quarta-feira, 4 de março de 2009

MAUS HÁBITOS

Matilde (Ximena Ayala) é uma jovem freira que acredita no poder da fé. Secretamente, ela inicia um jejum místico para impedir uma inundação que ela acredita estar por vir. Elena (Elena de Haro) é uma mulher linda e magra que tem vergonha do peso de sua filha, Linda (Elisa Vicedo), e pretende fazer de tudo para que ela esteja em forma no dia de sua Primeira Comunhão. A menina, por sua vez, está disposta a se defender até a morte para escapar do orgulho da mãe. Gustavo (Marco Antonio Treviño), o pai de Linda, redescobre o amor nos braços de uma estudante (Milagros Vidal) cujo apelido é Gordinha. Os personagens do longa tem suas vidas unidas não somente pelos laços familiares, mas, principalmente, pelos disturbios alimentares.

Acho que o filme trata dos problemas psicológicos que as pessoas têm com a comida e o aspecto sexual que está representado no ato de comer. O filme trata dos exageros das pessoas que “sucumbem” ao desejo libidinoso de comer, aos excessos com a comida.

No filme, crianças e adultos têm uma relação problemática com a comida. A menina gorda só era um pouco gorda, nada problemático como dizia o médico, mas sua mãe doidona percebia a filha como uma pequena baleia, que no futuro se transformaria na grande orca, com toneladas de gordura. No caso, o problema maior era da mãe que projetava seus desejos de magreza e assepsia, sobre a pobre filha gordinha. Por isso a menininha precisava esconder suas guloseimas no inocente macaquinho de brinquedo e comer às escondidas ou em parceria com o infeliz menino gordinho com quem dividia sua infelicidade.

A menina terminou odiando tanto aquelas cenas de humilhação que queria matar a louca da mãe. Esta, magra e musculosa só queria ficar magra, não comia e torturava a filha. Que nem o Paulito do livro que muitos de nós lemos quando criança: “O Paulito era gordo e bonito, um dia disse não quero sopa , não quero, começou o lero- lero. O Paulito que era gordo e bonito deixou de comer, definhou, murchou morreu. E sobre a lápide do Paulito tinha um prato de sopa com uma colher”. Bem, no filme, a mãe também morreu por não comer, mas não sem antes incutir na filha o sentimento de culpa. Pois esta pensava que tinha matado a mãe com veneno. Eram as gotas inócuas que o médico tinha receitado e que ela pensava que poderiam matar a mãe.

Todos se escondiam para comer “sem ninguém ver”, como se comer daquele jeito fosse pecado. E tinha tudo a ver com o sentimento de culpa imposto aos mexicanos e a nós pela igreja católica. Até as freiras meio carmelitas escondiam seus ‘maus hábitos’. Uma delas roubava comida e comia como quem faz sexo e quem sabe quase tinha um orgasmo.

Ninguém era mais ou menos normal, todos exageravam. A freira que queria fazer um milagre se flagelava, não comendo ou comendo lixo, que nem cachorro, procurava as latas de lixo; como sempre, às escondidas, comia para que seus bons desejos se concretizassem, como num passe de mágica.

E o que dizer da luxúria? Se o que eu entendo por luxúria é o que o pai da menina e a estudante faziam, então eu sei o que é luxúria; que eu só via em textos de Bíblia e religião. É considerada pecado no sentido comum do termo né? Mas, enfim os dois faziam sexo e se comiam, mesmo (!!!), com muita geléia e merengue. Uma loucura !!! Tudo começou com aquele jeito erótico da moça, de comer e lamber os dedos. Bom lamber os dedos, enfiando os dedos vagarosamente na boca, de forma lânguida e olhar libidinoso, toda melosa para o cara. É uma fórmula empregada pelo cinema para mostrar uma mulher deixando um homem louco de desejo. Isso é cartilha no cinema todo mundo sabe. Mas o efeito sobre a platéia é devastador, é um deus nos acuda !!!

Mas será que esse casal tinha razão? Foram os únicos que liberaram seus desejos e será que foram felizes? Como se diz, botaram para quebrar nas suas relações com a comida e ficaram satisfeitos!

Como que para mostrar o término de um ritual pagão e pecaminoso, as pessoas escovavam os dentes procurando deixá-los bem limpinhos, mas é claro que isso não adiantava nada. A podridão permanecia e os atos da comilança se repetiam.
Um aspecto interessante do filme e que o diretor tenta mostrar é que tudo estava desarranjado na cidade. Toda a chuva que caía, tudo inundado, os encanamentos entupidos, tudo tinha problemas decorrentes dos maus hábitos das pessoas. A freira na sua imaginação (ou não) caminhava ou desejava caminhar sobre as águas. Que nem Cristo, pairava sobre as águas imundas, para não se contaminar. Tudo virou um mar de água contaminada, contendo todo o lixo de uma cidade perdida em seus pecados.

Mas enfim qual de nós nunca sucumbiu aos desejos pela comida? É mais fácil do que o sexo verdadeiro. Quem nunca comeu demais atire a primeira pedra. E nem falo em comer escondido, veja só!

Ontem quando fui fazer um lanche, encontrei uma pessoa muito gorda, se lambendo e mordendo com prazer uma tigela de massa folhada e gordurosa, recheada com creme bege e de chocolate. Ela parecia infeliz... por isso precisava comer, quem sabe? Pensei no filme do diretor mexicano, o Sr. Simón Bross. Pior, ela poderia ser personagem do filme.

Mas enfim sei que não é só ela... se pensarmos assim, todos somos pecadores, eu e o resto da humanidade. Só que uns se escondem mais do que os outros.

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