo. Éric mostra uma visão doce, romântica e bucólica do interior da França.
Mesmo sem experiência como atriz, Louane emociona como a filha que precisa decidir entre partir em busca de seus sonhos ou permanecer ajudando a família.
O diretor evidencia as relações familiares e as dificuldades dos surdos para enfrentar as exigências do dia a dia. Uma das coisas mais sensatas do filme é a fala da amiga de Paula, quando  afirma que a surdez  não deve ser encarada como uma  deficiência ("un handicapé"), mas como uma condição. Concordo, sempre achei que as palavras deficiente ou "handicapé" partem do preconceito. Muita gente  tentou inutilmente convencer-me do contrário. Como se eu não tivesse razão!
Assim, tratando de tema tão delicado Lartigau emociona, e muito. Enfim família é das coisas mais importantes da vida. Éric mostra o sofrimento dos pais quando percebem que seus filhos cresceram, que não tem jeito não, que aquelas fotos do bebê nas paredes da sala são de um tempo passado. É preciso acordar para o presente e para o futuro.
Para um pai e uma mãe, superar esses momentos de nostalgia é muito difícil. Mais ainda se sempre tiveram a ajuda da filha para comunicar-se com o mundo. Enfim, com certeza aqueles dois tinham esquecido como era viver antes de Paula ter nascido.
E certamente é a primeira vez que um diretor mostra para o espectador o que é "ser surdo". Na cena em que Paula canta no concurso em Paris, de repente faz-se o silêncio! Como os pais, nós espectadores não ouvimos nada, nos tornamos surdos, nos emocionamos e choramos como qualquer pai faria. O envolvimento da cena é um dos moments mais belos do cinema. Não perca! Chore junto, por você ou por seus filhos!



Emocionante é pouco para descrever esta história de uma família de quatro pessoas, sendo pai, mãe e irmão surdos. Paula, a única filha é a única também que não é surda,  transforma-se em  interlocutora e apoio os três.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Êxodo: Deuses e Reis



O filme bíblico evoca as super-produções de Cecil B. DeMille, na Hollywood, dos anos 50, como os "10 Mandamentos". Óbvio essas lembranças são privilégio de quem está acima dos sessenta e assistiu ao filme! Charlton Heston era bem mais dramático e bíblico do que Christian Bale, embora eu prefira o segundo. Todas as super produções passavam no Cine Teatro Glória, em Dom Pedrito, filas enormes se formavam na calçada. No mundo do cinema do século XXI, Êxodo é o equivalente. A comparação chega a ser impiedosa, se pensarmos na evolução tecnológica do século XXI. 
Adorei, mesmo porque não sou especialista em assuntos bíblicos. Se Charlton Heston exagerava no "overacting", Christian Bale parece mais humant, vai ficando fraquinho no final. Gostei também da forma como Ridley Scott desenvolve o tema. Ninguém precisa possuir determinada crença para gostar do filme. E o espectador começa a ficar feliz quando reconhece John Turturro como o faraó Seti. A maquiagem é muito perfeita, ele ficou parecido com Sesóstris III (1862 a.C.-1844 a.C.) , o faraó que construiu muitas fortalezas no Egito. 
Você pode até não concordar, a melhor parte do filme é quando as fofocas, sobre a verdadeira identidade de Moisés, chegam aos ouvidos de Ramsés I, o irmão, que sempre sentiu-se mal amado. O faraó pai não esconde sua preferência por Moisés. A família real, mãe e irmã são questionadas, Bithiah, a irmã do faraó emociona. Não é para menos - ela recolhe o menino das águas e o cria como filho - e  é interpretada por   Hiam Abbass, a melhor atriz da atualidade. Você lembra de Lemon Tree, O Visitante ou a Noiva Síria? 
Em sequência, assistindo ao sofrimento de seu povo, Moisés, muito lentamente toma a decisão de rebelar-se. Não sem antes ter inúmeras revelações do Senhor, que aparece sob a forma de um menino de 11 anos. Acho que esta foi a parte que muita gente não gostou, o menino discute com o profeta e teima em aplicar um tipo de castigo, tão cruel, que este não pactua. Em uma única noite, morrem todos os primogênitos não hebreus, inclusive o filho do faraó. Aliás a única coisa que tocava os sentimentos de Ramsés. Toda vez dizia para o filho que ele dormia como um anjo - dormir como um anjo é uma expressão que eu adoro! - porque era muito amado! 
E Ridley Scott não esquece das pragas do Egito, começa com as rãs, sangue, moscas, peste sobre o rebanho, tumores nos homens e animais, e finalmente fogo e gelo. Aliás esta foi a  parte da história bíblica que me pareceu atual. Diariamente assistimos na TV a desastres semelhantes, como se a versão bíblica fosse uma espécie de alegoria do desrespeito dos homens em relação à natureza. Quem sabe, aconteceu no Egito, na civilização maia e nos dias de hoje? Aquela água toda destruindo as cidades egípicias não lembra o tsunami que matou 220.000 pessoas no Oceano Índico e que completou dez anos neste último Natal?
E o momento dramático  que rivaliza com a encenação da família  é a separação das águas do Rio Vermelho. Se em Cecil B. DeMille esta era a cena memorável, acredite nas razões pelas quais é tão bom estar vivo e poder assistir às maravilhas das novas tecnologias no cinema! Assista a Êxodo e entenda porque o mar é tão assustador e misterioso, e que por isso mesmo prefiro contemplá-lo e não entrar nele jamais!



terça-feira, 14 de outubro de 2014

Trash, a esperança vem do lixo

Trash, a esperança vem do lixo conta a história de três garotos que procuram alguma coisa de valor  no lixão.  Galbo (Eduardo Luís) e Raphael ( Rickson Tevez) encontram uma carteira. Ficam sabendo que  é valiosa e que está sendo procurada por um policial. Desconfiam que deve ser  importante e se recusam a entregá-la. Procuram a ajuda do outro amigo, Rato (Gabriel Winstein). E aí começa a correria!
Você notou como todo mundo é ágil na favela? Todos cantam e correm! E a propaganda se fez, favela agora é lugar de turista curioso que deseja ver um Brasil exótico. É tema de questão do Enade! Mas que raiva me dá quando fico sabendo que muito europeu pensa que, aqui, encontrará jacaré na rua!
Trash é uma história que tem um pouco desse lado fantasioso, mas nos manda um recado que pode servir de exemplo a ser seguido. Wagner Moura, excelente, lindo, maravilhoso! Como sempre dá aquele sorriso maroto quando consegue atingir seus objetivos, cutucar no esquema de corrupção há tempo instalado no Brasil! Aliás, o diretor poderia ter escolhido outro país, e terminou optando pelo Brasil.
No elenco além de Wagner Moura, temos Selton Mello, fazendo o policial torturador. Assim, um pouco assustador, o próprio mal com cara de bonzinho, e que não hesita em mandar torturar crianças. Com certeza o filme é delas! Os três meninos brilham. A saga da infância se transforma no Código da Bíblia a ser decifrado. Correria que não pára, tem seu encanto!
A mensagem do diretor é o seguinte: Faça a coisa certa, torne pública toda e qualquer corrupção, dê nome aos ladrões e aos que cometem crimes por preconceito ou discriminação! Ou ainda quem maltrata crianças e animais. Por isso, apesar de todo excesso de otimismo sua alma ficará lavada quando o video dos meninos for publicado na internet. 
No instante, fiz a relação com o caso de discriminação contra Luiz Carlos Merten, o melhor crítico de cinema do Brasil. O diretor de Prometo Que Um Dia Vou Deixar Essa Cidade foi a criatura que o agrediu. O motivo teria sido a crítica do jornalista sobre seu filme. Mas a ofensa veio na contra-mão. Em primeiro lugar, o Luiz foi atingido,  não em razão de seu trabalho, mas por causa de sua deficiência física, puro preconceito! Os insultos vieram acompanhados de palavras grosseiras e de baixo calão! Isso é crime! Tão grave quanto o da torcedora do Grêmio!
Eu que conheço o Luiz há mais de 48 anos, sei que é um homem nobre e honesto. Equilibrado, afirmou que esse tipo de argumento nunca tinha sido usado para atingí-lo! Publicou tudo sim, no seu blog de cinema! Parabéns! Dá-lhe Luiz! Eu, a Lucinha e milhares de pessoas estamos contigo! E se és diferente não esqueçamos que Michelangelo e Leonardo da Vinci também eram diferentes!
Você pode encontrar os dois textos do Luiz no seguinte endereço:
http://blogs.estadao.com.br/luiz-carlos-merten/festival-do-rio-1/
http://blogs.estadao.com.br/luiz-carlos-merten/festival-do-rio-3/

domingo, 12 de outubro de 2014

Garota Exemplar

O título cria outra expectativa no espectador. E eu que dizia para mim mesma que ía assistir a um filme sobre uma menina bem comportada... Seria o que os críticos escrevem, uma espécie de misoginia? Não creio, talvez uma triste constatação que o sonho, que a palavra América representa, na verdade nunca existiu, foi forjado,  até mesmo pelo próprio cinema.  
E David Fincher, o diretor, está aqui e agora para desmentir tudo isso. Garota Exemplar é um filme sobre o casal contemporâneo, ou seja, de um tempo, no qual as relações têm as maiores dificuldades para darem certo. Ainda mais tratando-se da Garota Exemplar da América, Ammie Dunne, interpretada por Rosamund Pike. A moça faz de tudo com o marido, desde que lhe seja permitido viver a fantasia da existência perfeita no imaginário de seu público fiel. Até por isso o diretor dá tanto destaque à midia, que o que não sabe, inventa!
Ninguém desconfia quando o Fincher nos mostra aquele aparente paraíso, no início. Logo o sonho de contos de fadas desaparece. Para Dunne, a culpa é do marido, de suas fragilidades e incapacidades. 
E o espetáculo não pode parar! Mal a Garota Malvada desaparece, se instala uma festa no pátio da casa da família rica, para reunir amigos e apoio às buscas pela desaparecida. Tudo é estereótipo, desde o horror que são pai e mãe da moça. Nunca se viu tanta mediocridade, desde os pais  até as invenções da journalista de sucesso, tipo Oprah Winfrey. Você lembra do filme Volver, de Almodóvar, em que Bianca Portillo, a "Agustina tiene cancer"? e que na TV a moça é humilhada e explorada pela apresentadora? Aqui a denúncia sobre os abusos dos meios de comunicação é a mesma,  apenas que Almodóvar é melhor. Ben Afflek, o marido, que tinha seu lado obscuro, de fato inspirava desconfiança. Nem por isso deverria ser considerado criminoso. Mas, era acusado abertamente,  de assassino pela journalista. O mais estranho é que todos acatavam, e aceitavam o jogo sujo dos meios de comunicação. Todos respondiam aos jornalistos, o espetáculo nunca terminava. Noite e dia elles perseguiam os personagens, que também se preparavam para enfrentar os holofotes. Era o espetáculo das falsidades em todos os sentidos, a vida suspensa e substituída pela encenação!
Nossa Menina Malvada chegou a cansar o espectador. Como cometer tantos crimes e barbaridades sem ser percebida?
Será que o personagem do marido era um homme tão desprezível que mereceu o final que teve? O espectador não fica sabendo, mas  nossa Menina Malvada não deixava de ser uma espécie de "colecionadora de borboletas", que colecionou homens devoráveis, fracos e desprezíveis. E agora quando faz do marido um refém?
 




http://youtu.be/tKwEdRC26xA

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Welcome New York



Welcome New York não é uma mera semelhança com seres vivos, mortos conhecidos ou desconhecidos. É uma história verdadeira, e o personagem é Dominique Strauss- Kahn. Na dura realidade Depardieu está um verdadeiro " pig" para representar um verdadeiro "porco"! Quando fica nu, verdadeiramente pelado, é um Deus nos acuda. Pior, as mulheres não davam a mínima para o barrigão! Enfim... regiamente pagas… Acho que o próprio Depardieu, na vida real não se importa consigo mesmo. 


Representou com perfeição o homem poderoso, que na intimidade, é um porco que grunhe e faz roc, roc, roc... Os primeiros quarenta minutos são longos demais para descrever toda a farra e orgias sexuais de M. Devereaux.

A seguir vem as cenas do cai na realidade. O personagem parece não se importar muito, tem certeza que seu infortúnio é passageiro. Permanece alguns dias na prisão, precisa se humilhar, nu na frente dos guardas, mas não se abala muito. Devereaux sabe que ele e a humanidade não querem ser salvos de si mesmos!
O porco é casado com uma mulher rica (Jaqueline Bisset) que não o abandona e ainda luta por ele. Faz planos e contrata bons advogados para salvá-lo. Mas o que se passa na cabeça de uma mulher dessas, além de se preocupar com as aparências?
Nosso personagem continua atendendo a seus instintos, vivendo sob o império dos sentidos, molestando as mulheres que encontra. Em geral, procura as mais frágeis, camareiras, mucamas, empregadas domésticas, que na escuridão e na solidão do lugar onde são atacadas, não possuem meios para provar sua inocência. E a vida continua, no mundo, quantas mulheres são mortas por dia, vítimas dessa violência?
E os senhores Devereaux continuam por aí, soltos ou absolvidos. Vocês leram o jornal de hoje? Viram que o atleta, na África, que deu um " tiro por engano" na própria mulher, foi inocentado de assassinato premeditado? Teria matado a mulher sem a menor intenção! Me enganem que eu gosto!
O filme de Abel Ferrara provoca mal- estar e indignação!
Pensem bem, até do psiquiatra ele debocha e faz pouco! Numa única coisa estava certo! Não pasmem! M. Devereaux estava certo da impunidade!


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A cem passos de um sonho

O filme chama-se "A cem passos de um sonho" ou "O Dia em que os franceses aceitaram os imigrantes"? Assim estava escrito que a família de indianos quebraria o freio do carro na entrada de St. Antonin,  um belo e romântico vilarejo no interior da França. O carro desgovernado pára em uma ribanceira. A família é socorrida pela meiga Marguerite (Charlotte Le Bon). Ironia do destino, um chef de cozinha que busca aperfeiçoamento na Europa, se encontra justamente com a sub-chefe de cozinha do mais badalado restaurante francês da cidade.
De início,  o clima é de verdadeira "guerra"e muitas batalhas entre os contendores, o pai de Hassan e M. Mellory ( Helen Mirren). Helen Mirren interpreta a famosa " chef de cuisine française",  uma elegante senhora de 66 anos, aproximadamente, que faz qualquer coisa para conseguir, nem que seja duas estrelas Michelin para seu restaurante.
Se a dupla de mais velhos está em pé de guerra, os jovens parodiam Romeu e Julieta, indiferentes ao ódio que move indiano e francesa. São eles, os filhos, que aos poucos fazem desaparecer mágoas e rejeições. Tudo o que a mãe ensinou se transforma em patrimônio imaterial da família, cheiros, sabores, segredos da cozinha, enfim, o saber sentir até a alma dos temperos e seres vivos que fazem parte de nossa alimentação.
Indiferente aos sentimentos do pai, Hassan precisa da aprovação de Mellory para sua omelete e para sentir-se um verdadeiro chef. Finalmente, com a expectativa de ambos, ele conquista os degraus da fama, primeiro em St. Antonin, depois em Paris. Nessa hora parisiense, o décor era o da Maison du Monde Arabe de Jean Nouvel?
Se para franceses a realização do grande sonho é participar da caça às estrelas do Michelan, Hassan é capaz de perceber que a vida pode oferecer valores maiores, amor, companheirismo, aceitação do outro e do diferente. Enfim, comunhão de espíritos e muitos manjares!
O filme é belíssimo, desde o brilho e imagens de frutas e legumes frescos, até a beleza da juventude  e o charme de adultos na maturidade.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Magic in the Moonlight

Somente Woody Allen consegue escolher músicas tão adequadas e belas para seu cinema. Se A Oeste do fim do mundo nos envolve com som, ruído e imagem, quase um cinema mudo, onde a palavra foi cassada, o filme de Woody Allen é o exercício da palavra, ao som de uma melodia leve e saltitante. 
Desta vez a heroína não é a mulher mais sexy do mundo. Ainda bem! É  a meiga Emma Stone.
A historinha divertida é como uma disputa entre "amigos-rivais" sobre quem é mais esperto? O mágico ou a medium? O mágico Colin Firth, muito alto, usa roupas em tom bege, é um perfeito inglês charmoso. A petulância do personagem só faz rir.
Ela é a própria menina de vestidinhos ingênuos, muito mais esperta do que parece. Os papéis de cada personagem são estereótipos, muito engraçados e dá para ver que cada um representa seu papel e se diverte muito! O que dizer do jovem apaixonado, que toca um instrumento muito pequeno, tão pequeno quanto ele, embora tivesse quase quase dois metros de altura!
O clímax da diversão, prestem atenção, é a hora em que o mágico pede a garota em casamento.   O máximo da prepotência, insolência e auto-promoção!
Como ninguém é santo nessa história, quando  um pensa que enganou o outro, o outro já está de volta! Empate no final! Não percam!

O último amor de Mr. Morgan

O último amor de Mr. Morgan é um olhar impiedoso sobre a velhice. Os idosos são monitorados por todos. Todas as idades os observam com restrições. Até mais porque, para os mais jovens, eles são tudo aquilo que se recusam a aceitar - pensar no dia em que terão que enfrentar a própria velhice. O mundo de hoje endeusa a juventude.
Michael Caine transforma-se em Mr. Matthew Morgan, para o ator não deve ter sido difícil. Afinal, Mr. Morgan era charmoso, inteligente. Fica depressivo com a morte de Joan, sua esposa (Jane Alexander).  No ônibus, encontra uma adorável professora de dança, Pauline (Clémence Poésy). Na verdade, Michael e Mr. Morgan deviam ter se descuidado. Ambos estão com um barrigão. Ou você acha que Michael Caine engordou para o papel? Duvido.
Enfim, ele sacudia o barrigão, dançando com a adorável professorinha. Porém, para o filho, ver seu pai dançando com uma mulher que tinha idade para ser sua filha era insuportável!
É assim, chamem as psicólogas, elas diriam que ali estavam expostos todos os Complexos: 
O de Édipo, da filha que quer o pai e precisa amadurecer. O pai, que encontra na mulher mais jovem, algum sinal que lhe assegure que ainda está vivo. E o filho, que simbolicamente precisa matar o pai para crescer.
Acreditem, Michael Caine é muito bom. Mr. Morgan diz para Pauline que terminou de decifrá-la. Os dois voltam à antiga propriedade da família, em Saint Malo.  De longe ele a observa, olhando-se no espelho, com o vestido de sua mulher na frente do corpo. Descobre e decifra o enigma de sua vida. Como se a própria mulher voltasse no corpo da professora para restabelecer o equilíbrio e a ordem das coisas, amenizar erros e permitir a felicidade do filho. O mais belo gesto de amor é dar-lhe de presente o vestido de sua mulher...

domingo, 31 de agosto de 2014

A oeste do fim do mundo

"A oeste do fim do mundo",  o filme de Paulo Nascimento, tem muito a ver comigo. Como se eu tivesse vivido antes… Quem sabe memórias de infância, de um lugar parado no tempo, onde não acontece absolutamente nada. Passei por Uspallata para ir ao Chile, nada a ver, era diferente, o lugar mais frio que conheci. 
Quando inicia, parece o faroeste de Sérgio Leone, "Era uma vez no oeste". Os westerns irritavam e encantavam, pela música, pelo silêncio e pelos sons. Procurei ouvir o barulho do bater de asas da mais irritante das moscas, não tive certeza se ouvi. 
"A oeste do fim do mundo" é assim, prende o espectador, não pela palavra, mas pela imagem e pelos sons,  incomodam, são repetitivos, marcam a passagem do tempo do abandono. 
Com certeza o objetivo do diretor é mostrar a tensão e a solidão do lugar, através do ruído.Criança chorando - na vida e no cinema - é a mesma coisa, quem não fica tenso ouvindo todo o dia - no rádio ou na TV -  o choro do menino Bernardo, assassinado pelo pai e pela madastra? Ou o choro da criança em "Os Intocáveis"?
Você já pensou em algo mais irritante que o som de um telefone a romper um silêncio absoluto? Ou uma janela mal fechada que bate ao ritmo do vento?
A história mostra dois personagens derrotados que fogem de si mesmos, buscando refúgio no meio do nada, montanhas geladas, céu límpido e azul e uma estrada poeirenta. Não havia nenhum bicho no filme, nenhum gato ou cachorro para acompanhar o solitário Leon, veterano das Malvinas. 
Paulo Nascimento marca o tempo estendido, com Leon, comendo, colocando gasolina nos carros que param para abastecer, ou ainda atendendo o telefone sem falar...
Sabe-se que existe algum grande drama na vida do personagem, fala  pouco e nega-se a conversar com o filho no telefone. Atende, ouve a voz do menino e desliga.
A atriz brasileira  - faz o papel de uma brasileira, óbvio - é uma graça. Chama-se Ana, e também está com o pé na estrada em busca de si mesma. Intencional ou não, existe  uma citação a Jack Kerouac ou Easy Rider. A presença da moto, a ser consertada, diariamente, cada dia um pouquinho, poderia significar todo o tempo que o personagem necessita, para recuperar-se e voltar a relacionar-se com o filho, com a mãe e ser capaz de assumir um relacionamento com Ana.
"A oeste do fim do mundo" é emocionante, toca fundo no espectador. Não perca, acompanhe o processo de transformação e superação dos personagens. E concorde comigo, Ana é belíssima, até quando corta o cabelo de qualquer jeito.
Acho que vi sim um lugar tão solitário quanto esse quando era muito criança...


domingo, 10 de agosto de 2014

O Mercado de Notícias

Sendo  filme de Jorge Furtado, todo brasileiro ou estrangeiro deveria conferir. Depois de assistir à Ilha das Flores, O Homem que Copiava, Saneamento Básico e Meu Tio Matou um Cara, o espectador sabe que se trata de um diretor absolutamente genial. Desta vez, o tema é o jornalismo. Talvez interesse mais aos jornalistas, porém não custa nada aprender um pouco com o diretor.
Fui ao cinema às 14,00 h. Sala vazia, mas como? De repente, entra o pai do Thiago Prade, o jovem ator do filme, o crespo. Fiquei sabendo porque ele falava muito alto! Na saída, lhe dei os parabéns, me emocionei imaginando que entre os presentes que os pais receberam no dia de hoje, poucos foram tão bonitos quanto o de Thiago para seu pai.
O documentário alterna depoimentos de "estrelas" do jornalismo e a apresentação de uma peça de teatro "The Staple of news", de 1625. Ben Jonson , o autor é perspicaz ao mostrar como as notícias são criadas e manipuladas. Foi um dos autores mais cultos dos seiscentos, na Inglaterra. Enfim, a peça de teatro poderia ter sido criada quem sabe em 2014? porque não? 
Treze jornalistas participam do filme, todos conhecidos na mídia. Entre eles, Luis Nassyf, Mino Carta, José Roberto Toledo, Jânio de Freitas, Paulo Moreira Leite, Renata Lo Prete, Geneton Moraes Neto, Cristiana Lôbo, Bob Fernandes e outros.
O rosto de Mino Carta é de uma pessoa extremamente simpática, cativante. Faz-me lembrar alguém que conheci... uma fisionomia familiar. Mas como? Deve ser a famosa ilusão do já visto da minha professora de filosofia Dulce da Fonte Abreu, no Colégio Nossa Senhora do Horto, em Dom Pedrito. 
Entre tantos depoimentos, os jornalistas frisam: exercer o jornalismo não exclui uma  expectativa política e interesses econômicos. Não existe o jornalista neutro e é ingenuidade pensar que jornais seriam vendidos devido à honestidade e capacidade destes profissionais. Eles são menores frente à publicidade.  Quem vende - dizem os entrevistados - é a publicidade. É mais ou menos o que acontece no ensino privado, os alunos são clientes.
E os jornalistas reforçam: todo mundo mente! Cada jornalista deve saber que suas "fontes" não devem se transformar em pessoas amigas. Não são seus amigos!
Quando Cristiana Lôbo fez o seu depoimento, fiquei surpresa. Com certeza, tão perto do poder, deve ter uma relação muito delicada com suas fontes. Lembrei o que aconteceu com a jornalista Miriam Leitão, que teve seu perfil, na Wikipédia, alterado por um computador do Palácio do Planalto.  Imagine que tema polêmico para figurar no filme de Furtado!
O mais divertido foram os episódios da bolinha de papel na testa do candidato Serra, que se transformou em "atentado" e o quadro de "Picasso", que passou a valorizar a sede do INSS. Acredite, pagaram pela famosa obra de Picasso que está no museu Guggenheim! 
O ruim quando tem pouca gente no cinema é que na hora de rir, os outros não riem! Não aguentei, ri muito da falta de cultura dos coitados jornalistas que acreditaram ser um verdadeiro Picasso! Por  uma destas é que penso, para ser jornalista é preciso ter muita, muita cultura geral ou pelo menos procurar se informar quando não sabe, como sugeriu o jornalista do documentário. 
Não perca, descanse antes de assistir este filme. Você necessitará de toda atenção!


quarta-feira, 30 de julho de 2014

O Planeta dos Macacos: O Confronto

La planète de Singes é um romance de ficção científica, publicado em 1963 pelo escritor francês Pierre Boulle. O Planeta dos Macacos: o Confronto é a sequência de Planeta dos  Macacos, a Origem. Dez anos depois, em 2016, a terra é devastada pela febre símia, em virtude de experimentos contra o Alzheimer. Vacinas teriam sido testadas em macacos,  que tornaram-se violentos, fugindo do cativeiro. O vírus ALZ-113 espalhou-se pela face da terra e os símios refugiaram-se na floresta de Muir Woods.
Surge uma sociedade de macacos, liderados pela força interior e o magnetismo de Caesar.  Como o próprio nome indica, Caesar significa estar investido de força e poder, remete ao título que os onze primeiros imperadores romanos receberam.  
Matt Reeves, o diretor,  talvez não tenha pensado, porém  considerando  que cada   obra se separa do autor para livre interpretação, ouso dizer que o mais interessante  em seu filme é o olhar de Caesar. Não por acaso, o filme começa e termina no olhar do personagem.
Serkis, o intérprete de Caesar, é famoso por entrar na ''performance capture'', onde inúmeros sensores são espalhados por seu corpo, registrando  seus movimentos e por que não, suas  emoções? Talvez o olhar penetrante não seja o de Andy Serkis, mas tem muito dele. 
O personagem, inspirado no chimpanzé Oliver, tem uma história emocionante. O primeiro viveu nos anos 70, bípede,  só queria conviver com seres humanos.
O nosso Caesar é igual, foi criado como filho por Will Rodman (James Franco, adoro James Franco!) e aprendeu a linguagem de sinais. Foi trancafiado com outros símios por ter atacado um vizinho, tentando defender o pai de Will. Este é o início do drama no primeiro filme.
Agora, o que sobrou da humanidade é um grupo de pessoas resistente ao vírus, mas que precisa recuperar coisas básicas da civilização, como o abastecimento de eletricidade.
Dreyfus (Gary Oldman) lidera o grupo, é um humano insensível que vê em Caesar apenas um animal.  Malcolm (Jason Clarke )  e Ellie (Keri Russell) são diferentes, conseguem entender que o grupo de Caesar é muito mais que isso. Dotados de inteligência superior, são mais que simples animais.
Após a descoberta dos macacos, o confronto se enrola em torno da busca pela usina hidrelétrica que precisa ser restaurada para fornecer eletricidade. 
O caráter de Caesar se expressa em seus desejos e preocupações: "Home, family and future". Aliás o tema e as três palavras, são quase uma chave para a felicidade, quem conquistá-los terá capturado a Fortuna. Vocês lembram-se do ET, de Spielberg? Ele chorava, apontava para o espaço infinito e pronunciava "home"!  
Como não poderia deixar de ser, o filme possui as suas cenas emocionantes, que envolvem "mother, father, family", preste atenção:
Uma delas mostra a integridade e amizade selada entre o homem e o macaco. A figura de Caesar, como líder é valorizada. Filmado de baixo para cima, significa a dignidade e o poder. E  o olhar! Ha, a melodia do olhar é a mesma dos filmes de antigamente, de John Ford, quem sabe? Alguém notou que o olhar de Caesar é o mesmo dos mocinhos de bang- bang? Como o olhar de Gregory Peck, do homem honesto, sábio e acima de qualquer suspeitas? Caesar aperta a mão de Malcolm afirmando o compromisso entre os dois para salvar a humanidade. O movimento das mãos, dos braços e da cabeça, quando volta-se para trás valoriza a sua figura.
Outra cena cativante é o momento em que o macaquinho, filho caçula de Caesar salta para o colo de Ellie. De rasgar o coração, é a outra cena em que Caesar descobre a filmadora e, em uma homenagem ao cinema, vemos  a cena de Will ensinando Caesar a linguagem de sinais.
Finalmente, a cena clássica do cinema, quando o mocinho ou o bandido ficam pendurados no abismo. Desta vez, Caesar compreende, que de nada valeu seu mandamento de que "Macaco não Mata Macaco", como verdadeiro juiz, não poupa Koba de seu destino final. 
O próprio líder reconhece seus erros e afirma que somos responsáveis por nossas escolhas! E me digam, se este filme não é lindo?  E tem tudo a ver conosco e com nossa civilização! 
Cuidem, os olhares de Malcolm e Caesar disputam, celebram e cantam a verdadeira melodia do olhar, até a cor dos olhos é semelhante. Mas força, tenacidade e liderança verdadeiros, encontramos na primeira e na última cena: os dois enormes olhos esverdeados de Caesar.




terça-feira, 29 de julho de 2014

Una Pistola en Cada Mano

"Una Pistola en cada Mano" relata cinco episódios de histórias masculinas. Eles se encontram, conversam e falam de tudo aquilo que mais atrai a curiosidade feminina. Mas aí é que está, não revelam tudo, se olham, se medem, fazem perguntas - um para o outro - de quem não suporta mais a curiosidade. Tentam esconder limites, fraquezas e carências. No primeiro, dois homens se encontram, se reconhecem e se abraçam. Um deles, emocionado, chora, mas porque chora?
As mulheres são firmes, bem resolvidas, como a ex do segundo episódio, que ouve o ex-marido, como alguém a quem se está fazendo um grande favor. Ele por sua vez, representa o papel do coitadinho. Não sabendo o que fazer da vida, quando tudo dá errado, tenta voltar. Coloca-se à disposição, nem que seja para lembra-la da hora do remédio. 
O diretor espanhol não cria grandes expectativas, de falas dramáticas e contundentes. Tudo flui naturalmente.
Ricardo Darin, como o marido traído, está muito bom, representa "o cornudo", como o próprio se intitula! É tão convincente que parece que estamos conversando com ele. Sentado num banco de praça, olha para a janela do prédio onde sua mulher se encontra com o amante. Patético. Mais ainda quando afirma que vai telefonar para ele, quer esclarecer as razões pelas quais ela não deve abandoná-lo: por consideração! Mais simplório, só a Vanda de Abismo de Um Sonho!
Como as coisas sempre podem piorar, percebe tardiamente, aquele homem na sua frente, que conversa com ele e corre com o cachorro Ako, é quem vai atender ao celular!
Os quiprocós se sucedem. O diretor não tem pena dos pobres homens, como aquele que ganha carona da mulher dele, que conta tudo de seu desempenho sexual! Deus! O que os dois poderão fazer quando se encontrarem?

Grande Hotel Budapeste

Grande Hotel Budapeste é um belo filme, diferente de tudo o que tenho visto nos últimos tempos.  É necessário ficar atento à três coisas:
Primeiro, à história do mordomo e de seu Concierge. Segundo à técnica e à forma inusitada com que o diretor realiza a sua filmagem. Terceiro, tente reconhecer todos os atores, a lista  é enorme.
O que fica na memória é a foto de cartão postal do Grande Hotel Budapeste. A história se passa na República de Zubrowka, embora as filmagens tenham se passado na Alemanha.
O autor (Tony Wilkinson) conta a história do Mordomo e de seu Concierge, o Zero Moustafa, interpretados por Ralph Fiennes e Tony Revolori.
De início, o espectador  é surpreendido pelo décor do Grande hotel. Tudo lembra um livro de contos de fadas, com cores em tons pastel. Wes Anderson, elabora seu filme, nos permitindo uma descoberta dentro da outra. Assim, quando o Mordomo chama o seu subalterno para saber se Zero foi selecionado corretamente. O homem surge, no centro da fachada cor de rosa, e nos permite entrar no hotel - através da janela -, onde os ambientes se descortinam, um atrás do outro.
Tudo acontece como se fosse uma história escrita, na qual cada frase tem início com uma composição simétrica, com o ponto de interesse em primeiro plano e os pontos de fuga  sumindo no horizonte. A câmera parada permite cenas que são verdadeiras obras de arte. Difícil seria enumerar cada uma delas. Toda vez que entram no elevador, por exemplo, o fundo é vermelho, e os personagens posam para a câmera, como o fariam para uma foto antiga!
O Mordomo é descrito como alguém cujo tempo já tinha se perdido, mas que conseguiu aproveitar esse tempo que não era seu, com o máximo de charme. Ele era fútil, vaidoso, superficial, educado, embora pronunciasse muitos palavrões, enfim era alguém que dedicava sua vida inteira ao Grande Hotel Budapeste.
A forma como os personagens se movimentam dentro do filme é genial. Como bonequinhos de brincadeira, os serviçais, servem à mesa, caminham rápido, em fila, correm. Nas  cenas de movimento, os bonequinho correm, passam no sentido horizontal de um lado para outro na tela. Tudo é muito divertido. Quando carregam a escada para auxiliar o Mordomo a fugir da prisão, esta passa na horizontal dividindo o quadro em duas partes. Na cena seguinte, a escada é colocada no sentido vertical e assim por diante, todas as cenas parecem ensaiadas como se fossem mil e uma cenas de uma peça de teatro.
A relação entre o Mordomo e seu Concierge, à parte a relação entre chefe e subalterno, transforma-se em amizade e companheirismo.
 Quando o autor começa a contar sua história, divaga, falando sobre o escritor, afirmando que o verdadeiro contador de histórias, sempre terá uma nova para contar se souber observar e ouvir com atenção as pessoas. Mais um detalhe interessante, da mesma forma que o narrador de Ettore Sccola, o autor participa do filme, quando começa a contar a história do Grande Hotel, em 1932. Agora o jovem autor é Jude Law.
Enfim entre as peripécias do Mordomo, está a de atender as mulheres que se hospedam no hotel com a maior dedicação. Muitas senhoras idosas não dispensam seus serviços, literalmente, de cama e mesa. Entre elas,  está Madame Céline Villeneuve - a Madame D"- Desgoffe und Taxis.
O mau pressentimento de Madame se concretizou, morreu. Não sem antes nomear o Mordomo como proprietário da famosa obra de arte O menino com a Maça. E o enredo vai se amarrando quando finalmente surge um segundo testamento, que altera o primeiro, caso Madame fosse vítima de homicídio!
E por aí vai esta adorável história do Hotel Budapeste, e não esqueça, preste atenção no vilão Jopling ( William Defoe), com presas horríveis e um mau caráter, tão mau que compará-lo a um cachorro buldogue seria uma ofensa ao pobre animal!
Finalmente, como não poderia deixar de ser, o Mordomo tem seu grande momento de heroísmo e glória, defendo causas justas numa guerra suja! Não perca, assista uma, duas ou quem sabe três vezes, você vai se surpreender com as descobertas!

segunda-feira, 30 de junho de 2014

O Homem Duplicado

O filme baseado na obra de Saramago é um drama insolúvel. Tudo é muito pesado e cansativo. Jake Gyllenhall vive seu outro lado igual. Descobre por acaso que existe uma outra pessoa igual a ele! Nenhum dos dois percebe um mínimo de diferença entre um e outro. Mas a mãe de Adam, um pacato professor de história, sabe que em alguma coisa os dois devem ser diferentes. A filha de Ingrid Bergman tinha toda a razão. A diferença era o mirtilo, um gostava da fruta, o outro não. O problema é que nunca descobriram!
Assim, a versão no espelho de um e de outro era a mesma! Se estranharam, ficaram perturbados. O drama se instala até o momento em que a curiosidade de um em relação à vida do outro é maior. E a versão 1 (um) se intromete na vida da versão 2 (dois). Misturam vidas, personagens e mulheres.  Até que  a mulher de Adam, a belíssima Mélanie Laurent (Bastardos   Inglórios) nota a diferença na marca de sol, na aliança , no dedo do marido que não é o seu!
E a crise se instala.  O som da música é dramático, o filme é fechado, escuro, em tons de marron. As batidas do som marcam tudo de ruim que ainda está por acontecer. E se uma tragédia acontece e uma das cópias morre, justo quando finge ser o outro?
Como provar que quem está vivo é a versão 1 ou 2?
Imagine você, se nomes iguais já assustam, que tal encontrar um clone de você mesmo? Como diz o Merten: "O mais assustador é que nossos piores medos podem se concretizar"...  

Um Plano Brilhante ( Lover Punch)

Emma Thompson é adorável. Nas comédias românticas sem maiores ambições então! Nos faz rir, com sua graça e naturalidade.
Com certeza, Emma é das atrizes que não se preocupa em esconder rugas e se diverte assumindo o tempo que passa!
Contracena com Pierce Brosnan, os dois  formam um simpático casal que perde até a aposentadoria por culpa de um mau negócio envolvendo a firma onde trabalham.
Assim, tem início a aventura do casal divorciado, buscando reverter o grande prejuízo. O clima de paquera entre o casal é o mais divertido. Richard e Kate - emboram não admitam- estão em busca do tempo perdido. E para terminar com a situação de miséria em que se encontram, bolam o plano perfeito para roubar um diamente pertencente à noiva do empresário que os arruinou.
As piadas prontas se sucedem, ele pedindo para ela que  faça uma massagem no coxis- não consegue  caminhar-  enquanto pergunta: " como estão os joanetes?"
Finalmente, como nossa "heroína" não é nenhuma "bandida ", assim, sem querer faz amizade com a pessoa a quem deveria roubar. Conta a verdade e ganha uma nova aliada. E o óbvio acontece, tudo termina bem! Todos os envolvidos conferem o saldo de suas contas bancárias, aleluia! Quem me dera!  

domingo, 1 de junho de 2014

Malévola

Malévola é um filme para quem gosta de contos de fadas, para as eternas crianças que ganharam de suas mães, aqueles enormes livros coloridos com os contos dos Irmãos Grimm,  Perrault ou as Fábulas de Esopo. Angelina Jolie está absolutamente linda, magra, é verdade!
A história é baseada na Bela Adormecida dos Irmãos Grimm. Malévola (Angelina Jolie) é uma fada com asas, protetora do Reino dos Moors. Stefan, herdeiro do trono no reino vizinho, inicia um namoro com a jovem. Tudo dá errado, quando vence a ambição. Stefan dá um poderoso veneno para Malévola adormecer, corta-lhe as asas e abre caminho tornar-se o líder do reino. A belíssima sofre  e jura vingança: a filha do rei, aos dezesseis anos furaria o dedo em uma roca de fiar e adormeceria para sempre! Somente o amor verdadeiro, o beijo do príncipe  encantado poderia trazê-la de volta à vida!
O problema é que naquela época, pelo menos, ninguém acreditava na existência do verdadeiro amor! Pelo visto os Irmãos Grimm, pelo menos, acreditavam!
E tem mais, o filme é sob medida para mães de coração. Notaram que a mãe da Bela Adormecida sequer aparece? É vista em uma única cena antes da menina nascer. Assim, a emoção vai tomando conta de Malévola e das mães, na platéia. 
As mais remotas lembranças de Aurora, a Bela Adormecida (Elle Fanning), incluem Malévola. A própria princesinha diz que a sombra de sua fada madrinha sempre esteve perto dela. E tudo começa quando a menina rechonchuda percebe a presença de Malévola à espreita, lhe dá um abraço que só criança sabe dar, e pede colo! Ninguém poderia resistir... Naquele instante, Malévola é picada pelo amor materno, sem saber se transforma de verdade em madrinha e mãe da Bela Adormecida.
O filme de Robert Stromberg mostra essa versão diferente e mais interessante do que a clássica  caracterização da Bela Adormecida, com personagens entre o bem e o mal. Na Malévola atual, ninguém é absolutamente mau ou inteiramente bom e perfeito. Angelina Jolie, a malvada,  é a própria contradição! Entendemos  suas razões e compreendemos seu sofrimento. 
Quase tudo é genial! Com excessão do lobo de computador - um fracasso! - o filme, tem belos efeitos cenográficos. Para nosso deleite, possui todo tipo de personagens de contos de fadas, fadinhas atrapalhadas, soldados fracos e ignorantes, rei mau e ambicioso, muita luta e muitos efeitos digitais. No final, surge um dragão que cospe fogo, apagando os inimigos! 
Gostei da forma como foi resolvida a questão de acordar a Bela Adormecida, sem alterar demais a história. Tanto Malévola como Diaval, o fiel servo, reconhecem que o beijo do príncipe  é a única chance de Aurora.
E o destino se cumpre, do nada, surge o belo mancebo - o que menos convenceu a platéia diga-se - com seu beijo puro, de amor, traz Aurora de volta à vida! Ou seria o amor verdadeiro de Malévola que faz  a jovem acordar de seu sono profundo? 
Para finalizar, a fada madrinha dá um show com suas belíssimas asas, recuperadas graças à ajuda da princesinha. Prestem atenção ao som do bater das asas e à forma como ela toca no chão com a elegância de uma ave de rapina! 
Esta história deve ter me marcado tanto, que sempre que vejo alguém com os cabelos absolutamente lindos, digo que a pessoa tem os cabelos da Bela Adormecida! 

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Sete Caixas

O filme é paraguaio! Você já ouviu falar em filme paraguaio? Tudo é muito familiar, faz lembrar o mercado de Puno ou barro em Dom Pedrito. Com certeza a sensação de "déja vu" remete à pobreza que vi uma vida inteira. 
Victor (Celso Franco) é o menino que trabalha como carregador no mercado. É o personagem principal , difere do resto até porque sonha! 
Poderia ser a própria personificação do diretor, em seu amor pelo cinema. O menino sonha em filmar e ser filmado! Deseja participar de um outro mundo, o mundo do outro lado da telinha da TV, tão oposto ao seu. Nada melhor que um celular com câmera para realizar esse sonho. Para isso, Victor precisa trabalhar muito. Topa qualquer parada e aceita a metade de uma nota de 100 dólares para receber a outra, quando entregar uma "mercadoria delicada", distribuída em Sete Caixas.
Juan Carlos Maneglia e Tana Schémbori falam de uma outra estética, de uma estética da pobreza, de pés quase descalços, de pastéis de feira engolidos e mastigados com a boca aberta, fala de dentes tortos, escuros e fora do lugar, de óculos de grossos aros, com certeza, comprados sem receita médica;  fala de pobreza e opressão. Fala de mulheres em sub-emprego, aliciadas por estrangeiros, cuja fala não compreendem. Fala de negociação sexual entre mulheres e policiais, fala de crime, muita ignorância  e podridão.
Mas Juan Carlos e Tana fazem da tragédia uma comédia, e as aventuras de Victor passam a ter um toque de Pedro Malasartes. Os quiprocós se sucedem, ninguém segura o riso quando os chefões do crime, uns coitados subdesenvolvidos, trocam os códigos, "tomate" por "alface" e cometem as maiores barbaridades!
Victor como um anjo e sua candidata à namorada , a esperta Liz (Lali González)- verdadeiros heróis - passam pelo inferno e purgatório. Mas estamos seguros, com os heróis nenhum mal acontecerá. Como Ulisses poderão voltar ilesos para casa!
"Dale"Paraguai, tão mal amado, tão pobre e submisso aos doutores "Montenegros" de "Yo El Supremo"de Augusto Roa Bastos. Mas guarde,  Juan Carlos Maneglia e Tana Schémbori, esbanjando criatividade  foram capazes de sacudir a mesmidade que circula por aí! Não perca!

Alabama Monroe


O tema de Alabama Monroe é a dor e o sofrimento. Felix Van Groeningen, o diretor, marca os tempos com perfeição. O resultado é um filme diferente, embora os temas da perda e da dor pungente sejam recorrentes no cinema. Alice (Veerle Baetens) e Didier ( Johan Heldenbergh) se conhecem e se apaixonam. Ela é tatuadora, ele cantor folk. Desta forma, os temas do amor e da paixão são marcados com ardor! O casal literalmente pega fogo. Depois vem a paixão do cantor pela música e seu gosto por grandes compositores. Além de compor e cantar, Didier demonstra profundo conhecimento musical. 

Van Groeningen marca os momentos de felicidade com a banda tocando as mais belas canções. A seguir, vem o tempo da família. Maybelle, a graciosa menina vem aumentar a felicidade do casal. E, quando a doença se instala e toma conta da criança, não existe equilíbrio capaz de suportar tamanha dor.
Quando o casal entra em crise, surgem críticas e físsuras que se aprofundam, enormes como as de San Andreas.    Um destino trágico se cumpre, o inevitável acontece, e marido e mulher se devoram. Felix Van Groeningen fala dessa dor e desse sofrimento. Mostra as tentativas que as pessoas fazem para sobreviver, como por exemplo, acreditar que o ser amado, morto, poderá voltar sob a forma de um passarinho. Por que não? Em Alabama Monroe, o tempo da dor e do vazio, também é marcado pelas melancólicas canções da banda. Finalmente, o conflito entre o caráter sonhador da mulher e visão realista do homem destrói qualquer tentativa de superação da perda. 
Embora pesado e doloroso, Alabama Monroe é um belo filme. Não deixe de assistir!

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Refém da Paixão


Refém da Paixão à primeira vista parece daqueles filmes eróticos, de histórias de mulheres reprimidas que terminam transgredindo - e muito - vítimas de paixões avassaladoras. Até que o filme tem um pouquinho disso tudo, mas lá pelas tantas, quando o espectador começa a imaginar possíveis desfechos, parece que a história perde o ritmo. 
Refém da Paixão fala da mulher através da visão do filho. A personagem Adele interpretada por Kate Winslet reflete sobre sua condição feminina. Acredita que as pessoas discorrem sobre sentimentos e valores como honestidade, coragem e perseverança, mas ninguém diz nada a respeito da necessidade que uma mulher sente de ser tocada, desejada, amada. Adele vive a grande solidão com o filho adolescente. Insegura e depressiva se movimenta nos limites do stress.
A dedicação do adolescente à mãe emociona. No entanto, ele sabe que não pode substituir as carências afetivas e sexuais de sua mãe. Eis que surge a figura masculina que promoverá a grande transgressão. Despertará em Adele os sentimentos mais contraditórios. 
Em uma espécie de Síndrome de Estocolmo, mãe e filho se envolvem com o fugitivo Frank ( Josh Brolin) que por cinco dias se transforma em amante, pai e marido. Diante da lei, ajudar um suposto criminoso, perseguido pela justiça é crime, que poderia ser penalizado com a perda da guarda do filho. 
A cena clássica de erotismo que já vimos em Ghost, do outro lado da vida, com Patrick Swayze e Demi Moore: Josh ensina mãe e filho a fazer uma torta de pêssegos, com muita classe, açúcar e erotismo. Os cinco dias marcarão para sempre as vidas dos personagens e contribuirão decisivamente para o amadurecimento do menino. 
Embora o inconveniente da presença de três atores para o papel de Henry, é óbvio que Gattlin Griffith é o melhor. Refém da Paixão é um belo filme que apesar das afinidades com Bonnie and Clyde, possui um final conformista? Ou otimista? Confira.

Júlio Sumiu


Júlio Sumiu é uma comédia leve e debochada cujo personagem central é a mãe, Edna, interpretada por Lilia Cabral, em torno de quem giram marido , filhos, a equipe da delegacia e até Tião, o chefão do tráfico na favela. 

A confusão tem início quando Júlio, um dos filhos, some. A mãe não consegue mais dormir. Vai parar na favela, recebe um telefonema avisando que se não pagar o mundo virá abaixo. Feita a confusão entre os dois filhos, fica no meio do tiroteio, tentando negociar com  Tião Demônio. Os personagens são divertidos. Tudo é puro estereótipo, não importa. A equipe da delegacia é de morte! O delegado (Augusto Madeira ) está engraçadíssimo, tendo que apelar para o Viagra para conseguir enfrentar a Poderosa Carolina Dieckmann. Como o diretor reza pela antiga fórmula que polícia e bandido é a mesma coisa, Stephan Nercessian, o delegado Barriga, não foge à regra. Está um verdadeiro bagaço. Virou um lixo. Nada faz lembrar o belo garotinho do início da carreira. Não precisou muito esforço para encarnar o outro delegado corrupto. 
Roberto Berliner, o diretor, debocha do que sobrou das forças armadas. O pai, capitão aposentado e Júlio, o filho sumido, em típica nostalgia dos tempos da ditadura, ainda acreditam em treinamento militar nas Agulhas Negras! Para infelicidade de ambos, o apartamento vira uma Boca Livre!
É assim, as gags são a curtição e o divertimento! E as meninas ainda por cima poderão conferir a beleza do filho de Fábio Júnior. Nada como fazer fui- fui para o Fiuk!