quarta-feira, 11 de março de 2009

O LUTADOR

O filme O Lutador conta a história de Randy Carneiro Robin (Mickey Rourke ), um lutador, uma estrela solitária na fase final de sua vida. ”Randy” Carneiro é como ele gostava de ser chamado. O filme é surpreendente e deixa a platéia estupefata, pasma de surpresa. O espectador não sabe o que fazer diante de tanta violência, se continua olhando, ou se fecha os olhos um pouquinho, nem que seja, para aliviar a tensão.

O personagem de Randy é no mínimo engraçado. Com a grande cabeleira loira de salão, ele lembra um velho leão que precisa tornar-se um “retired”, mas isso é tudo em que ele não consegue acreditar.

Randy em uma interpretação magnífica de Mickey Rourke é o estereótipo do jogador, do lutador solitário, que um dia foi famoso, mas cuja vida de lutas, violência, abuso de drogas e medicamentos para aumentar a força e a massa muscular o levam a uma condição de miserabilidade profissional. Tudo isso termina por destruí-lo.

As estrelas solitárias dos ringues ou do futebol, como Mike Tyson, o grande Garrincha, todos eles passaram por isso. Mas, na verdade, o cinema emociona muito mais que a vida real. Assim, nos identificamos com Randy, sofremos com ele, nos emocionamos muito mais por ele, do que por Cassius Clay ou Tyson.

Mickey Rourke é o perfeito Randy, até por estar na vida real, tão decadente quanto o nosso herói. Depois de algumas plásticas parece que ficou pior do que se tivesse envelhecido ao natural. O rosto de Randy nos deixa fascinados pelo horror. E ele fica muito engraçado! Como quando esquece a cabeleira de leão e faz um coque comum, parece uma tia velha e gorda. Ou como quando se joga na cama, absolutamente exausto. Mas o lutador é de fato um brutamontes e não tem nada de feminino.

Randy depois de uma luta das mais sangrentas, no verdadeiro sentido da palavra sofre um infarto e é submetido a uma cirurgia de revascularização miocárdica. O grande lutador agora tem dificuldades para respirar, não sabe o que fazer com sua cicatriz durante o banho. Parece que em seu coração colocaram uma vara de bambu. Sua respiração vai até um ponto e pára, seu coração parece estar dentro de uma gaveta e fica alterado até quando se alimenta. Imagine só, o grande Randy é um safenado! que adjetivo pejorativo para os preconceituosos! Isso o coloca como alguém que não é mais, pertence às minorias e as coisas nunca mais serão as mesmas.

O próprio Randy fica consternado quando vê os ex-lutadores, freqüentadores da Legião Americana; vencidos e acabados, mancos ou portadores de muletas. Ele não quer acreditar que agora é um deles. E preciso muita humildade para aceitar essa situação. E ele absolutamente não sabe o que fazer. Além do que aquela solidão para Randy é algo absolutamente insuportável. E para nosso pavor ele reage bebendo muita tequila!!

Uma única e possível salvação é a filha, ninguém diga que ele não tentou. Tenta buscar o apoio da filha, mas ela também é tão problemática que não tem como apoiar o pai. E a ex-mulher de Randy, foi esquecida? O filme poderia chamar-se também: “Esqueceram da mãe”, que poderia dar apoio à filha na ausência do pai. Assim Randy, virado em um trapo tenta sobreviver na nova condição. As portas se fecham, até a prostituta (Marisa Tomei) com anseios de ser mãe o rechaça. E aqui, no fim da linha Randy Carneiro se joga e se perde para este mundo. Vai ao encontro de quem sempre o incentivou à barbárie, sua platéia de lutas, louca e alienada.

Aliás, a platéia não poderia ser mais primitiva e grotesca soltando todos os seus mais baixos sentimentos. Deixando o seu id à solta, e dê-lhe pauleira. Isso sim era a vida de Randy e por um minuto ele esqueceu que era um pobre safenado e pensou que era Deus!!!!



Um comentário:

  1. Doris, minha querida! Sou orgulhosa de ter uma amiga como você. Mais uma vez demonstrastes o quanto és sensível ao explorar este imenso universo de significação proposto pelo cinema. Nas palavras de Ana Claudia de Oliveira, semioticista [...] As imagens das coisas, dos objetos, das pessoas que ocupam o imenso terreno no qual circulamos incessantemente, constituem o nosso mundo visível e quiça ainda, muito invisível.
    Um grande beijo da amiga Marion Pozzi

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