quarta-feira, 11 de março de 2009

OPERAÇÃO VALQUÍRIA

O filme Operação Valquíria é muito bom. É um cinema-espetáculo, onde o diretor Bryan Singer, um jovem de 34 anos, mostra o drama dos personagens, e se atém aos fatos históricos.

“Em 20 de julho de 1944, o Coronel Claus Schenk Graf von Stauffenberg perpetrou um atentado contra Hitler, em nome do movimento de resistência, do qual faziam parte vários oficiais. Hitler saiu apenas levemente ferido da explosão de uma bomba em seu quartel-general na Prússia Oriental: a Toca do Lobo. A represália não se fez esperar: mais de quatro mil pessoas, membros e simpatizantes da resistência, foram executadas nos meses seguintes.”

Tom Cruise representando o Coronel Claus Graf Schenk von Stauffenberg é belíssimo, e ficou mais charmoso ainda, com o tapa olho no lado esquerdo.

O mesmo aconteceu com a Lista de Schindler, onde o herói, Liam Neeson - o bom nazista, que salvou milhares de judeus - também é idealizado por Spielberg. O ator nunca mais conseguiu ficar tão sexy e bonito.

O cinema cria deuses alemães: belos, altos e elegantes em seus uniformes; mas nazistas. Isso sempre me faz pensar, que para criar o herói, o cinema percorre o caminho inverso. A representação de alguém, que mesmo sendo o herói, participava do regime nazista, não deveria aproximar-se da beleza de um deus grego, de um Apolo, dono de uma beleza desmedida. É muito contraditório.

Afinal, os verdadeiros personagens nunca foram tão lindos com certeza! Enfim, faz parte do espetáculo e não há como não suspirar diante da elegância de Schindler, no cinema, nem da beleza grega, do verdadeiro Apolo Stauffenberg, de Cruise. Azar para a sua cientologia que nunca lhe rendeu boa fama. Agora ele é o herói com H maiúsculo. Enfim, Stauffenberg não poderia mesmo ser representado por Dustin Hoffman? era bem mais alto? Ou o aspecto físico de Hoffman era por demais o de um homem comum? Embora ele tenha sido genial em O Pequeno Grande Homem?

A cor do filme, com tons fortes e escurecidos para parecer de sessenta e quatro anos atrás é muito bonita. Misturada às cores dos uniformes nazistas (dignos do corte de um costureiro) resultaram em um filme belíssimo.

A denúncia do nazismo não esconde uma certa fascinação pelo mito da eugenia da raça alemã? Formada por homens altos, louros e de olhos azuis? Nazistas, arianos e racistas? Como deuses loiros, como Lúcifer- o mais belo dos Arcanjos – estes seres teriam se revoltado contra Deus, orgulhosos de seu poder e se transformado no próprio mal? Tão lindos como Leni Riefenstahl os fez parecer? Mas tudo não era apenas propaganda intencionalmente nazista?

Enfim os heróis do filme mostraram ao mundo que não concordavam com a barbárie nazista, com a eugenia racista, com a exigência de pedigree para as famílias, com a hereditariedade como guarda de poder, ou ainda com a bandeira da higiene racial. Foram essas teorias eugênicas, originárias do século XIX, que deram origem ao nazismo em todo o seu horror. Enfim eugenia, racismo, fascismo e nazismo são uma única palavra.

Cabe lembrar Peter Cohen, no final de “1900, Homo Sapiens” respondendo às teorias eugênicas: “Se atualmente o código genético pode ser gravado e mapeado, a capacidade do homem só pode ser julgada por suas realizações. E, para o talento do homem não há código decifrável”.

O documentário de Peter Cohen, Eugenics, 1900, Homo Sapiens é exemplar para explicar essas teorias que tiveram muito sucesso na Alemanha, Suíça e Rússia.

Havia outro nazista representado como um homem sexy e bonito, o Major Otto Ernst Remer (Thomas Kretschmann), o que recebia duas ordens contraditórias, uma para prender Goebbels e outra para prender Stauffenberg. O espectador sente a consciência do nazista, como um pêndulo, que tenta oscilar para o lado mais forte.

O restante dos oficiais nazistas que planejaram a Operação Valquíria são atores famosos e fora do circuito da beleza apolínea: Kenneth Branagan é o Gen. de Divisão Henning Trescow. O Gen. Friedrich Olbricht é representado por Bill Nighy, o gen. Friedrich Fromm, é o famoso ator Tom Wilkinson, que faz um general covarde e oportunista que se nega a cumprir os planos de deflagar a Operação Valquíria, resolvendo esperar para ver, para que lado penderia. O Cel. Albrecht Ritter Mertz von Quirnheim (Christian Berkel) está perfeito em seu papel. O Cel. Mertz teve participação importante no atentado de 20 de julho de 1944.

Embora tenhamos conhecimento da história, mesmo sabendo que o atentado de Stauffenberg não deu certo, o filme acelera o coração de qualquer um. Parece que não vamos aguentar os preparativos para que a bomba exploda. Os acontecimentos que fogem ao controle do que foi planejado, como afirmou o Gen. Beck (Terence Stamp) terminaram se confirmando. Como foi possível que a bolsa com a bomba tenha sumido no meio das outras? E terminou sendo devolvida para Stauffenberg, na segunda tentativa? Que amadores e desorganizados!!! E afinal? Stauffenberg foi muito ingênuo mesmo, não conseguia montar a bomba e desconhecia a sua tecnologia. Quando pensamos na evolução tecnológica atual, aquilo tudo nos parece risível. O próprio Stauffenberg não deixa de ser patético, afirmando que Hitler tinha morrido, quando sua bomba tinha matado somente quatro pessoas. Sinceramente só posso acreditar no “assim estava escrito”. Como Hitler pôde ter escapado de vinte atentados?

O plano fracassou por muitas razões, entre outras, a do General Fromm, que participara do golpe, mas temendo seu fracasso recuou, traindo seus companheiros e ordenando a prisão e execução de Stauffenberg, von Haeften, Olbricht e do General Albrecht von Mertz von Quirnheim, que foram levados para o jardim da sede do exército nas primeiras horas do dia 21 de julho de 1944, e executados.

No filme, a pureza e fidelidade do Lieutenent Werner von Haeften para com seu companheiro Stauffenberg é digna de nota. Na hora da execução ele coloca-se na frente de Stauffenberg, para receber o tiro de morte e proteger o amigo.

As palavras de Stauffenberg, no último telefonema para sua mulher resumem seu drama: "Se eu obtiver sucesso, eles vão me chamar de traidor da Alemanha. Se eu fracassar, estarei traindo a minha própria consciência."

P.S. Não esqueçam de prestar atenção para a doçura de Blondi, a cachorra pastor alemão, que Hitler mais amava e que envenenou antes de suicidar-se. E observe, a arquitetura do poder de Albert Speer, o arquiteto de Hitler.

Nenhum comentário:

Postar um comentário