domingo, 22 de março de 2009

GRAN TORINO

Gran Torino será o grande sucesso de 2009 em Porto Alegre. Clint Eastwood dirige e é o principal ator do filme, que trata da vida de um veterano da Guerra da Coréia, de 1952, que toma a seu encargo a tarefa de administrar a vida da vizinhança, em um bairro de Michigan. Walt Kowalski é um velho rabugento, que não esconde o racismo em relação a seus vizinhos humong. Ele não se entende com filhos e netos e muito menos com os humong, a quem chama de “china”.

Clint Eastwood se supera nesse filme, e se esperamos que ele se comporte, exatamente como o Dirty Harry, “Perseguidor Implacável”, policial que age acima da lei, nos frustamos. Eastwood em certos momentos até age como o detetive Harry Callahan, mas se arrepende amargamente.

Clint nos encanta mesmo, apesar de todas as suas rabugices. No início pensamos, mas que velho chato, nem com a neta ele se encanta? Os avôs quase sempre amam os netos. Mas pera aí, a neta era um horror, e fazia um favor em estar no enterro da avó. Alguém já viu isso por acaso? Então começamos a entender o coração de Walt, que amava apenas a sua cachorra Labrador, a velha Daisy, que estava sempre cansada e quietinha. Ele faz um único gesto de carinho com a mão, é para Daisy.

Os filhos queriam descartá-lo de cara, mas Kowalski ainda era um homem forte e teve que ouvir a proposta dos filhos para colocá-lo em um asilo. Ei! Essa proposta é familiar a algum de nós? Alguém já ouviu falar nisso? Descendo a rua onde moro existe um prédio cheio de senhoras, sozinhas, muitas não são tão idosas... Mas aceitam a triste situação.

Walt Kowalski expulsou os filhos no dia do seu aniversário. E pior, seu filho teve o desplante de comprar um carro japonês, logo o filho de Walt que tinha trabalhado na Ford, por mais de 50 anos! Ele mesmo montara a direção do Gran Torino que guardava na garagem, sempre limpo e lustroso, um primor de carro.

Walt nem se importava, rugia como um trovão para todos, para o padre que tentava levá-lo ao confessionário, para os filhos. Para a vizinha humong ele cuspia no chão, rugia e levantava um olhar de fúria que só o Clint possui. Era a forma de expressar seu preconceito e racismo, de dizer para ela que não aceitava os diferentes. A velha senhora não deixava por menos, considerava Walt um estranho, pois aquele bairro estava tomado por seus compatriotas. Ambos faziam o ritual do cuspe com ofensa, e um cuspe marrom, como se guardassem café na boca e esperassem a hora de um encontrar com o outro para se livrar do líquido. A platéia ri das loucuras dos dois.

Mas o riso vem fácil quando ele conhece a jovem Sue Lor (Ahney Her), irmã de Thau (Bee Vang), que o conquista, assim de cara, sem maior esforço, e ainda o chama de Wally. Ele se defende e fala, não me chame de Wally.

O drama se desenvolve em torno de Thao, a quem Walt chama de Torto, não quer acertar o nome do jovem. Óbvio, americanos “seres superiores” não irão se preocupar em aprender a língua do povo humong, mesmo que este tenha sido aliado dos Estados Unidos na Guerra da Coréia. Não por acaso, os americanos trocam o Brasil com a Bolívia. Para eles, Rio de Janeiro e La Paz é tudo a mesma coisa?

Thau é o jovem teenager que é perseguido pela gangue do bairro e precisa roubar o Gran Torino de Walt. Com o ódio que carrega dentro de si, boca entreaberta, olhar de fúria, dentes cerrados lá vai o nosso Dirty Harry, de espingarda na mão, indiferente se é para Thau ou para os jovens malfeitores que o ameaçam, coloca a todos na mira de sua espingarda. Enfrenta a todos. Medo é uma palavra que não existe na mente de Walt, não é isso que corrói a sua alma.

Se Walt é racista e expressa seu preconceito sem nenhuma censura, também é ele que se envolve emocionalmente com os irmãos Thau e Sue. E toma ao si a tarefa de transformar Thau em um homem.

É hilária a cena em que ele e seu barbeiro ensinam Thau a entrar num recinto e falar e se comunicar como um homem. É muito engraçado e pensamos que isso ninguém nos ensinou, a falar com as pessoas de forma convincente. Thau, com certeza era daqueles que quando ficam nervosos começam a pensar onde deverão colocar as mãos. E, quanto mais pensam nisso, pior fica.

A platéia não se contém quando Walt aborda o grupo de afro-descendentes encrenqueiros e grotescos, que molestam Sue e seu meio namorado: _ “O que os neguinhos aí pretendem?” Kowalski diz o que pensa, é politicamente incorreto. Mas, meio mundo anda por aí, colocando banca de politicamente correto, usando as palavras corretas, mas pensando e fazendo o contrário. O problema do racismo está na flor da pele. Porém é Walt Kowalski que se transforma no melhor exemplo para cada um de nós.

Walt se transforma, através de Sue e Thau, e encontra um sentido para a sua vida. Enfrenta a gangue e vira herói do bairro. Não quer aceitar os presentes que as vizinhas lhe trazem, em fila. Termina aceitando os gestos de carinho, as flores, os temperos e os pratos de comida. E pensa, meu Deus tenho mais em comum com estes “chinas“ do que com meus filhos

Descobre que os grandes problemas que lhe corroíam a alma não lhe pareceram tão grandes quando os revelou ao padre Janovich. Ele que pensava ter errado imensamente no passado e se recriminava, não com o que tinha sido obrigado a fazer, mas com o que efetivamente tinha feito; descobre finalmente, que seus pecados do passado não eram coisa maior. Familiar?

Walt precisa de um tempo para pensar, quando a grande reviravolta atinge, em cheio, seus amigos. Os novos acontecimentos irão modificar de vez a vida de todos e dar o verdadeiro sentido à vida Walt Kowalski.

Clint Eastwood é como o vinho, quanto mais velho melhor, apesar de não esquecermos nunca a figura do jovem Clint, o cowboy mercenário, mascando um cigarro, em “Por um punhado de dólares” ou “Três homens em conflito”( The good, the Bad, and the Ugly), olhando para o horizonte, com o pala mexicano e o revólver, bang! bang! bang!

Um comentário:

  1. Oi Doris,
    Tudo bem? Belo comentário do filme do Sheriff Clint. Ainda não vi mas, acho que vai perder um pouco a graça porque você não contou o final, mas, alguém já o fez...
    Abraço.
    CELDANI

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